Sob
a envolvência jesuítica dos arcos da Reitoria, a “Imprensa Académica” da UMa
cumpriu o anunciado desiderato de navegar na onda revolta
de Alcácer Quibir que esconde, até hoje e até sempre, o malogrado mito do
Desejado, que virá salvar Portugal para instaurar o “Quinto Império”. E lançou
o repto: No século XXI, haverá ainda espaço para entronizar a Salvação?...
Precisaremos de ser salvos?
Foi António Brehm, docente da UMa, quem
deu o mote, com a descoberta da “Crónica d’El-Rey D. Sebastião”, dada à estampa
pela citada “Imprensa Académica”. Num primeiro relance, a questão em epígrafe
até parece desadequada e anacrónica nesta era triunfal das tecnologias de ponta.
Mas o encontro de ontem desvendou o espanto. Tudo está na extensão e compreensão
que se tem do conceito de salvação.
Viu-se ali, sem sombra de nevoeiro, que entre os seis intervenientes cada qual
tinha a sua mundividência pessoal e, na sua esteira, de qual salvação
precisamos nós.
Partindo do étimo originário – do latim:
salus, salutis, que significa
salvação e, simultaneamente, saúde - chega-se a uma conclusão, onde todas as
perspectivas confluem: tudo é susceptível de salvação e nada fica fora do seu alcance.
Tal como a saúde que aspira a um crescimento constante, também a salvação se inscreve
num processo ininterrupto, seja qual for o seu meio ecológico.
Pela mão dos seis intervenientes, a
salvação percorreu os diversos itinerários da condição humana, como condição sine qua non para a nossa própria
sobrevivência. Na cultura, para que não fique esclerosada em tabus e
preconceitos amorfos, deprimentes. No jornalismo, para vencer a asfixia dos
impérios da desinformação e das fake news
que envenenam a vida em sociedade. Da economia – sobretudo, “a economia que
mata” – para tentar impugnar (quase sempre ingloriamente) o triunfo tentacular
do capitalismo que tudo arrasta e esmaga à sua frente. Da literatura, da
ciência, da psicologia, enfim, da própria religião. Por mais estranho que
pareça, é nesta paisagem tão sagrada quanto confusa e infestante, que se impõe
a necessidade de salvação. Quem salva a Religião, Quem salva a Igreja?!
Valeu a pena fazer subir à tona das
marés agitadas da nossa vida quotidiana este clarão iluminante para interiorizarmos o
irrecusável mandato de promovermos, em cada gesto e em cada passo, a renovação,
o rejuvenescimento da história que é
nossa: ao fim e ao cabo, injectarmos saúde (Salvação) nas estruturas sociais
que balizam o nosso percurso comum.
Porque – e foi uma das conclusões mais incisivas deste encontro – ninguém espere
pelo Desejado, seja ele rei, papa ou populista salvador. Os regimes que
nasceram do seio dos messias políticos, financeiros e afins acabaram por soçobrar
nos escombros das ditaduras e da auto-destruição, tal como o sebastianismo se dissipou
na manhã sombria de 4 de Agosto de 1578. É a comunidade – o Povo e só ele – quem
pode salvar o presente e segurar o futuro.
Como lá chegar?... Eis o mote para um
novo encontro, a pista para novas descobertas.
07.Nov.18
Martins
Júnior
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