Ao
dobrar a estação “13” do Mês do Coração, muitas e diversas são as badaladas da pulsação
dos dias e das horas. Delas, as badaladas, faço hoje o acorde quase perfeito:
todas diferentes e todas entrelaçadas numa simbiose harmónica, naquela
partitura que é a sucessão da vida dos mortais:
1ª-
A tónica – primeira nota do acorde –
arrasta consigo o assombro mitológico da caverna e do homem que a habitava,
povoada de enigmas, duendes e monstros, alegorias e pavores ancestrais, que,
não obstante os avanços da ciência e da tecnologia, ainda persistem no
subconsciente imaginário sob a designação de: “Aquela Sexta-Feira, dia 13” – aquele “dia fatídico” que
Almeida Garrett imortalizou nas “Viagens
na Minha Terra” e no trágica dramaturgia do “Frei Luís de Sousa”. É incrível como ainda nos tempos que passam proliferem
nos neurónios da tanta gente os vírus do homem primitivo, escravo de mitos,
superstições e avatares sem sentido. O mais deprimente é constatar que esse
tremendo armamento-fantasma é o pão de que se alimentam altares, santos e
demónios.
2ª
– A mediante – segunda nota do acorde
– é a noite avassaladora da vigília do “Dia 13”, um colosso poderoso de velas e
pavios que inundam de luz cidades e aldeias do nosso Portugal, ilhas contadas,
como rosários de promessas e votos, que se projectam por tudo quanto é
emigrante português da nossa diáspora. Emocionante,
poético e pio, bálsamo para tantos corações atribulados e agradecidos aos pés
de Fátima! Às promessas e votos, ofereço mais este: a de Fátima não é menos
igual e taumaturga que as Senhoras da
Piedade, do Livramento, da Conceição, do Loreto, de Guadalupe, da Aparecida ou
de qualquer outra Senhora da mais remota ermida, como a Senhora do Amparo. Maria só há Uma, mesmo que
nos apresentem miríades de rostos e mantos multicolores. Cuidado, muito
cuidado, para que a mediante não saia
da sua pauta e caia irremediavelmente na tónica
anterior.
3ª
– A dominante – terceira do acorde – oiço-a
e sinto-a no mais íntimo diante do corpo ainda quente que repousa, desde ontem,
no berço que lhe ofereceu a Mãe-Terra. Após a morte do querido Professor Padre
Eleutério Ornelas - um genuíno intelectual irmanado com a inocência telúrica da
sua gente - colegas seus, muito mais jovens na idade e no presbitério,
exprimiram um profundo pesar pela sua partida. Mais que pesar, acentuaram com
manifesta dor o abandono a que o votou a hierarquia da instituição que toda a
vida serviu. Associo-me sem pregas nem reticências a tão nobre tributo ao amigo
Eleutério. Mas com este brado decidido: “Para que os homens não esqueçam e para
que os hierarcas nunca mais repitam”!
13.Mai.22
Martins Júnior
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