Atiraste-me –me à ‘baía dos porcos’
quando sonhavas de azul o meu olhar
e o mundo que me deste
mas o troar das ondas enrolou-me pés e braços
e enjaulou-me na furna do inferno
lá onde tridentes punham crianças espetadas
e delas faziam sua diversão
mais fundo me levaram para pegar em peixes verdes
que me fugiam entre os dedos
e logo desfaziam corpos encharcados em camuflados de sangue
novo
e vi mortos pútridos
trocados
por outros semi-vivos colados às grades da prisão
num tombo de abismo
toquei o sacro tubarão mitrado
torcer a cruz e o seu desnudo mártir
e transformá-lo em arma de canhão
nas mãos do monstro dono da terra do mar e do ar
Atrás de cada onda, outra maior
em cada fundo outro mais fundo
os dois, a véspera do futuro
e vi que as ondas eram também as minhas mãos
mãos iguais às minhas, ossos dos meus
Ventre de Mulher, por que não me fizeste pedra chã
cinza ou lama ou réptil
para não ver o breu sangrento
que trago nas mãos
- porque foram iguais às minhas as mãos que o fizeram ?!...
……………
Tapar o rosto e bradar como Jeremías Profeta:
Se foi para isto,
“Maldito o dia em que me pariste”!
25.Mai.22
Martins
Júnior
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