sábado, 24 de dezembro de 2022

QUEM NASCE UMA VEZ RENASCE SEMPRE – CONVERGÊNCIAS NO ‘GPS’ DE TODOS OS NATAIS

                                                                       


É uma sedução irresistível refazer o caminho das origens e encontrar em cada curva, mesmo dolorosa, um apelo à renascença do melhor que em nós habita. Isso foi a surpresa que nos esperavam as duas datas traçadas  na pedra que cobre o átrio das gentes da nossa comunidade: 1999 e 2019. Surpresa não terá sido exactamente, talvez conquista poderá chamar-se ao que então aconteceu. E porque é desses conteúdos que nos ocupámos, em comunidade, nestes dois dias, permitam-me partilhá-los convosco muito resumidamente, em virtude da soma de tarefas a que  nos obriga a época natalícia.

         VIII

         1999

         Passado o cabo das tormentas terrestres de1985 e atiradas à agua turva das ‘cisternas rotas’ as facécias sacro-cómicas de 2010 (às quais  já nos referimos nos dias transactos) a Ribeira Seca confirmou a força do direito que está no Povo - em contraste aberto com o direito da força que assiste aos poderosos – e aí reforçou o seu templo, requalificando-o no alargamento do  espaço utilizável, bem como no aperfeiçoamento estético das suas linhas originais, sempre na convicção de que, em qualquer comunidade viva,  a igreja é o presépio quotidiano, inamovível, onde todos se reúnem em redor de um Jesus mobilizador das consciências. Esta é uma igreja à medida dos utentes: modesta de forma e potencialmente rica de fundo. Recusámos as ambições megalómanas das sósias Vaticanas, onde o Jesus de Belém decerto recusar-se-ia assentar arraiais, mais que não fosse pela configuração gémea do Capitólio, sede do poder capital e do armamento. Também não esperámos nenhum apoio do regional apoio ‘grego’ das estruturas governativas porque, pela experiência colhida na construção de outras igrejas madeirenses, tais apoios mais não são que rasteiros ‘cavalos de Tróia’ desejosos de penetrar nos aldeamentos da população rural. Ela aí está, a autêntica ‘Igreja Popular’, como o Povo canta, na mais genuína semântica deste qualificativo. Foi esta mais uma manifestação do Natal rejuvenescido no meio de nós.

\        IX

         2019

         Terá sido, porventura, a mais retumbante vitória deste rincão rural,, vitória contra a ditadura eclesiástica que, durante mais de quarenta e cinco anos manteve o decreto de afastamento do pároco, chegando a suspendê-lo ‘a divinis’, sem qualquer processo jurídico-canónico. Preferia que outrem sinalizasse e comentasse este procedimento anómalo, dado que, como é sabido, o caso tem a ver com o subscritor destas linhas. Apraz-me tão só relevar um sintoma que define a justiça eclesiástica, sucedânea da Igreja Inquisitorial, possessora de um poder discricionário sem rédeas e do mais supino direito processual, visto que neste caso os extremos tocam-se: o suposto “réu” foi condenado sem processo e, com a mesma insustentável leveza jurídico-canónica, sem processo foi absolvido!...

Ridicule, mais chatmant.

         Isto também é Natal, mesmo fora de Dezembro.

Encerro aqui, já em véspera de Festa,  o ciclo novenário das

tradicionais “Missas do Parto” do ano 2022, as últimas que me foram dadas para reflectir e mais tarde recordar.

Hoje, Festa do Perdão para a comunidade da Ribeira Seca, tentámos ver e viver em retrospectiva os Natais de outrora. Somos herdeiros de um legado de seiscentos anos, talentos e mediocridades, grandezas e misérias dos  nosso antepassados. Somos nós a “fénix renascida” do Brazão de Armas de Branca Teixeira. Neste renascer quotidiano, que legado deixaremos às gerações vindouras, que Natal transmitiremos?!...

 

23-24.Dez.22

Martins Júnior  

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