Ficou
branca a folha 25. E muda. E por ser branca e muda ficou plena.
Deixem a Parturiente em paz, esse despojo maior de todos os partos, após a
peleja interior de conceber e pôr no mundo um novo ser. É o silêncio
contemplativo o mais doce prazer e a mais bela homenagem à Mãe e ao Filho.
Por
favor, poupem-nos os ouvidos, descarbonizem-nos a mente, parem de poluir o ar
branco e puro do 25! Dêem uma oportunidade…
Por
coincidência, o silêncio cobriu o céu chuvoso de Machico quando, na manhã do
25, se espalhou a notícia da morte do “Grande Irmão”, o Padre António da Silva
Ramos, pároco de Piquinho e Preces. Meu Colega no Seminário, meu
Camarada-Capelão Militar, meu Confrade e Vizinho, ‘porta com porta’ entre
Ribeira Seca, Caramanchão e Ribeira Grande. Do muito que conversávamos sobre o
futuro incerto da Igreja na Madeira, tudo quanto do meu apreço e amizade já lho
disse em vida.
Mas o manto diáfano da Grande Nau que
transporta todos os mortais estendeu-se a todo o país quando o talentoso e
superdotado António Mega Ferreira fez, ele também, a viagem sem retorno. A obra
e as cartas - os livros – que nos deixou falam por si. Dispensa, pois, aquele
automático desfiar de litanias repetidas, (para mim, brigada do reumático de
serviço) para endeusar quem está reduzido às humanas cinzas mortuárias. Mega
Ferreira já não os ouve. Tudo o que dizem ao morto deviam tê-lo dito em vida.
Em horas e circunstâncias, talvez, em
que ele mais precisava. Dele e dos grandes “que da lei da morte se vão
libertando”, poderíamos parafrasear a velha e bela canção coimbrã:
Quando
eu morrer, rosas brancas
Para mi ninguém as corte
Quem delas prescinde na vida
De que lhes servem na morte
Se, porém, a folha 25 fica branca e
muda pelos fundamentos enunciados, a folha 27 exalta de júbilo transbordante por
um ‘novo renascimeno’: no Brasil, o imenso e intemerato coração do Padre Júlio Lancellotti
bate hoje a septuagésima quarta pulsação anual de uma partitura gizada ao ritmo
de um renovado “Grito do Ipiranga” em defesa do direito e da justiça no seu
país e no mundo. Cada qual no seu lugar e no seu tempo, Lancellotti entra na
galeria tormentosa e gloriosa de um Helder Câmara, António Fragoso, Calheiros,
Boff no Brasil e António Ferreira Gomes, José Felicidade Alves, Mário Tavares
Figueira, em Portugal.
Júlio,
estamos contigo: a tua voz é a nossa voz!
À
Paz Branca e à Saudade silente do 25
E
ao clamor felicitante do 27
O
ABRAÇO QUE NOS UNE E FORTALECE !
27.Dez.22
Martins Júnior
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