Tal
como sucede com os densímetros avaliadores dos homens (que não se medem aos
palmos) assim também acontece com as homenagens, cuja densidade não se afere
pela barafunda publicitária, quantas vezes falaciosa e subserviente ao poder e
ao dinheiro. Valem as homenagens pela frescura transparente das emoções, fruto
da lealdade eloquente da sensibilidade e da lógica, mais que as girândolas do
palavrório rotineiro.
A
exaltação do Pe. Mário Tavares Figueira, ontem, na Ribeira Seca --- para
comemorar a terceira década vitoriosa contra as arremetidas tribais do poder
religioso e do poder político em 1985 --- foi um perfeito momento do verdadeiro
preito de homenagem prestada a alguém: Longe dos olhares turvos da imprensa
local e das embaciadas lentes das câmaras televisivas, desenrolou-se um vasto
cenário de intimismo, grandeza e profundeza de conceitos e sensações, digno de
uma paisagem multicolor, quase mística.
No
templo da Ribeira Seca, os amigos sacerdotes
Pe. José Luís Rodrigues, o Prof. Dr. Pe. Anselmo Borges e eu próprio. À
roda da mesa comum da ara sagrada, a comunidade local e os muitos amigos, uns
daqui da ilha e outros, de mais longe, associaram-se a este júbilo colectivo,
quer presencialmente quer através das muitas mensagens que ali foram lidas.
Gente do povo, professores, intelectuais, políticos, poetas e até os titulares
autárquicos, presidente da Câmara Municipal e presidente da Junta de Freguesia,
a que se juntaram o genuíno canto popular religioso e as primorosas vozes do Grupo Coral de Machico,
todos confluíram no mesmo efusivo abraço ao Pe. Tavares. Dado o tempo chuvoso
que caía sobre o adro, os brindes e o partir do bolo fizeram-se mesmo dentro do
templo, prolongando o espírito da comunhão eucarística.
Embora
já lhe tenha dedicado a minha saudação no acróstico editado no anterior “dia
ímpar”, aproveito o ensejo para, entre a vasta enciclopédia que é a trajectória
do Pe. Tavares, destacar três momentos históricos que marcam a vida corajosa
deste homem:
1º
- Aquando da ocupação da igreja da Ribeira Seca, enquanto o bispo Teodoro
invocava o código canónico para dizer que o padre tem de estar com o bispo para
poder estar com Cristo, pois o Pe. Tavares escreveu-lhe uma famosa carta aberta
onde citava um outro normativo, este evangélico e universal: “Para que o
padre esteja com o bispo, é necessário primeiro que o bispo esteja com Cristo”,
significando que aquela ocupação era
a demonstração de que a atitude episcopal estava do avesso do exemplo de Cristo.
2º
- Para que o povo tomasse consciência do seu poder comunitário, fundou na sua
paróquia o cooperativismo que, como na cerimónia muito bem disse o Pe. Dr.
Anselmo Borges, é este sistema --- o cooperativismo --- que melhor actualiza o
autêntico padrão social do Evangelho.
3º
- Quando o bispo, o mesmo que mandou ocupar o citado templo, afirmou que o
pederasta Pe. Frederico, seu secretário particular, (condenado a 17 anos de
cadeia) era comparável a Jesus inocente na Cruz, aí o Pe. Tavares não suportou uma blasfémia tão sacrílega, então rompeu
abertamente e deu um outro rumo à sua vida, tornando-se deputado da CDU na
tribuna da Assembleia Regional onde passou a defender uma sociedade limpa,
combatendo vigorosamente a escandalosa aliança, até às raias da submissão da
diocese ao governo da Madeira.
Cada
um destes momentos históricos, só por si, bastaria para assinalar e imortalizar
a personalidade inquebrável de um Homem ao serviço de toda a Humanidade. A
História escreve-se com gente desta estirpe.
Obrigado,
Pe. Tavares. Como afirmou um elemento da nossa comunidade, sem o Pe. Tavares a
Ribeira Seca hoje não seria o que realmente é.
23.Mar.2015
Martins Júnior
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