quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

LISBOA, KIEV E MACHICO – A TRÍADE COMUM A TODOS OS POVOS LIBERTADOS!

                                                                              


Se de cada vivente se repete a clássica definição que nenhum deles é uma ilha, pela mesma razão dir-se-á que nenhum acontecimento vegeta isolado de tudo quanto mexe e circula nesta redoma planetária em que vivemos. Por muito longe que estejamos, tudo e todos ficamos tão perto. Queiramos que não queiramos, lá vamos carambolando ao ritmo das circunstâncias que nos embalam, que nos destroem ou, na melhor das hipóteses, nos reabilitam para a vida.

Ontem e hoje, nesta passagem de nível para o derradeiro mês de 2022, viveu-se em Machico a tríplice erupção  de acontecimentos - distantes no tempo e no território, mas coincidentes no denominador comum activo, no espírito que os anima. Com a mesma emoção que viveram os intervenientes em cada um dos três factos históricos, quereria eu transmiti-los também, de alma aberta e coração fremente, a todos os que  me acompanham neste veículo de comunicação virtual.

Primeiro de Dezembro – a notícia libertadora de um país e de um povo que sacudiram o jugo estrangeiro a que estavam condenados por via de calculistas alianças conjugais entre Portugal e Espanha. Não obstante o despudorado aproveitamento político desta gloriosa data por parte do fascista Estado Novo durante 48 anos, permanece intacta e firme a vaga avassaladora de 1640, reeditada em 25 de Abril de 1974.

Para que tais vitórias se alcançassem, muitos foram os que tombaram sob o ferrete inexorável de regimes totalitários, - muitos deles autênticos ‘heróis desconhecidos’ – que deram corpo e alma, talento e braços, enfim, a própria vida, para quebrar as amarras que sufocavam o povo a que pertenciam.

Entre muitos, erguemos Francisco Álvares de Nóbrega, o Poeta agrilhoado nas algemas da Inquisição, Cadeia do Limoeiro em Lisboa, vítima dos instintos insaciáveis do bispo de então no Funchal, José da Coata Torres e mais tarde libertado por diligências do novo bispo Luís Rodrigues Vilares. Cumprindo o preito de homenagem e gratidão ao talentoso vate de Machico, o Município, a Junta de Freguesia e a ‘EFAN-Estudos Nobricenses’ evocaram a efeméride do seu nascimento, o “30 de Novembro de 1773”, com o anúncio dos galardoados no concurso anual alusivo à vida e obra de Francisco Álvares de Nóbrega e a recitação de alguns sonetos, destacando-se aquele que dedicou `A Pátria do Autor’ (Machico) – o Hino  da Freguesia – com fundo musical pela Tuna de Câmara de Machico.

Como sempre, a Tuna encerrou a sua prestação artística com o Hino da Ucrânia, contributo anímico deste Município ao Povo Ucraniano, tendo então sublinhado a vereadora da Cultura, Dra.Mónica Vieira, que na Ucrânia e em muitos países haverá decerto outros ‘Francisco Álvares de Nóbrega’ lutando encarcerados pela emancipação das suas gentes.

E o insólito aconteceu. Três jovens entraram imprevistamente na Sala onde decorriam – e já terminavam – as comemorações. De momento, quiseram identificar-se. Eram ucranianas. E explicaram o porquê da sua presença. “Estávamos passeando na alameda – disseram em perfeito inglês – e ouvimos tocar o hino do nosso país. Entrámos logo, por isso pedimos desculpa”.

Mais surpreendidos ficámos nós, os participantes no evento. E de imediato, pedimos-lhes que fossem elas próprias a cantar o Hino da Urânia, acompanhadas pela Tuna, o que logo fizeram sem qualquer hesitação.

Foi uma apoteose, uma emoção indescritível, deixando-nos a impressiva  certeza de que nenhum de nós é uma ilha. E a sensação planetária de que nada acontece isoladamente. Mesmo longe, tudo está perto. E nós também.


01.Dez.22

Martins Júnior

 

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