sexta-feira, 13 de maio de 2022

ACORDES DE UMA SEXTA-FEIRA, DIA 13 !!!

                                                                   


Ao dobrar a estação “13” do Mês do Coração, muitas e diversas são as badaladas da pulsação dos dias e das horas. Delas, as badaladas, faço hoje o acorde quase perfeito: todas diferentes e todas entrelaçadas numa simbiose harmónica, naquela partitura que é a sucessão da vida dos mortais:

1ª- A tónica – primeira nota do acorde – arrasta consigo o assombro mitológico da caverna e do homem que a habitava, povoada de enigmas, duendes e monstros, alegorias e pavores ancestrais, que, não obstante os avanços da ciência e da tecnologia, ainda persistem no subconsciente imaginário sob a designação de: “Aquela Sexta-Feira, dia 13” – aquele “dia fatídico” que Almeida Garrett imortalizou nas “Viagens na Minha Terra” e no trágica dramaturgia do “Frei Luís de Sousa”. É incrível como ainda nos tempos que passam proliferem nos neurónios da tanta gente os vírus do homem primitivo, escravo de mitos, superstições e avatares sem sentido. O mais deprimente é constatar que esse tremendo armamento-fantasma é o pão de que se alimentam altares, santos e demónios.

2ª – A mediante – segunda nota do acorde – é a noite avassaladora da vigília do “Dia 13”, um colosso poderoso de velas e pavios que inundam de luz cidades e aldeias do nosso Portugal, ilhas contadas, como rosários de promessas e votos, que se projectam por tudo quanto é emigrante português da nossa diáspora.  Emocionante, poético e pio, bálsamo para tantos corações atribulados e agradecidos aos pés de Fátima! Às promessas e votos, ofereço mais este: a de Fátima não é menos igual e taumaturga que  as Senhoras da Piedade, do Livramento, da Conceição, do Loreto, de Guadalupe, da Aparecida ou de qualquer outra Senhora da mais remota ermida, como a  Senhora do Amparo. Maria só há Uma, mesmo que nos apresentem miríades de rostos e mantos multicolores. Cuidado, muito cuidado, para que a mediante não saia da sua pauta e caia irremediavelmente na tónica anterior.

3ª – A dominante – terceira do acorde – oiço-a e sinto-a no mais íntimo diante do corpo ainda quente que repousa, desde ontem, no berço que lhe ofereceu a Mãe-Terra. Após a morte do querido Professor Padre Eleutério Ornelas - um genuíno intelectual irmanado com a inocência telúrica da sua gente - colegas seus, muito mais jovens na idade e no presbitério, exprimiram um profundo pesar pela sua partida. Mais que pesar, acentuaram com manifesta dor o abandono a que o votou a hierarquia da instituição que toda a vida serviu. Associo-me sem pregas nem reticências a tão nobre tributo ao amigo Eleutério. Mas com este brado decidido: “Para que os homens não esqueçam e para que os hierarcas nunca mais repitam”!

 

13.Mai.22

Martins Júnior

Sem comentários:

Enviar um comentário