Que
fora a primeira estância da ilha onde puseram pé Tristão Vaz e Gonçalves Zargo –
todos sabíamos. Primeira capitania da Ilha, também. O que, porém, ainda não
tinha sido dito em grande angular, como merecia, foi o investigador da tradição
oral cantada que veio trazê-lo hoje a Machico. E é a grande nova deste 9 de
Novembro. Rui Camacho, fundador e proto-animador da Associação Xarabanda,
revelou-nos em primeira mão que foi em neste concelho que os etnógrafos estudiosos do folclore madeirense encontraram
as raízes mais genuínas dos cantares ilhéus.
E
provou-o através da produção discográfica, gravada “in loco”, pelos exímios e
exigentes cultores da arte, António Aragão e Artur Andrade, na década de 70 do
século passado. Provou-o, ainda, pelas pesquisas e documentação do grande
folclorista M. Giacometi. Descobrimos hoje, pela investigação de Rui Camacho,
que grande parte das trovas disseminadas por toda a ilha, entre as quais a
emocionante “Canção de Embalar”, são oriundas do torrão primeira da ilha,
Machico e suas freguesias, com predominância para Porto da Cruz e Caniçal.
Mais
emocionado fiquei por ver-me imprevistamente
retornado a um passado longínquo, quando Aragão e Artur me apareceram na
Ribeira Seca, ‘armados’ das velhas máquinas de gravação e me pediram para
indicar quem soubesse de rimances, xácaras e novelas medievais. Mandei-os pelas
encostas daquele vale profundo e, qual a
surpresa maior, quando vejo na capa da edição discográfica aqueles meus amigos
e amigos, gente “rude mas verdadeira” do sítio da Ribeira Seca, tocadores e cantadeiras,
‘charambistas de peso’. Já todos se finaram, mas felizmente não levaram para a
tumba fria as canções e as vozes quentes que, em 1982, a Associação Xarabanda teve o talentoso rasgo de reeditar.
Para
além das competentes prestações dos historiadores intervenientes na iniciativa,
ora em curso, da Câmara Municipal de Machico – “EDUCAÇÃO E PATRIMÓNIO” - esta foi a nota mais original e marcante,
porque fez-se justiça, enfim, a uma cultura autóctone e a um povo que durante
40 anos (também não esqueço!) foi carimbado pela ignara e tacanha intelligenza governativa da Região como “terra
do terceiro mundo”. Afinal – e hoje ficou magistralmente demonstrado - Machico afirma-se como o repositório fidedigno
de uma história de 600 anos! Não admira, pois, que aqui tenha sido o meio eco-histórico
adequado para que nascesse e se consolidasse o mais eloquente testemunho cénico
do Achamento da Ilha, justamente cognominado de “Mercado Quinhentista”, o qual
mereceu, finalmente, o reconhecimento oficial e o apoio da governação regional.
No
mesmo fôlego de são patriotismo local, como cantava o nosso Maior “Camões
Pequeno” (passe a hiperbólica antítese), torna-se pertinente propor a quem de
direito que as “Comemorações dos 600 Anos da Descoberta” tenham em Machico o
seu mais condigno e genuíno epicentro.
Porque
daqui nasceu a Madeira!
09.Nov.18
Martins Júnior
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