Foi o que aconteceu neste fim-de-semana
em Machico: dois rios que confluem no mesmo ritmo cantante, correndo ambos para
a mesma foz.
De
um lado, o volumoso caudal da “10ª Feira do Livro”, com a evocação de
escritores já desaparecidos fisicamente e a produção de novas obras oriundas da
inspiração de conterrâneos nossos, sendo certo que até os maiores génios da
literatura dizem que tudo quanto produzem não passa de uma ‘escrita na água’
que o tempo leva sem rumo certo.
De
outro lado, o prestimoso colóquio que precede o tradicional “Mercado Quinhentista”, consignado
este ano a um motivo soberano. chamado “Água - Sangue da Terra”. No ‘Forum
Machico’ navegaram nas águas correntes da ilha historiadores, biólogos,
professores universitários, - ‘gente de primeira água’- que fizeram do “Sangue
da Terra” o protagonista da grande efeméride do Achamento da Ilha.
Há
uma intrínseca osmose entre os dois acontecimentos. Se na zona ribeirinha,
colada à baía, as torrentes de ontem e de hoje transportavam as fagulhas do
talento humano, poetas, paisagistas, arquitectos, romancistas, sonetistas (entre os quais,
Francisco Álvares de Nóbrega), enquanto isso – no Forum. a Água erguia-se como
a magna. insuperável escritora que nos pergaminhos da terra arável deixa
escrita a grande epopeia das levadas, do verde dos nossos campos, o antídoto
para a nossa sede e o pão para a fome da ilha e do mundo.
É
o maravilhoso consórcio entre a Escrita na
Água e a Escrita da Água - a Festa
Global de todo o ser que vem a este mundo quando canta a Água que irriga a
terra e o cérebro pensante e, ao mesmo tempo, o cérebro pensante que mergulha no
grande oceano da vida, onde a Água é Rainha.
Bem haja quem, em hora tão oportuna, inundou
Machico da Água do Saber e, na mesma fonte, dotou a Ilha do Sabor da Água, que
abraça gentes e territórios ilhéus,
conforme canta o povo da ruralidade profunda:
Levadas lá da montanha
Que
vêem a nossa canseira
Lá andam de terra em terra
Abraçam toda a Madeira
07.Mai.22
Martins Júnior
Brilhante narrativa também escrita na água, o sangue novo, que irriga as paisagens humanizadas da ilha profunda. Um abraço.
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