sexta-feira, 21 de setembro de 2018

O MAIOR “TIRO” DA SEMANA… DO MÊS… DO ANO!


                                                             
 
       Ocupe-se quem queira com os badalos macroeconómicos do PIB, preocupe-se quem entenda com as quezílias da nomeação das Procuradora Geral da República ou entretenha-se, nas franjas domésticas do burgo, com o “Armas” cargueiro todo o ano. Hoje não vou por aí. Nem tão-pouco me comovem os abraços norte-sul coreanos nem me abalam as bombas pneumáticas que saem da bocarra ‘russa’ da Casa Branca.
      Desde a última segunda-feira, ocupa-me e preocupa-me, transcende-me e galvaniza-me o “tiro” que assinala a partida para um Outono que  traz consigo todo o fulgor da Primavera. É do regresso às aulas que hoje escrevo, para completar a emoção expressa em  A Criança de Mochila (17.IX.18). Não imaginam quanto me enternece e, paradoxalmente, me transtorna a imagem de uma criança posicionada no mini-rectângulo da sua mesa de aula! Vejo-a ali, dona da sua pista, atleta no seu estádio, soberana do seu trono.
         Diante dela, o Mestre, os Mestres, mãos cheias do ouro da ciência, braços de todas as latitudes, enfim, o mundo todo pré-fabricado para enchê-la, vesti-la, calçá-la e armá-la na visão estratégica dos embates futuros. Magnânimo, inexcedível o caudal de quem ensina para quem  recebe!
         Para quem recebe!... É aqui, na foz, no destinatário último da sua acção que o Magister descobre a nascente da sua intuição. Porque o “pequeno-grande ser” que tem à sua frente “não é uma massa disforme (ou informe) a ser moldada pelo Professor” (Jean Piaget). Não é o Livro em Branco nem a praia virgem de uma Ilha Encantada.
Ousarei dizer, sem  hipérbole alguma, que se o Pedagogo traz o manual na mão, o aluno (criança ou jovem) traz uma biblioteca no coração. Se o Docente oferece um dicionário, o Discente tem a sua enciclopédia. Recorro a Fernando Pessoa: “O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo. O que há é pouca gente a dar por isso”. No regresso às aulas, dentro da própria sala, diante do petiz (tenha ele o tamanho que tiver) o que é preciso é “dar por isso”.
Alvíssaras, cânticos e poemas aos Professores que intuem o ADN dos seus pupilos, que os transfiguram descobrindo-lhes a sua real dimensão, o seu olhar, o seu sentir, o seu pulsar. Quantas vezes na penumbra de um silêncio de criança se esconde e se reprime um vendaval de traumas e convulsões! E outras tantas vezes, num lampejo aparentemente intempestivo se anuncia uma onda de optimismo construtivo! “O que há é pouca gente a dar por isso”. Na vida quotidiana e no currículo escolar.
É este o “tiro” da semana, do mês, do ano, da vida. Porque dos bancos da escola sairão os caminhos do futuro. Os trabalhadores oficinais, os servidores públicos, os orçamentos, as engenharias nucleares, os presidenciáveis, os magistrados, os santos e os demónios. Agora, penso Louis Pasteur: “Diante de uma criança (um aluno) sinto-me cheio de ternura por aquilo que ela é, mas cheio de respeito por aquilo que poderá vir a ser”.
A minha efusiva e entusiástica saudação aos Homens e Mulheres, mediadores entre dois mundos: o da Ciência e o da Inocência, querendo com isto significar o Mestre Emissor e o Discípulo Receptor. Sejam quais a idade, o lugar e  o volume de teres e saberes.
Por isso também é que me consola olhar e ver que hoje,  no “21 de Outono”  recomeça a Primavera de Abril!

21.Set.18
Martins Júnior     
   

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