Quem
pode ficar imune aos furacões que todos os dias nos entram em casa?... Como
saltar o muro deste poço neurótico da pré-morte psíquica em que se tornou todo
o planeta, desse os campos de guerra aos pacatos becos da aldeia, desde os
ovais salões do poder às apertadas paredes domésticas?...
Uma noite de dezenas, centenas de
mísseis russos e drones iranianos, 19 mortos e 109 feridos, dia de assembleias
intensivas, imediatas, G7, ONU, parlamentos, contra-ataque de ameaças
nucleares, os terroristas cabisbaixos armados em vítimas para logo se rearmarem
em bombistas assassinos. Mais sangue pelo chão e mais corpos retirados dos
escombros. E vem tudo junto: o terrorismo climatérico em Venezuela, o execrando
enxurro oculto dos abusos de menores na Igreja Católica, o fantasma da inflação,
a guerra dos orçamentos e, a minar a saúde mental social, o medo inquietante do
dia de amanhã.
Mas
do meio das nuvens negras de hoje saiu o foguete - hilariante seria, se não fosse
perigoso e trágico - produto de um país de contrastes e apresentado com pompa e
não menos ganância: “Bolsonário vai amanhã à Grande Festa da Senhora da
Aparecida, Padroeira do Brasil” !!! E o toque a rebate patriótico, bradado pelo
próprio, candidato-peregrino:_” Venham gente, venham todos, milhares, milhões
de brasileiros, vistam-se de azul e amarelo na Festa da Padroeira do Brasil” !!
Ridículo, mas perturbador, sabendo-se dos
excessos fanáticos a que levam as religiões. Pegando na alegoria da Cegueira e
da Loucura, eu diria que estamos perante o Elogio da Cegueira de um povo e o Ensaio
da Loucura de um concorrente maquiavélico. Vale tudo! Amanhã o mundo vai assistir
ao segundo episódio da mesma farsa ‘bacana’. Em 7 de Setembro, serve-se do Dia
da Independência (200 anos) e termina o abusivo comício puxando a multidão a bradar
um ‘lunático’ Pai-Nosso. Daqui a algumas horas, lá estará ele, sobrepondo-se ao
andor da Senhora da Aparecida, transformando uma celebração religiosa numa
espécie de estonteante ‘macumba’ polítca.
Uma
blasfémia, a que a Igreja não devia subjugar-se!
Mas
que fazer, se por cá a mesma ‘opera bufa’ se repete, sob registos sofisticados,
porém, indisfarçáveis ?!... Que fazer, se Igreja e Poder-Governo são dois
heterónimos, inquilinos do mesmo quarto?!
Terminando
por aqui este fait divers tragicómico
e sem desprimor para a fé dos brasileiros, apraz-me divertir. em diferido, com
aquela visita que fiz, em 1972, ao Salão das Promessas da velhinha igreja da Aparecida
do Norte (estava ainda em construção o monumental Santuário da actualidade). E o que mais me surpreendeu
(e divertiu) de entre os imensos ex-votos expostos foi uma cruz enorme, mais de
9 metros, tendo apensado um cartão com estes dizeres: “ (…O NOME do devoto
peregrino) PROMETEU À SENHORA DA APARECIDA TRAZER AOS OMBROS, DESDE (indicava o
lugar) SE O BRASIL GANHASSE A COPA DO MUNDO. E GANHOU”.
Ridicule, mais charmant…
11.Out.22
Martins Júnior
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