Aprecio os teorizadores,
venero os filósofos mas, acima de todos, curvo-me e acompanho os fazedores, os
operacionais. O mais poderoso alicerce do pensamento não passa de um fraco,
quase inútil construtor se não produzir a acção. Na tradução da sabedoria
popular: “Por agora, não quero quem saiba, quero é quem faça”.
Trago
este axioma de Lineu precisamente no início de mais uma campanha eleitoral. E
aqui chamo à mesa do debate o povo, os eleitores, convocando-os (melhor,
convocando-nos todos) não para o ruminar
cansativo de programas e promessas sempre iguais, mas para um acto prático e
eminentemente produtivo nesta estação.
Parto do velho princípio
da literatura latina Natura non facit
saltus, “a natureza não se constrói aos saltos, querendo com isto
significar que a verdadeira evolução e o crescimento sustentável não se fazem
abruptamente, mas gradativamente, tal como o pomar ressequido não volta a
produzir com os caudais da aluvião mas
com a serena e regular pressão da chuva miudinha.
Ora, o que têm vindo a
apregoar os filhotes da “Madeira Nova”
--- e todos os outros querem o mesmo, embora não se atrevam a dizer ---
é a conquista da maioria absoluta. Pois
bem, feitas as contas e as retrospectivas, concluo que a oferta dos madeirenses a uma nova maioria absoluta é o
que há de mais pernicioso para a educação política de um povo ilhéu que acaba
de sair de uma anacrónica e carunchosa maioria absoluta de 38 anos de canga em cima
da gente. A mãe de todos os abusos, recalcamentos e embustes, tanto a nível
social, como nas áreas da cultura e da economia só têm um nome: maioria
absoluta. “Se queres conhecer vilão mete-lhe a vara na mão”. É isto que os meus
olhos têm constatado no pós-25 de Abril regional. A maioria absoluta nas mãos
do vilão torna-o cego e surdo aos clamores dos ofendidos e humilhados que lhe
deram o voto. Já vem de longe o veredicto irrefragável: “O Poder corrompe
sempre e o Poder absoluto corrompe absolutamente”.
Temos
de convencer-nos que só haverá políticos sérios quando eles temerem o povo.
Ora, se o povo lhes dá a maioria absoluta, eles deixam de temer o povo.
Admitiria, porventura, uma maioria absoluta para os melhores se vivêssemos num
regime de democracia participativa, em que os eleitores possuíssem instrumentos
legais para intervir directa e prontamente nas propostas dos decisores, como
acontece com o instituto do referendo e consultas populares, situação que nunca
foi aceite pelos nossos governantes.
Como o nosso regime é tão-só
uma democracia representativa, em que os eleitores ao darem o voto aos
deputados perdem toda a sua força durante quatro anos (na Madeira, repito,
foram 38 anos) então adeus soberania popular, adeus direitos de cidadania. Ao
triste e enfezado povo só lhe chega a força de quatro em quatro anos. E para
quê? Para apertarem ainda mais a corda ao próprio pescoço.
Abramos os olhos e eduquemos
a nossa intuição reactiva. Os madeirenses, escaldados de quase quatro décadas
de pontapés e escarros que lhe atiraram da Quinta Vigia, terão coragem de lá
pôr um suplente absoluto que salta do banco para desatar outra vez aos pontapés
e aos canivetes de calhau?... Tenham juízo!
Fujam dele como o diabo da cruz” . Seja de que partido for.
O
povo e os políticos madeirenses precisam de uma cura de autêntica democracia
representativa, enquanto não ganham a tão suspirada e adulta democracia
participativa. Todos temos de fazer esta catarse (esta limpeza) ideológica e
pô-la em acção. Hão-de ver os poderosos senhores andar todos os dias (e não de quatro em quatro anos) de chapéu na
mão mendigando o nosso voto. Ai, quando é que os meus conterrâneos acordam para
a arma mais potente e silenciosa que têm na mão: o VOTO?... Haveríeis de
passar, como eu passei, pelos bancos de uma câmara ou de um parlamento e ser
humilhado como eu fui, só porque o povo deu de graça a maioria absoluta a um partido, repito, seja
ele qual for!!!
É
tempo de acção. Aqui e agora.
Na
Madeira, aqui e agora, contra as maiorias absolutas, marchar, marchar!
15.Mar,2015
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário