terça-feira, 7 de abril de 2015

PARA QUEM NÃO MORRE!

Perante a inexorável autoridade da morte de um amigo, seca-se-nos a voz ao céu da boca, tolhem-se-nos os braços e as mãos em cima de uma folha pálida que nos chama a escrever.
E que morte!
A de um vizinho da mesma freguesia,  da mesma rua, porta com porta. A de um adolescente, meu aluno no seminário diocesano. A de um combatente que sempre fez correr  nas veias o ADN das gentes de Machico, de um outro Nóbrega, o Francisco Álvares.
Estranhei o silêncio dos nossos telemóveis  (agora sei o porquê)  nesse histórico dia 2 de Fevereiro, o do teu nascimento e o da minha mãe, da “vizinha Maria”, como carinhosamente lhe chamavas, mesmo depois da sua partida, anos (para mim, uma eternidade) antes de ti.
 Foi o teu “Adeus Às Armas”. Lembro-me de quando disseste naquela roda de cépticos que nos cercavam: “A minha arma é esta!”. E puxaste a esferográfica do bolso da tua camisa branca.
Obrigado por teres preferido vir morar em Machico, para sempre. Por isso, escrevo na porta-lápide do teu novo apartamento: ”O Repouso do Guerreiro”.  De uma outra guerra: da claridade contra o obscurantismo, da liberdade contra a escravidão.
Se as encontrares dá um beijo à “vizinha Silvana”, tua mãe; à “vizinha Maria”. a minha.  E não te esqueças do abraço meu ao José Júlio, por quem tanto choraste naquele momento fatídico que, sem o saberes, prenunciava o teu.
Por cá, ficamos com a saudade: a Elsa e os filhos. A Odete e a Ariete, tuas irmãs. Enfim, nós, a tertúlia informal do “encontro” de fim-de-tarde.
 Já que te coube viver  a  paixão e morte, em tempo coincidente com a comemoração do Combatente-Mór,  vamos trazer-te a Páscoa connosco, nas páginas que escreveste, na tua luta sempre presente.
E por aqui me quedo com este voto: que alguém, o “Diário”, o “Público” ou um “Mecenas”, reúna em volume, muitos de certeza, os teus escritos. Sem eles, fica incompleta a história das últimas quatro décadas da nossa Madeira!
E não te digo adeus, porque em 25 de Abril estarás de volta! Connosco!

7.Abril.2015

Martins Júnior

2 comentários:

  1. Linda de comoventes palavras, de um amigo para outro, que de certa forma continua entre nós. Paz a sua alma.

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  2. Palavras com a cor dos céus. Esse "Arco de Iris" de terras de Machico que o Tolentino levou consigo.

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