Perante
a inexorável autoridade da morte de um amigo, seca-se-nos a voz ao céu da boca,
tolhem-se-nos os braços e as mãos em cima de uma folha pálida que nos chama a
escrever.
E
que morte!
A
de um vizinho da mesma freguesia, da
mesma rua, porta com porta. A de um adolescente, meu aluno no seminário
diocesano. A de um combatente que sempre fez correr nas veias o ADN das gentes de Machico, de um
outro Nóbrega, o Francisco Álvares.
Estranhei
o silêncio dos nossos telemóveis (agora sei
o porquê) nesse histórico dia 2 de
Fevereiro, o do teu nascimento e o da minha mãe, da “vizinha Maria”, como
carinhosamente lhe chamavas, mesmo depois da sua partida, anos (para mim, uma
eternidade) antes de ti.
Foi o teu “Adeus Às Armas”. Lembro-me de
quando disseste naquela roda de cépticos que nos cercavam: “A minha arma é esta!”.
E puxaste a esferográfica do bolso da tua camisa branca.
Obrigado
por teres preferido vir morar em Machico, para sempre. Por isso, escrevo na porta-lápide
do teu novo apartamento: ”O Repouso do Guerreiro”. De uma outra guerra: da claridade contra o
obscurantismo, da liberdade contra a escravidão.
Se
as encontrares dá um beijo à “vizinha Silvana”, tua mãe; à “vizinha Maria”. a minha.
E não te esqueças do abraço meu ao José
Júlio, por quem tanto choraste naquele momento fatídico que, sem o saberes,
prenunciava o teu.
Por
cá, ficamos com a saudade: a Elsa e os filhos. A Odete e a Ariete, tuas irmãs.
Enfim, nós, a tertúlia informal do “encontro” de fim-de-tarde.
Já que te coube viver a paixão e morte, em tempo coincidente com a
comemoração do Combatente-Mór, vamos
trazer-te a Páscoa connosco, nas páginas que escreveste, na tua luta sempre
presente.
E
por aqui me quedo com este voto: que alguém, o “Diário”, o “Público” ou um “Mecenas”,
reúna em volume, muitos de certeza, os teus escritos. Sem eles, fica incompleta
a história das últimas quatro décadas da nossa Madeira!
E
não te digo adeus, porque em 25 de Abril estarás de volta! Connosco!
7.Abril.2015
Martins Júnior
Linda de comoventes palavras, de um amigo para outro, que de certa forma continua entre nós. Paz a sua alma.
ResponderEliminarPalavras com a cor dos céus. Esse "Arco de Iris" de terras de Machico que o Tolentino levou consigo.
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