Acaso ou não, o certo é que o DIA
INTERNACIONAL DA MULHER, em 8 de Março de 1985, intercalou-se no mais aceso da
luta da comunidade da Ribeira Seca, tendo sido as mulheres uma força decisiva
na construção da vitória contra as hostes invasoras ao serviço do governo e da
diocese. Aliás, é consabido que ao longo da história elas ocuparam a vanguarda
de muitas lutas, sobretudo, nas zonas rurais e nas vilas piscatórias, visto que
os homens constituíam a única fonte de rendimento capital para os seus
agregados familiares, enquanto às mulheres ficava reservado o papel de mães,
educadoras, programadoras dos trabalhos domésticos, estatuto este que lhes
conferia uma posição de charneira no
plano colectivo das comunidades. Lembremo-nos,
em Portugal, da chamada revolução da “Maria da Fonte” e da corajosa ceifeira
alentejana Catarina Eufémia.
Neste
dia ímpar que estende o seu manto sobre todo o dia de amanhã, quero homenagear
as mulheres todas do mundo e, com particular afecto as mulheres da Ribeira
Seca, umas ainda vivas, outras já falecidas,
que afrontaram perigos e ameaças, processos e prisões, de que saíram
vitoriosas nesta página, a um tempo dolorosa e gloriosa, da história desta
comunidade. Ei-las a bordar, na foto, guardando a igreja que construíram. Isto
aconteceu quando a organização bombista “FLAMA” ameaçava fazer explodir o
referido templo,
À
MULHER UNIVERSAL E INTEMPORAL dedico este poema, onde pretendo radiografar o
cenário claro-escuro e o sabor agridoce da condição feminina, não só na
vertente Mulher-Mulher, mas também na sua transfiguração soberana esparsa nos
três reinos da natureza: o animal, o vegetal e o mineral. Em tudo mora o
feminino.
DONA DOS
TRÊS REINOS
Mulher-águia
imperadora dos ares
Prendada
e predadora
Mulher-leão
sentinela de juba armada
Ciosa
e devoradora
Mulher-víbora
onde o abraço é um sufoco
E
onde a noite se abre em branca aurora
Mulher-pétala
perfume
E
embondeiro bravo
Que
umas vezes é terna sombra-mãe
Outras
ruim ferro que sorve em lume
O
verde que a terra tem
Mulher-água,
mar e mária
Pauta
stradivária
E
promontório, magma,
Que
tanto rebenta
Quanto
sustém
Os
fantasmas da tormenta
Mulher-Mulher
Contradição
e oráculo
De
enigmática Pitonisa
No
teu seio-receptáculo
Da
vida
Outros
mundos dás ao mundo
Milagre
eterno que faz
Teu
ser de mãos frágeis imperfeitas
Que
é sempre mais o que dás
Que
tudo quanto aceitas
Nos
três reinos naturais
Há
sempre
Um
coração de mulher
Dona
e patrona dos mortais
Ou
pedra ou voo ou malmequer
Cobiçada
fémina Fénix
Nome
doce de Mulher
7/8.Março,2015
Martins Júnior
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