domingo, 11 de dezembro de 2022

NATAIS DE ISAÍAS, NATAIS DE MARIA – O CONTRASTE QUE NOS DESAFIA

                                                                           


Há 600 anos que na Madeira se fala da ‘lapinha’, desde que os padres de São Francisco – o inventor dos presépios – chegaram ali à baía de Machico e ali celebraram a primeira missa na Ilha. Desde mais de 900 anos em Portugal, o Menino dorme e sonha nas palhinhas. Desde há 2000 anos e  mais, o mundo se mexe e remexe com os vagidos do Divino Infante. Que mais faltará dizer sobre o caso?... Pregadores, eloquentes oradores sacros, onde iremos achá-los para nos dizerem algo de novo?...

Ele é o Príncipe da Paz, o Espírito de Sabedoria, de Fortaleza, de Inteligência, que vai transformar o deserto e a terra árida em jardins de delicadas flores e as agudas lanças de guerra vai transformá-las em enxadas, foices e arados para lavrar os campos agrícolas. Ele é o descendente do Rei David, Ele vai dominar o planeta de mar a mar e de rio a rio, vai acabar com as guerras!!! E daí, “Cantemos ao Menino Deus, Chantons tous son événement”.

Este é o Natal dos Profetas, os Natais de Isaías, de que nos falam hoje os textos dominicais. Estalem foguetes no ar, encham-se os mercados de lojas e lojinhas, embebedem-se as praças de luzes, luzinhas e lusões. Rivalizem os povoados e as cidades a ver quem dá mais fogo e lantejoulas esfumaçantes. É festa, é festa, o Menino nasceu.

Tudo bem. Não se vai estragar o brinco. O povo precisa de Festa, de descontração, de alegria, mesmo que não passe de um dia de ilusão.

         Mas há o outro Natal, o autêntico, o histórico. Conta-se em poucas palavras, vê-se-o a olho nu. Uma rapariga de 16 anos de idade, vai à terra dos seus antepassados, imprevistamente sente as dores do parto, ninguém naquele pequeno burgo a recolhe, o marido insiste (por amor da criança, ao menos por ela, arranjem-me um lugarzinho, um vão de escada, onde a minha mulher possa ter o filho).

         Ninguém. Nem maternidade, nem parteira, nem pensão doméstica, nada. Solução: “Vá parir para o palheiro de acolá acima ou na furna que fica atrás”. E assim foi. E assim se faz uma festa. Festeja-se por uma jovem, nessa altura, migrante por decreto imperial (o recenseamento), porque a pequena, quase uma adolescente teve que dar à luz uma criança na manjedoura dos animais. Interessante, divertido, não acham?... Fosse hoje, seria notícia de primeira página, entrada nos telejornais, um escândalo…  então não há maternidades, uma pensão, um vão de escada, sequer, para uma pequena grávida sem abrigo?!

         Este foi o Natal de Maria!

         É preciso que haja Festa. Qual festa? Ao Natal de Isaías, que nunca teve concretização ou ao Natal de Maria que significa, em contra~luz, a indiferença de um mundo perante a Mulher, a Criança, um Recém-Nascido?

         Os dois são úteis e até necessários. Mas não se faça do Natal um carnaval. E não se esqueça que os Natais de Maria repetem-se, de vários módulos, neste mundo que habitamos… Não é motivo de cantigas, mas de indignação geral.

 

         Onde nasceria, neste século XXI,  uma criança russa, por hipótese o “nosso”  Menino hebreu? Não tenho dúvidas: Ali mesmo, na Ucrânia.

         No entanto, ‘Lá vamos, cantando e rindo’… em honra do Manino e Sua Mãe!

 

         11.Dez.22

         Martins Júnior

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