terça-feira, 11 de outubro de 2022

NEM A SENHORA DA APARECIDA ESCAPA A ESTA CAMPANHA ‘BACANA’…

                                                                                


Quem pode ficar imune aos furacões que todos os dias nos entram em casa?... Como saltar o muro deste poço neurótico da pré-morte psíquica em que se tornou todo o planeta, desse os campos de guerra aos pacatos becos da aldeia, desde os ovais salões do poder às apertadas paredes domésticas?...

         Uma noite de dezenas, centenas de mísseis russos e drones iranianos, 19 mortos e 109 feridos, dia de assembleias intensivas, imediatas, G7, ONU, parlamentos, contra-ataque de ameaças nucleares, os terroristas cabisbaixos armados em vítimas para logo se rearmarem em bombistas assassinos. Mais sangue pelo chão e mais corpos retirados dos escombros. E vem tudo junto: o terrorismo climatérico em Venezuela, o execrando enxurro oculto dos abusos de menores na Igreja Católica, o fantasma da inflação, a guerra dos orçamentos e, a minar a saúde mental social, o medo inquietante do dia de amanhã.

Mas do meio das nuvens negras de hoje saiu o foguete - hilariante seria, se não fosse perigoso e trágico - produto de um país de contrastes e apresentado com pompa e não menos ganância: “Bolsonário vai amanhã à Grande Festa da Senhora da Aparecida, Padroeira do Brasil” !!! E o toque a rebate patriótico, bradado pelo próprio, candidato-peregrino:_” Venham gente, venham todos, milhares, milhões de brasileiros, vistam-se de azul e amarelo na Festa da Padroeira  do Brasil” !!

         Ridículo, mas perturbador, sabendo-se dos excessos fanáticos a que levam as religiões. Pegando na alegoria da Cegueira e da Loucura, eu diria que estamos perante o Elogio da Cegueira de um povo e o Ensaio da Loucura de um concorrente maquiavélico. Vale tudo! Amanhã o mundo vai assistir ao segundo episódio da mesma farsa ‘bacana’. Em 7 de Setembro, serve-se do Dia da Independência (200 anos) e termina o abusivo comício puxando a multidão a bradar um ‘lunático’ Pai-Nosso. Daqui a algumas horas, lá estará ele, sobrepondo-se ao andor da Senhora da Aparecida, transformando uma celebração religiosa numa espécie de estonteante ‘macumba’ polítca.

Uma blasfémia, a que a Igreja não devia subjugar-se!

Mas que fazer, se por cá a mesma ‘opera bufa’ se repete, sob registos sofisticados, porém, indisfarçáveis ?!... Que fazer, se Igreja e Poder-Governo são dois heterónimos, inquilinos do mesmo quarto?!

Terminando por aqui este fait divers tragicómico e sem desprimor para a fé dos brasileiros, apraz-me divertir. em diferido, com aquela visita que fiz, em 1972, ao Salão das Promessas da velhinha igreja da Aparecida do Norte (estava ainda em construção o monumental  Santuário da actualidade). E o que mais me surpreendeu (e divertiu) de entre os imensos ex-votos expostos foi uma cruz enorme, mais de 9 metros, tendo apensado um cartão com estes dizeres: “ (…O NOME do devoto peregrino) PROMETEU À SENHORA DA APARECIDA TRAZER AOS OMBROS, DESDE (indicava o lugar) SE O BRASIL GANHASSE A COPA DO MUNDO. E GANHOU”.

Ridicule, mais charmant…

 

11.Out.22

Martins Júnior

 

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