Colega e Amigo
Não são os crimes de guerra perpetrados
contra o massacrado povo ucraniano que me levam a escrever estas letras que de
há muito trago dentro de mim, nem mesmo o tenebroso apagão causado pela
destruição das centrais eléctricas que deixaram às escuras cidades inteiras.
É de um outro apagão que venho
questionar o meu amigo. Eu só queria saber qual a .mão criminosa e que obscuras forças
levaram a sangrar de negro esse inspirador mural de sol e saúde que todos os
dias JLR desdobrava perante o mundo, via redes sociais.
“Não
dizes, eu adivinho” – faço minhas as palavras de Carlos do Carmo. Mas, permite,
colega e amigo: mais alta que as sombras viscosas atiradas sem direcção e mais
poderosa é a luz vertical, galvanizadora, que emana do teu talento e da tua
criatividade, expressa em áreas tão diversificadas, desde a poesia ao conto e
ao romance, à incursão teológica e à análise social, através de artigos,
ensaios, homilias, conferências.
Não
precisas que to diga, mas esta é a verdade: no panorama intelectual regional, a
tua voz assoma como trombeta brilhante e vigilante, sempre em cima dos
acontecimentos, com um tacto jornalístico de primeira água e um olhar
prospectivo sobre a realidade envolvente, sem te deixares ficar cativo dos apertados arames insulares,
mas, pelo contrário, agregando ideias, personagens, iniciativas, enfim, caudais
inovadores vindos de fora.
Se
não agora, tenho a certeza que os dias do amanhã hão.de render-te graças pela
visão estruturalmente profética que tens da Igreja de Jesus, o Nazareno. O que
mais notório e eloquente há em ti é a coerência entre a visão e a palavra. No
magro universo da instituição eclesiástica regional – um deserto de cultura e
aprofundamento teológico e, em contrapartida, um espectáculo barroco de feira
vistosa – é sempre a tua voz, a única, que tem a coragem de sinalizar os
desvios tortuosos de dois mil anos de cristianismo e seiscentos anos de
regionalismo católico-apostólico-romano, agravado nos tempos que correm. Não só
para mim, mas para muitos, tu és a extensão mais fidedigna da estatura
ideo-teo-sociológica do Papa Francisco na Madeira..
Colega
e Amigo
Contra
esta força holística, espiritual e humana, “não há machado que corte a raiz ao
pensamento”. E contra este caudal de energia e acção, não há mão nem braço
capazes de apagar o mural luminoso que todos os dias tens trazido ao mundo.
Há
o bournot viral, é certo, há os drones Kamikase furtivos, uns telecomandados pelas hierarquias, outros
anónimos, acéfalos. E há, ainda, o reino dos roedores do esgoto, as toupeiras
do charco, as rémoras parasitas que só sobrevivem à custa das migalhas que caem
da mesa da gente limpa e que eles transformam em esterco. Desses dizia já desde
o século XVIII o nosso grande Álvares de Nóbrega, são aqueles que “convertem em
peste a chuva de ouro que sobre o mundo entorna Júpiter Sagrado”. Em nome da
causa animal, dêmos-lhes ração de entretenimento. E sigamos em frente. Porque
“os cães ladram e a caravana passa”.
Colega
e Amigo
A
vida é breve e o que há-de ficar não é a folha que as mãos daninhas quiseram
apagar, mas aquelas que escrevemos, algumas, as mais duradouras, com o sangue
das nossas veias, os murais de escrita
franca que todos os dias colocas dentro das nossas casas e das nossas vidas. E
se, para algo servir, dedico-te quase meio século de ostracismo, exilado na
própria terra. Mas estou vivo e muitos detractores não. Lamento que já não me
possa ver.
Devo
também ao meu amigo uma partilha dessa vida.
VALE !
23.Out.22
Martins Júnior
Estimado Padre Martins ! Esta missiva de Amigo para o Amigo foi bálsamo para a minha inquietação do quanto as palavras do P. José Luís nos fazem falta. É a alma dolorida dele que sofre... mas o desejo de muitos é que a sua voz de Profeta continue a ser ouvida! O Sr.P. Martins sabe muito bem avaliar !... Um abraço fraterno.
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