sábado, 7 de maio de 2022

ESCRITA NA ÁGUA – E A ÁGUA QUE ESCREVE…

                                                                         


       Inadiável seria passar a ponte que une uma semana a outra – imperativamente este sábado-domingo – sem assinalar o mistério da natura em simbiose perfeita com o talento criativo do ser humano.

         Foi o que aconteceu neste fim-de-semana em Machico: dois rios que confluem no mesmo ritmo cantante, correndo ambos para a mesma foz.

De um lado, o volumoso caudal da “10ª Feira do Livro”, com a evocação de escritores já desaparecidos fisicamente e a produção de novas obras oriundas da inspiração de conterrâneos nossos, sendo certo que até os maiores génios da literatura dizem que tudo quanto produzem não passa de uma ‘escrita na água’ que o tempo leva sem rumo certo.

De outro lado, o prestimoso colóquio que precede o  tradicional “Mercado Quinhentista”, consignado este ano a um motivo soberano. chamado “Água - Sangue da Terra”. No ‘Forum Machico’ navegaram nas águas correntes da ilha historiadores, biólogos, professores universitários, - ‘gente de primeira água’- que fizeram do “Sangue da Terra” o protagonista da grande efeméride do Achamento da Ilha.

Há uma intrínseca osmose entre os dois acontecimentos. Se na zona ribeirinha, colada à baía, as torrentes de ontem e de hoje transportavam as fagulhas do talento humano, poetas, paisagistas, arquitectos,  romancistas, sonetistas (entre os quais, Francisco Álvares de Nóbrega), enquanto isso – no Forum. a Água erguia-se como a magna. insuperável escritora que nos pergaminhos da terra arável deixa escrita a grande epopeia das levadas, do verde dos nossos campos, o antídoto para a nossa sede e o pão para a fome da ilha e do mundo.

É o maravilhoso consórcio entre a Escrita na Água e a Escrita da Água - a Festa Global de todo o ser que vem a este mundo quando canta a Água que irriga a terra e o cérebro pensante e, ao mesmo tempo, o cérebro pensante que mergulha no grande oceano da vida, onde a Água é Rainha.

 Bem haja quem, em hora tão oportuna, inundou Machico da Água do Saber e, na mesma fonte, dotou a Ilha do Sabor da Água, que abraça  gentes e territórios ilhéus, conforme canta o povo da ruralidade profunda:

                            Levadas lá da montanha

                            Que vêem a nossa canseira

                            Lá andam de terra em terra

                            Abraçam toda a Madeira

          

 

07.Mai.22

Martins Júnior

1 comentário:

  1. Brilhante narrativa também escrita na água, o sangue novo, que irriga as paisagens humanizadas da ilha profunda. Um abraço.

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