Os
mais entendidos acrescentam: Monarquia Absoluta.
Fundamentação jurídico-canónica: “O
Senhor é Rei”. E hoje, domingo último do ano litúrgico é, precisamente, a
grande Festa do Cristo-Rei! Por tudo quanto é santuário, igreja ou modestíssima
capela ecoam hossanas “àquele que vem em nome do Senhor-Rei do Universo”
Como
e porquê se instaurou o regime monárquico sob a égide do Rei-Cristo`?... Tudo
começou desde os alvores da criação do mundo e, mais impressivamente, com o
transgeracional mito do povo judeu: desejoso de libertar-se .dos povos opressores
que o dominavam e lhe sufocavam a autonomia, os hebreus estruturaram o seu “corpus”
doutrinal e constitucional na perspectiva da realeza perdida e da sua
recuperação gloriosa na pessoa de um Messias, Rei Poderoso, que destronaria o
regime colonial em que vivia o judaísmo e proclamaria um novo Reino e um novo Rei, sucedâneos do período áureo de
David e seu filho Salomão.
A
partir de então, sobretudo no século IV, marcado pelo imperador Constantino Magno, a
Igreja adoptou, sem questionar, a primitiva matriz do judaísmo e, mais tarde,
di Islamismo) (as três religiões do LIVRO (a Bíblia), arvorando na testa e no estatuto de Cristo o magnificente título
de Rei. E firmou trono imperial, Constituição e Práxis de um verdadeiro Reino,
com palácio, exército, banca, tribunais, embaixadas, contabilidade fiscal de impostos,
mordomias e, pasme-se, com um corpo policial de élite, denominado guarda suíça,
ainda no activo, a qual o Papa Francisco ainda não conseguiu extinguir. Quanto
aos titulares de cargos eclesiásticos, alinhou-os em príncipes (bispos e
cardeais), embaixadores, monsenhores e subalternos, em tudo talhado à imagem e
semelhança da hierarquia militar, desde general a “soldado raso”. Para que nada
ficasse omisso, o legislador eclesiástico reservou títulos e comendas
identitárias à classe episcopal, obrigando-os a antepor ao nome de baptismo o chancela real de “DOM”.
o mesmo título reservado aos reis.
A
este propósito, seja-me permitido partilhar com os meus amigos, uma ligeiro excerto da entrevista que a agência “Ecclesia” transmitiu hoje, domingo, pelas seis horas, via
RDP, (como de resto faço sempre antes da minha primeira eucaristia das sete da
manhã) . No programa, dois sacerdotes, Daniel e Rui (não sei se algum deles
será o futuro inquilino do nosso Paço Episcopal) trocavam impressões sobre a
sua ordenação episcopal que ocorreu hoje à tarde em Lisboa. O que vivamente
mais me impressionou foi o tratamento que mutuamente se davam um ao outro: “Como
disse o sr. D. Daniel, …”. e o outro
correspondia no mesmo tom: “Como disse o sr. D. Rui…”, num desenrolar de ideias
e projectos, repetidamente salpicado de DOM para ti, DOM para mim, DOM para cá,
DOM para lá. Quere-se dizer: ainda não eram bispos (sê-lo-iam à tarde) e já se
deliciavam numa troca de mimos e galhardetes de acentuado pendor
palaciano. Desculpar-me-ão os
reverendíssimos interlocutores, mas para os meus 80 anos de vida e 56 de padre,
aquele ritual cheirava-me a velha neftalina fora-de-prazo…
E
porquê fora-de-prazo?
Respondo
com outro pergunta. Terão eles (e nós também) posto em causa o dilema da verdadeira identidade do nosso, o histórico
Rei-Cristo?... Alguma vez aceitou Ele que lhe chamassem Senhor DOM Jesus?... E
quando é que a liturgia católica exigiu ou incluíu, relativamente ao seu
Fundador, a nomenclatura Senhor DOM Cristo?... E então?... Por outras palavras:
a qual tipologia real pertencia Jesus?
Deveria
deixar a cada um de vós a merecida resposta. Mas, para encurtar tempo, ousarei
dizer, sem prejuízo de contradita, que o Jesus-Rei diante de Pilatos nada tem a
ver como a pompa imperial do Vaticano. Direi que o nosso Rei-Jesus não possuía palácio,
nem banca, nem guarda-costas, nem
exército, nem embaixadas. Não era ditador, juntava-se aos pobres, amava os
marginais, comia com os pecadores, compreendia
até as prostitutas. Ele a si próprio se
definiu diante de Pilatos: ”O meu Rino não é deste mundo… Eu sou Rei da Verdade”.
Na era em que vivemos, Francisco Papa incarna,
como nunca antes se viu, a condição do autêntico Rei Cristo, “aquele que
transporta consigo o cheiro das ovelhas”, como ele próprio afirmou. Por isso,
os corvos da falácia rondam, rancorosos, à sua volta.
Se
a Verdade liberta, também a Verdade mata. Porque os seus opositores matam quem
a defende. Por isso, enquanto o monarca absoluto do figurino papal e seus sequazes
sentam-se em tronos dourados, almofadados, o nosso Rei-Jesus tem por trono o
cadafalso da cruz onde foi assassinado. Razão tinha Milenati quando escreveu aquele precioso livro “O
Vaticano contra Cristo”.
No
Domingo de Cristo-Rei, que fecha o calendário religioso de 2017/2018, deixei
aqui esta reflexão, como quem tem sede da água pura da Verdade, ainda que tenha
de correr riscos emergentes nesse caminho pedregoso. Todos os dias peço licença
para alistar-me como soldado militante do seu verdadeiro Reino!
25.Nov.18
Martins Júnior
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