Pegou
num azorrague improvisado e, furiosamente, correu com os negociantes,
escorraçou o gado que vendiam, tombou as mesas dos banqueiros que ali trocavam
moeda e bradou em alta voz:”Fora daqui! Fizestes da Casa do meu Pai uma casa de
comércio!
O
sujeito activo deste sobressalto não foi um polícia nem um centurião romano nem
um fanático jihadista. Foi, nem mais nem menos, o protótipo da tolerância, do
diálogo, do perdão, o nosso J:Cristo, conforme vem narrado no texto de Marcos,
ontem difundido nas cerimónias dominicais para todo o mundo. O cenário foi o
Templo de Jerusalém. Mas poderia sê-lo hoje, aqui e agora.
Hoje!
Traz o
“Le Monde”, em 1ª página, a notícia de cidadão francês emigrado na Alemanha Thomas Bores a quem o fisco cativou um montante de 550 € ,
ao abrigo do acordo entre o governo e
as Igrejas, por força do qual o cidadão
tem de descontar para o culto. Não
obstante ter-se declarado actualmente sem
religião, o bispo de Berlim mandou pedir ao episcopado francês que lhe mandasse
a certidão de Baptismo do homem. O caso envolveu o deputado francês Pierre-Yves
le Borgn que contestou a pretensão do berlinense com base na directiva europeia
95/46 CE que proíbe a divulgação de tal informação para fins de ordem
tributária. Enquanto o litígio continua, refere o matutino que “o episcopado
alemão, em confronto com Roma, nega os
sacramentos aos católicos incumpridores do dito imposto. Diz ainda que para
“desvincular-se da sua religião será penalizado numa coima de 30€”. Ninguém, por certo,
deixará de censurar este estranho conúbio entre os dois poderes, degradante e
contra-natura, de constituir-se o Estado em cobrador dos impostos que depois
entregará às Igrejas.
Estamos perante o grave
escândalo de uma religião, seja ela qual for, que, em nome de um Cristo proletário, se
apresenta majestosa e opulenta, quer na magnificência dos templos, quer no
fausto dos seus “príncipes”, dos seus
palacetes residenciais e, pasme-se, na simoníaca invenção das suas instituições
bancárias, o sacrílego Banco do Vaticano, onde os sacrifícios de muitos milhões
de cristãos pobres se misturam com o dinheiro
sujo das máfias. Que luta
titânica tem enfrentado Francisco Papa para exterminar os corvos peçonhentos da
Cúria financeira!
Neste entretenimento fraterno com os meus amigos,
fico-me bordejando em volta da mensagem
--- actualíssima ! --- do domingo, alargando para o magno problema que a Igreja Romana ( e todas
as outras, salvo raríssimas excepções particulares) tem de resolver e que a
torna tão vulnerável e subserviente aos magnatas das finança, aos governos e
seus apaniguados. Determinados templos madeirenses, afrontosamente alteados no
meio de gente pobre, mais não foram que o passaporte para manter no poder os
mesmos de sempre. Que será feito desses
garbosos monumentos daqui a tempos? A quem leu hoje o DN de Lisboa não
terá sido indiferente a manchete: “Livraria,
cinema, Museu do Dinheiro: a segunda vida das igrejas”. Citam-se, entre outras, a igreja de Santiago,
em Óbidos, e a de S.Julião, em Lisboa.
Em conclusão: “Uma Igreja
pobre para os pobres”, lema de Francisco, não pode habitar sob o mesmo tecto
onde se chocalham sacos de esmolas em horas sagradas, onde se vendem (alugam-se)
velas, caveiras e braços e pernas de cera pela mãos de funcionários que têm o
desplante de autocognominar-se “funcionários de Deus”.
Não podia deixar de
situar estes considerandos na comemoração dos 30 anos da ocupação da igreja da
Ribeira Seca. É que este foi também mais um forte pretexto que levou o poder
religioso a ostracizar aquela comunidade: a recusa em levar dinheiro ao
Paço Episcopal. Para apoiar causas nobres, como foi o caso de Timor, de Moçambique,
da Luta contra o cancro e similares, ela esteve e está sempre presente. Para o mafioso Banco
do Vaticano e suas sucursais nas dioceses, nem um cêntimo. Pensamos estar na Verdade.
Martins Júnior
03/Mar/2015
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