No
cardápio das pobrezas, é a material e orgânica a que mais nos toca e aflige, a
que nos desespera e também a que mobiliza multidões contra os governos das
nações, como aconteceu hoje em todo o mundo. A este propósito, solidarizo-me
com todos os movimentos contestatários que saíram à rua e destaco uma palavra
de ordem expressamente proclamada por um dos manifestantes: “Se os governos não
têm força (legal e institucional) para impor-se às multinacionais, tem de ser o
povo a exigir justiça e preços justos”.
Mas há outras tipologias da pobreza. “O
estigma do pobre” (dizem os analistas que se estende por cinco gerações) nunca
será extinto se não houver um amplo laboratório de estratégias integradas,
orientadas directa ou indirectamente para atacar o síndroma de onde sai o
purulento vírus chamado pobreza.
E
são tantos os antídotos que estão ao nosso alcance, não apenas os materiais,
mas sobretudo imateriais. Não se tira do fosso da miséria, seja quem for,
dando-lhe apenas um prato de comida ou uns trocos cirúrgicos para gastos. O
pobre - o ser humano – não se resume a um exclusivo produtor-consumidor de bens
perecíveis, mesmo que necessários à sua subsistência. Ele é muito mais: é
sensibilidade, é sonho, é esperança, é literacia, é conhecimento, é amor, numa
palavra, é espírito…
E
aqui faço-me um ponto de ordem: é pela autonomia do espírito que se consegue
conquistar a autonomia do corpo. Alargando o âmbito de acção: a ciência, a
biologia, a educação, o pensamento, a auto-consciência, o associativismo, enfim
a arte, são os “gps’s” mais seguros para chegar à vitória da justiça e derrubar
os monstros destiladores da pobreza. Um percurso mais longo e perseverante, mas
sem sombra de dúvida o mais eficaz e duradouro. E esta tem sido, justa e criteriosamente,
a luta da “Rede Europeia Anti-Pobreza”, dirigida em Portugal pelo Padre Jardim
Moreira e, por estes dias, presente na Madeira.
Educação,
Ciência, Arte, a trilogia que define o Espírito e mobiliza toda a sociedade, em
todo o tempo e lugar. As armas que ajudam a libertar o corpo e a erradicar as
viroses que empobrecem o mundo.
Eis
a razão que me obriga a saudar o VII
Festival Internacional de Bandolins da Madeira, em que tivemos a honra de
participar no último fim de semana. O Teatro Municipal Baltazar Dias ornou-se o
epicentro da cultura musical da Madeira porque abriu as portas e o seu palco
monumental às periferias da Região, juntando em cena colectividades musicais
dos mais diversos concelhos e freguesias, acrescendo ainda o privilégio de uma
tão gostosa partitura humana, composta de crianças, adolescentes, jovens,
adultos e idosos em inesquecível concerto da Divina Arte.
Os
nossos mais efusivos cumprimentos à dupla perfeita Norberto Cruz - Lidiane
Duailibi, que todos os anos, no palco do “Baltazar Dias”, transforma o Outono
em Primavera.
Assim,
também, um modesto contributo para elevar o espírito e erradicar a pobreza!
17.Out.22
Martins Júnior
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