domingo, 15 de março de 2015

CONTRA AS MAIORIAS ABSOLUTAS DA ILHA, MARCHAR, MARCHAR!


Aprecio os teorizadores, venero os filósofos mas, acima de todos, curvo-me e acompanho os fazedores, os operacionais. O mais poderoso alicerce do pensamento não passa de um fraco, quase inútil construtor se não produzir a acção. Na tradução da sabedoria popular: “Por agora, não quero quem saiba, quero é quem faça”.
         Trago este axioma de Lineu precisamente no início de mais uma campanha eleitoral. E aqui chamo à mesa do debate o povo, os eleitores, convocando-os (melhor, convocando-nos todos)  não para o ruminar cansativo de programas e promessas sempre iguais, mas para um acto prático e eminentemente produtivo nesta estação.
Parto do velho princípio da literatura latina Natura non facit saltus, “a natureza não se constrói aos saltos, querendo com isto significar que a verdadeira evolução e o crescimento sustentável não se fazem abruptamente, mas gradativamente, tal como o pomar ressequido não volta a produzir com os caudais da  aluvião mas com a serena e regular pressão da chuva miudinha.
Ora, o que têm vindo a apregoar os filhotes da “Madeira Nova”  --- e todos os outros querem o mesmo, embora não se atrevam a dizer --- é a conquista  da maioria absoluta. Pois bem, feitas as contas e as retrospectivas, concluo que  a oferta dos  madeirenses a uma nova maioria absoluta é o que há de mais pernicioso para a educação política de um povo ilhéu que acaba de sair de uma anacrónica e carunchosa  maioria absoluta de 38 anos de canga em cima da gente. A mãe de todos os abusos, recalcamentos e embustes, tanto a nível social, como nas áreas da cultura e da economia só têm um nome: maioria absoluta. “Se queres conhecer vilão mete-lhe a vara na mão”. É isto que os meus olhos têm constatado no pós-25 de Abril regional. A maioria absoluta nas mãos do vilão torna-o cego e surdo aos clamores dos ofendidos e humilhados que lhe deram o voto. Já vem de longe o veredicto irrefragável: “O Poder corrompe sempre e o Poder absoluto corrompe absolutamente”.
         Temos de convencer-nos que só haverá políticos sérios quando eles temerem o povo. Ora, se o povo lhes dá a maioria absoluta, eles deixam de temer o povo. Admitiria, porventura, uma maioria absoluta para os melhores se vivêssemos num regime de democracia participativa, em que os eleitores possuíssem instrumentos legais para intervir directa e prontamente nas propostas dos decisores, como acontece com o instituto do referendo e consultas populares, situação que nunca foi aceite pelos nossos governantes.
Como o nosso regime é tão-só uma democracia representativa, em que os eleitores ao darem o voto aos deputados perdem toda a sua força durante quatro anos (na Madeira, repito, foram 38 anos) então adeus soberania popular, adeus direitos de cidadania. Ao triste e enfezado povo só lhe chega a força de quatro em quatro anos. E para quê? Para apertarem ainda mais a corda ao próprio pescoço.
Abramos os olhos e eduquemos a nossa intuição reactiva. Os madeirenses, escaldados de quase quatro décadas de pontapés e escarros que lhe atiraram da Quinta Vigia, terão coragem de lá pôr um suplente absoluto que salta do banco para desatar outra vez aos pontapés e aos canivetes de calhau?... Tenham juízo!  Fujam dele como o diabo da cruz” . Seja de que partido for.
         O povo e os políticos madeirenses precisam de uma cura de autêntica democracia representativa, enquanto não ganham a tão suspirada e adulta democracia participativa. Todos temos de fazer esta catarse (esta limpeza) ideológica e pô-la em acção. Hão-de ver os poderosos senhores andar todos os dias  (e não de quatro em quatro anos) de chapéu na mão mendigando o nosso voto. Ai, quando é que os meus conterrâneos acordam para a arma mais potente e silenciosa que têm na mão: o VOTO?... Haveríeis de passar, como eu passei, pelos bancos de uma câmara ou de um parlamento e ser humilhado como eu fui, só porque o povo deu de graça  a maioria absoluta a um partido, repito, seja ele qual for!!!
         É tempo de acção. Aqui e agora.
         Na Madeira, aqui e agora, contra as maiorias absolutas, marchar, marchar! 

15.Mar,2015
Martins Júnior

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