Já
aqui declarei que não me comovem nem me divertem os trapos de notícias
caseiras. Não merecem olhos nem ouvidos. Mas desta vez, a água que passou sob a
ponte movediça dos dias trouxe velharias tais, embrulhadas em papel selado do
antigamente, que conseguiram mexer com a bossa craniana do mais escancarado
sarcasmo. Refiro-me ao “Canto I” da peregrina comédia do novo Parlamento. Quando
se esperava um sopro galvanizador, talvez um “golpe de asa” por parte da vitoriada
“Renovação”, eis que o primeiro rasgo daquelas cabecinhas pensadoras foi, nem
mais nem menos, um voar de cadeiras ou de qualquer coisa eufemistic amente
designados por assentos daqueles corpos, muitos deles inquilinos virgens na
nova casa, um feito que nem lembrava aos velhos caquécticos de há quarenta anos.
Começam bem, pelo essencial, pelos cacos almofadados. E não me movo para mais
comentários, pelo ridículo dos “cristãos novos” amarelados. Apenas chamo a
atenção dos homens e mulheres da Oposição para o sinal “laranja” que isso
significa. Preparem-se para as “guerras de alecrim e manjerona” daquela arena.
Tocou-me
este grotesco episódio pois que pessoalmente assisti ao primeiro voar de
cadeiras. E porque “ridendo castigo mores”
(o riso também ensina, em tradução livre), aqui vai o relato que melhor
fora vê-lo que conta-lo:
Eram
as duas da manhã. Discutia-se o magno documento do Plano e Orçamento; aquilo ia
noite-dentro para dissimular, nos noticiários do dia seguinte, a inércia
forçada a que a maioria sujeitava todos os deputados. Naquela hora de sono e,
muitíssimas vezes de descontrolo (sabe-se lá porquê) estava no (ab)uso da
palavra o “Orador”, presidente do Grupo Parlamentar do PSD. E, como habitualmente
falava sempre ao estilo de caserna fina, desancava em cima de mim toda a raiva
que ainda mais subia de tom porque da minha parte só mereciam esquivos bocejos.
No meio daquele enfurecido vulcão de lava preta, ouve-se da galeria uma voz que
espalhou por toda a sala: “Primo,,, ( e pronunciou o nome do “Orador”) não
maltrates o padre Martins”. Aquilo foi uma bomba, mais redonda que o hemiciclo,
ou seja, do ciclo, mais propriamente daquele circo. O presidente mobiliza os funcionários,
clama pela polícia e põem o homem na rua. E, no início da sessão legislativa
seguinte, o PSD (leia-se, o dito “Orador”, presidente do grupo parlamentar da
maioria) requer a inversão de lugares: O PSD à esquerda da Mesa e os restantes
à direita. E assim se manteve a praxis até ontem.
Perguntar-me-eis:
“Onde está a graça”?... Por isso, eu disse acima que isto era bem mais
divertido de ver que de contar. Explico. Quando se deu este episódio
herói-cómico, o PSD ficava à esquerda da Mesa. Porquê? Precisamente porque
ficava frente à galeria dos visitantes e aí tornavam-se mais visíveis e “brilhantes”
as piruetas verbais e gestuais dos seus deputados. Embora com a desvantagem de
ter as “cameramen” pelas costas. Após o protesto do “primo”, saído da galeria
cara-a-cara com o “Orador”, o caldo entornou-se, os tiros do dito “Orador”
saíram pela culatra, todo ele enxovalhado e furioso, por circunstância que me
dispenso de esmiuçar.
Assim
se operou a transposição dos assentos. Há uns vinte anos, ou mais. E agora vêm os
cosmonautas da “RENOVAÇÃO” renovar o que já fora renovado, ou seja, restabelecer
a velhice rançosa que eles mesmo puseram na rua. Boa estreia!
Quanto
ao CDS, o meu alvitre é que não se incomode. Deixe lá os velhos “caloiros” do PSD ostentarem os assentos da sua verdadeira
identidade: estão mais à direita do que o CDS.
Não
terá graça nenhuma esta novelazinha, entre tantas, daquela velha casa. Ou tê-la-á por não tê-la. Mas
ajuda a ver as voltas que o mundo dá. Também o da política.
15.Abr.2015
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário