Há
600 anos que na Madeira se fala da ‘lapinha’, desde que os padres de São
Francisco – o inventor dos presépios – chegaram ali à baía de Machico e ali celebraram
a primeira missa na Ilha. Desde mais de 900 anos em Portugal, o Menino dorme e
sonha nas palhinhas. Desde há 2000 anos e mais, o mundo se mexe e remexe com os vagidos
do Divino Infante. Que mais faltará dizer sobre o caso?... Pregadores,
eloquentes oradores sacros, onde iremos achá-los para nos dizerem algo de
novo?...
Ele
é o Príncipe da Paz, o Espírito de Sabedoria, de Fortaleza, de Inteligência,
que vai transformar o deserto e a terra árida em jardins de delicadas flores e as
agudas lanças de guerra vai transformá-las em enxadas, foices e arados para
lavrar os campos agrícolas. Ele é o descendente do Rei David, Ele vai dominar o
planeta de mar a mar e de rio a rio, vai acabar com as guerras!!! E daí, “Cantemos
ao Menino Deus, Chantons tous son événement”.
Este
é o Natal dos Profetas, os Natais de Isaías, de que nos falam hoje os textos
dominicais. Estalem foguetes no ar, encham-se os mercados de lojas e lojinhas, embebedem-se
as praças de luzes, luzinhas e lusões. Rivalizem os povoados e as cidades a ver
quem dá mais fogo e lantejoulas esfumaçantes. É festa, é festa, o Menino
nasceu.
Tudo
bem. Não se vai estragar o brinco. O povo precisa de Festa, de descontração, de
alegria, mesmo que não passe de um dia de ilusão.
Mas há o outro Natal, o autêntico, o
histórico. Conta-se em poucas palavras, vê-se-o a olho nu. Uma rapariga de 16
anos de idade, vai à terra dos seus antepassados, imprevistamente sente as
dores do parto, ninguém naquele pequeno burgo a recolhe, o marido insiste (por amor da criança, ao menos por ela,
arranjem-me um lugarzinho, um vão de escada, onde a minha mulher possa ter o
filho).
Ninguém. Nem maternidade, nem parteira,
nem pensão doméstica, nada. Solução: “Vá parir para o palheiro de acolá acima
ou na furna que fica atrás”. E assim foi. E assim se faz uma festa. Festeja-se
por uma jovem, nessa altura, migrante por decreto imperial (o recenseamento),
porque a pequena, quase uma adolescente teve que dar à luz uma criança na
manjedoura dos animais. Interessante, divertido, não acham?... Fosse hoje,
seria notícia de primeira página, entrada nos telejornais, um escândalo… então não há maternidades, uma pensão, um vão
de escada, sequer, para uma pequena grávida sem abrigo?!
Este foi o Natal de Maria!
É preciso que haja Festa. Qual festa? Ao
Natal de Isaías, que nunca teve concretização ou ao Natal de Maria que
significa, em contra~luz, a indiferença de um mundo perante a Mulher, a
Criança, um Recém-Nascido?
Os dois são úteis e até necessários.
Mas não se faça do Natal um carnaval. E não se esqueça que os Natais de Maria
repetem-se, de vários módulos, neste mundo que habitamos… Não é motivo de
cantigas, mas de indignação geral.
Onde nasceria, neste século XXI, uma criança russa, por hipótese o “nosso” Menino hebreu? Não tenho dúvidas: Ali mesmo,
na Ucrânia.
No entanto, ‘Lá vamos, cantando e rindo’… em honra do Manino e Sua Mãe!
11.Dez.22
Martins
Júnior
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