sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

DA “SÃO LOURENÇO” AO “SÃO LOURENÇO” NUM MAR DE CANÇÕES TUNEIRAS

                                                                   


 

      Nem “São Lourenço” mudou de género nem as canções ‘tuneiras’  têm algo a ver com os tunídeos migrantes que atravessam os mares da Madeira. No entanto, todos eles  conversam na amurada - o título - deste cais virtual dos Dias Ímpares.

A Ponta de São Lourenço (que desde 1419 tomou  o mesmo nome  da caravela : ´´O São Lourenço chega! bradaram Tristão e Zargo aos corajosos marinheiros) sim, a ponta-extremo-leste da Ilha e braço esquerdo de Machico, rude e revolta, a Ponta de “São Lourenço” rumou até ao Funchal e entrou nos salões doirados do Palácio que lhe usurpou a titularidade de registo, sem contudo ofuscar-lhe o privilégio de ter sido ela a franquear a entrada dos argonautas do Senhor Infante na nobre baía de Machico. O mar ‘tuneiro’ onde viajou levou consigo melodias eternas, as de Mozart, de Beethoven, Strauss e muitas outra que navegaram no convés (daí o nome) da Tuna de Câmara de Machico, TCM.

Está desvendado o pequeno enigma. A TCM teve a honra de abrir, anteontem,  o auspicioso programa “O Natal do Palácio” – o Palácio de São Lourenço. Em poucas palavras, os jovens manifestaram – e aqui não faço mais que prolongar o eco dessa mensagem – o seu muito apreço pelo convite que lhe foi formulado para apresentar ali, num meio eco-melódico adequado e perfeito a genuína ‘música de câmara’ própria do seu reportório. Original foi a participação presencial e efectiva da ‘Tuninha Infantil’ que emprestou ao evento uma graciosidade diáfana, condizente com os natalícios motivos ornamentais do salão, o que muito cativou o público assistente.

Duas notas ficaram gravadas no ânimo de quem lá esteve. Primeiramente, a circunstância, para nós inédita, de ver os jovens e crianças de uma zona rural, como é a Ribeira Seca, subirem felizes a escadaria do Palácio e apreciarem a beleza do mobiliário ancestral, de há quatrocentos anos (informaram-nos).

A segunda nota, essa diz respeito ao público mais adulto, com memória. Não posso esquecer-me de que, quando ocupada em 74-75-76 do século XX por um militar autoritário anti-25 de Abril, aquela casa representou os resquícios do já defunto fascismo, com ameaças e perseguições contra o povo madeirense. Foi dali, daquele Palácio, que foram apontadas armas e lançadas bombas lacrimogéneas e similares contra os camponeses produtores de cana de açúcar, uma enorme multidão de toda a Madeira, reivindicando o  pagamento de dois escudos e meio/Kg de cana. Jamais esquecerei esse triste cenário, o povo transido de medo, mas sempre a gritar pelo justo preço do seu produto.

Reminiscências de outros tempos, contraditoriamente o tempo da libertação do Povo Português! Ultrapassada hoje toda essa malfadada repressão, ao entrar naquela casa sentiu-se a atmosfera de uma simpática receptividade que a todos nos tocou. Por ser Natal e certamente ninguém terá levado a mal, improvisámos esta quadra, intercalada no refrão popular madeirense:

O São Lourenço Primeiro

É o que está no Caniçal

O São Lourenço Segundo

Veio morar p´rao Funchal

Ao Ex.mo Representante da República, Senhor Conselheiro Ireneu Barreto, os melhores agradecimentos da TCM, extensivos aos competentes serviços sob a tutela de Sua Excelência.      

  Feliz Natal !

 

09.Dez.22

Martins Júnior  

Sem comentários:

Enviar um comentário