Ocupe-se quem queira com os badalos
macroeconómicos do PIB, preocupe-se quem entenda com as quezílias da nomeação das
Procuradora Geral da República ou entretenha-se, nas franjas domésticas do
burgo, com o “Armas” cargueiro todo o ano. Hoje não vou por aí. Nem tão-pouco
me comovem os abraços norte-sul coreanos nem me abalam as bombas pneumáticas
que saem da bocarra ‘russa’ da Casa Branca.
Desde a última segunda-feira, ocupa-me
e preocupa-me, transcende-me e galvaniza-me o “tiro” que assinala a partida
para um Outono que traz consigo todo o
fulgor da Primavera. É do regresso às aulas que hoje escrevo, para completar a
emoção expressa em A Criança de Mochila (17.IX.18). Não imaginam quanto me enternece
e, paradoxalmente, me transtorna a imagem de uma criança posicionada no
mini-rectângulo da sua mesa de aula! Vejo-a ali, dona da sua pista, atleta no
seu estádio, soberana do seu trono.
Diante dela, o Mestre, os Mestres, mãos
cheias do ouro da ciência, braços de todas as latitudes, enfim, o mundo todo pré-fabricado
para enchê-la, vesti-la, calçá-la e armá-la na visão estratégica dos embates
futuros. Magnânimo, inexcedível o caudal de quem ensina para quem recebe!
Para quem recebe!... É aqui, na foz, no
destinatário último da sua acção que o Magister
descobre a nascente da sua intuição. Porque o “pequeno-grande ser” que tem à
sua frente “não é uma massa disforme (ou informe) a ser moldada pelo Professor”
(Jean Piaget). Não é o Livro em Branco nem
a praia virgem de uma Ilha Encantada.
Ousarei
dizer, sem hipérbole alguma, que se o
Pedagogo traz o manual na mão, o aluno (criança ou jovem) traz uma biblioteca
no coração. Se o Docente oferece um dicionário, o Discente tem a sua
enciclopédia. Recorro a Fernando Pessoa: “O binómio de Newton é tão belo como a
Vénus de Milo. O que há é pouca gente a dar por isso”. No regresso às aulas,
dentro da própria sala, diante do petiz (tenha ele o tamanho que tiver) o que é
preciso é “dar por isso”.
Alvíssaras,
cânticos e poemas aos Professores que intuem o ADN dos seus pupilos, que os
transfiguram descobrindo-lhes a sua real dimensão, o seu olhar, o seu sentir, o
seu pulsar. Quantas vezes na penumbra de um silêncio de criança se esconde e se
reprime um vendaval de traumas e convulsões! E outras tantas vezes, num lampejo
aparentemente intempestivo se anuncia uma onda de optimismo construtivo! “O que
há é pouca gente a dar por isso”. Na vida quotidiana e no currículo escolar.
É
este o “tiro” da semana, do mês, do ano, da vida. Porque dos bancos da escola
sairão os caminhos do futuro. Os trabalhadores oficinais, os servidores
públicos, os orçamentos, as engenharias nucleares, os presidenciáveis, os
magistrados, os santos e os demónios. Agora, penso Louis Pasteur: “Diante de
uma criança (um aluno) sinto-me cheio de ternura por aquilo que ela é, mas cheio
de respeito por aquilo que poderá vir a ser”.
A
minha efusiva e entusiástica saudação aos Homens e Mulheres, mediadores entre
dois mundos: o da Ciência e o da Inocência, querendo com isto significar o
Mestre Emissor e o Discípulo Receptor. Sejam quais a idade, o lugar e o volume de teres e saberes.
Por
isso também é que me consola olhar e ver que hoje, no “21 de Outono” recomeça a Primavera de Abril!
21.Set.18
Martins Júnior
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