sexta-feira, 9 de novembro de 2018

MACHICO – CAPITAL DO MAIS ANTIGO E GENUINO PATRIMÓNIO IMATERIAL DA MADEIRA


                                                               
                 Que fora a primeira estância da ilha onde puseram pé Tristão Vaz e Gonçalves Zargo – todos sabíamos. Primeira capitania da Ilha, também. O que, porém, ainda não tinha sido dito em grande angular, como merecia, foi o investigador da tradição oral cantada que veio trazê-lo hoje a Machico. E é a grande nova deste 9 de Novembro. Rui Camacho, fundador e proto-animador da Associação Xarabanda, revelou-nos em primeira mão que foi em neste concelho que os etnógrafos  estudiosos do folclore madeirense encontraram as raízes mais genuínas dos cantares ilhéus.
E provou-o através da produção discográfica, gravada “in loco”, pelos exímios e exigentes cultores da arte, António Aragão e Artur Andrade, na década de 70 do século passado. Provou-o, ainda, pelas pesquisas e documentação do grande folclorista M. Giacometi. Descobrimos hoje, pela investigação de Rui Camacho, que grande parte das trovas disseminadas por toda a ilha, entre as quais a emocionante “Canção de Embalar”, são oriundas do torrão primeira da ilha, Machico e suas freguesias, com predominância para Porto da Cruz e Caniçal.
Mais emocionado fiquei por ver-me imprevistamente  retornado a um passado longínquo, quando Aragão e Artur me apareceram na Ribeira Seca, ‘armados’ das velhas máquinas de gravação e me pediram para indicar quem soubesse de rimances, xácaras e novelas medievais. Mandei-os pelas encostas daquele  vale profundo e, qual a surpresa maior, quando vejo na capa da edição discográfica aqueles meus amigos e amigos, gente “rude mas verdadeira” do sítio da Ribeira Seca, tocadores e cantadeiras, ‘charambistas de peso’. Já todos se finaram, mas felizmente não levaram para a tumba fria as canções e as vozes quentes que, em 1982,  a Associação Xarabanda teve o talentoso rasgo  de reeditar.  
Para além das competentes prestações dos historiadores intervenientes na iniciativa, ora em curso, da Câmara Municipal de Machico – “EDUCAÇÃO E PATRIMÓNIO” -  esta foi a nota mais original e marcante, porque fez-se justiça, enfim, a uma cultura autóctone e a um povo que durante 40 anos (também não esqueço!) foi carimbado pela ignara e tacanha intelligenza governativa da Região como “terra do terceiro mundo”. Afinal – e hoje ficou magistralmente demonstrado -  Machico afirma-se como o repositório fidedigno de uma história de 600 anos! Não admira, pois, que aqui tenha sido o meio eco-histórico adequado para que nascesse e se consolidasse o mais eloquente testemunho cénico do Achamento da Ilha, justamente cognominado de “Mercado Quinhentista”, o qual mereceu, finalmente, o reconhecimento oficial e o apoio da governação regional.
No mesmo fôlego de são patriotismo local, como cantava o nosso Maior “Camões Pequeno” (passe a hiperbólica antítese), torna-se pertinente propor a quem de direito que as “Comemorações dos 600 Anos da Descoberta” tenham em Machico o seu mais condigno e genuíno epicentro.
Porque daqui nasceu a Madeira!

09.Nov.18
Martins Júnior
   

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