Hoje,
em fim de tarde, só vejo o filme. Sem paixões, nem sequer emoções de circunstância.
Ajeito apenas os binóculos da serenidade
e da lógica, enquanto os ganhadores abrem garrafas de champanhe e os perdedores
compram lenços de enxugar mágoas.
Primeiro
grande plano: ao PSD foi-lhe oferecida a tal, para os madeirenses, deficitária fasquia chamada Maioria Absoluta.
Não de votos, mas de mandatos: 24. Não tanto pela apregoada “Renovação” , pois
lá estão à sua ilharga pesos pesados (mas escondidinhos e tristonhos na foto da
vitória) os que estiveram no berçário do
partido desde há 40 anos. Interpreto o triunfo alcançado como o prolongamento
daquele tufão que saturou a Região e que até à véspera das eleições mais
acentuou esse enjoo na vala comum das inaugurações, mal disfarçando os antigos
resquícios de vingança contra o agora eleito presidente do GR. A ordenança ao
Primeiro Ministro para não vir à Madeira em campanha completou o menu das
ajudas. Tudo isto somado ao mérito dalguns quadros que compõem a equipa
vencedora.
Aos
jovens de Gaula só desejo que a euforia deste primeiro amor, preparado pelo
trabalho sério nas autarquias do seu concelho, não esmoreça nem crie aqueles
amuos palacianos que se agarram aos movimentos quando transformados em
partidos. Cuidado com os “verdes anos”!
Ao
Bloco de Esquerda, parabéns: a travessia de quatro anos fora do parlamento imprimiu-lhes
vigor para recuparar o horizonte então perdido. O seu trabalho porfiado entre
as populações e a favorável divulgação
pela comunicação social chegava a convencer-nos de que sempre gozavam do
estatuto de representação parlamentar.
À
CDU, “idem”, na pessoa do seu líder, cuja intemerata seriedade de acção não tem
paralelo na história do Parlamento Regional.
Ao
CDS, louva-se a capacidade de passar mais ou menos enxuto por entre as portas
manhosas e as cristas de ondas salgadas onde se meteu na campanha eleitoral.
Ao
PND, o bem merecido tributo pela frontalidade e persistência diante de muros e
armadilhas que lhes passaram aos pés. Entendo que o seu humor, além de saudável
e pedagógico, tornou-se mais corrosivo que muitos discursos tão inflamados
quanto inúteis.
Relativamente
ao PS, coro de vergonha por este ter deixado “entronizar” na sua sede aquilo
que considero o paradoxo mais inconcebível da organização política: a junção
obtusa da infantilidade com a senilidade
prematura. Há tanto tempo que vejo esta fita e, oportunamente, a denunciei. E
não só eu. Não quiseram ouvir os pré-avisos da derrocada e aí a têm de presente
amargo. A sociedade, os madeirenses têm de pedir contas à corte que o rodeia.
Também ao anterior líder, actualmente na Assembleia da República que jogou fora
das listas os três deputados de Santa Cruz. É ele também co-responsável pelo
nascimento e pelo sucesso da JPP. Os erros de hoje pagam-se caro amanhã.
Finalmente,
conforta-me o largo espectro do novo Parlamento: colorido, fresco, tocado por
aquele timbre de que falava Goethe, com “ânsias
de subir, cobiças de transpor “ os obstáculos ao serviço dos seus
constituintes, os eleitores. Faltou apenas a cereja em cima do bolo: uma
maioria relativa, em vez da maioria absoluta, que refreasse os tiques
hereditários de um passado, aparentemente enterrado neste dia 29 de Março.
A
mudança da hora de inverno para a hora de verão seria um amistoso presságio,
mas não foi. Os relógios adiantaram uma hora, mas a Maioria ficou parada no
inverno do absolutismo. Assim ditou o Voto.
Termino
da mesma forma como me dirigi aos autarcas vitoriosos de 29 de Setembro de
2013: Quatro anos passam-se depressa. E, parafraseando Sérgio Godinho, repito
aos governantes e deputados eleitos: Lembrai-vos que hoje é o primeiro dia do resto
do vosso mandato.
29.Mar.2015
Martins Júnior
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