Quais
os chapéus, tais as festas. Há muitas e para todos os paladares. E, mesmo que o
não sejam os chapéus, são elas que definem os sabores, as preferências, a
cultura, enfim, a idiossincrasia de um povo. Por isso, são tão diversificados
os cardápios e as cartilhas por onde cada sociedade molda os programas das suas
festas. Há-as ruidosas, em que o estalo é rei desde a sola do chão até aos
cabelos das nuvens. Há-as sofisticadas, supostamente refinadas, rivalizando no
timbre e na performance dos artistas
importados. Passo em claro aquelas em que o álcool a rodos marca o GPS a
caminho das urgências.
No
entanto, para mim há uma linha vermelha que, como a linha do equador, define os dois hemisférios distintivos de uma
festa: de um lado, aquela em que o Povo ocupa a centralidade do evento e uma
outra, aquela em que o suposto Autor e
Pagante da festa é relegado para a periferia, limitando-se ao papel de mero
espectador, agente passivo de todo o cenário.
Precisamente
no cerne desta opção – estar no dentro ou ficar de fora – é que reside a tal
cultura de uma comunidade. Para quem tem acompanhado ciclicamente este Senso&Consenso, deve ter verificado
a predilecção que nutro por esta temática. Porque pretender preencher
literalmente a festa com produtos aleatórios, por mais exaltantes que se
apresentem, pode significar um vazio indisfarçado, estrutural, por parte de
determinado núcleo populacional, sobretudo nas zonas marcadas pela ruralidade.
Em contraponto, as comunidades que fazem da sua festa uma oportunidade soberana
para afirmar “Eu estou, nós estamos no coração da festa” – por mais singelo e
ingénuo que seja o respectivo programa – isso demonstra o alto grau de
autenticidade de um Povo, a sua capacidade autonómica e, sobretudo, a afirmação
da sua centralidade na construção cívica e solidária do lugar que habitam.
Falo
assim porque estamos no portal da nossa festa. Inspirada embora num motivo
religioso – a Festa da Senhora do Amparo – ela surge como um convite à
participação popular em diversos quadrantes, nomeadamente na vertente histórica.
Sem prejuízo da presença dos artistas já convidados, amanhã e depois serão os
habitantes/construtores da Ribeira Seca os verdadeiros protagonistas,
legitimamente ocupantes do seu palco. Em figurino de um musical adaptado ao
momento, desfilarão os episódios mais determinativos da história das suas
gentes. Letras, músicas, coreografias e luminotécnica serão um livro aberto
para quem assistir ao espectáculo e quiser informar-se sobre o passado de um “Povo
que trabalha e faz o mundo novo”.
Até
na própria Eucaristia Solene de Domingo próximo, será dada a vez a dois cristãos leigos, um homem e mulher, que
comentarão os textos bíblicos do dia, Porque, dentro e fora do templo, a festa é
do Povo, pelo Povo e para o Povo. É preciso que os cristãos não sejam apenas
consumidores, mas também produtores da Palavra.
Ao
menos numa ´Pousada´da Paz, em 8 e 9 de Setembro, a Festa da Mãe será também a
Festa dos Filhos. E, de novo, será Protagonista
da Festa o Povo da Ribeira Seca.
09.Ago.18
Martins Júnior
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