Ainda estamos a tempo de considerar
jovem o 25 de Abril/74.
É o que demonstram as
múltiplas expressões públicas da sua vitalidade, umas mais espontâneas, outras
mais elaboradas. As multidões em Portugal Continental, sobretudo no coração de
Lisboa. Os imponentes murais. A evocação de Zeca Afonso e de tantos cantautores
de Abril, muitos deles com presença rememorada na Madeira, especialmente em
Machico. Na Assembleia Legislativa Regional, a mensagem multicolor dos diversos
representantes do povo. O toque de alvorada na sessão da Assembleia Municipal
do Funchal pela voz de um capitão de Abril. A “Távola Redonda” em Santa Cruz
sobre o ontem, o hoje e o amanhã da Revolução dos Cravos. As Tunas, exposições
(41 obras nos 41 anos), a Corrida da Liberdade entre Machico e Santa Cruz e, em
terras de Tristão Vaz, a confraternização dos muitos cultores de Abril coroada
com o emocionante concerto musical de crianças, jovens, Grupo Coral e
Universidade Sénior, enfim, um feixe de cravos vermelhos apertado ao peito de
distintas sensibilidades e gerações.
Mas
não faltaram também as piruetas. A começar pela serôdia despedida de Cavaco Silva
no Parlamento Nacional, cujo reiterado atrevimento nem pestanejou ao afirmar
que “ um dos mais importantes activos de Portugal, comparado com outros países da UE, é
a sua coesão social”. Com a alta taxa de desemprego, com ”mais de 640 mil
jovens e crianças na pobreza”, referem as estatísticas, e onde “há mais jovens a ir para a cama com
fome” (Margarida Gaspar de Barros), è preciso muito impudor para branquear o
negrume social vigente.
Outra facécia de cordel
foi o “casamento de conveniência” entre Coelho e Portas, um “cravado” ao peito,
outro encravado até à medula, numa pirueta própria de circo ambulante, mas
nunca de um “25 de Abril!
Na Madeira, em minha
apreciação, o que se passou na RTP/M, sob o signo “A Liberdade antes e depois
do 25 de Abril”, agregando velhos e novos numa sala de composição híbrida,
eclética e, por tal, inconclusiva, mais não foi que um propósito deliberado de
branquear 41 anos de “Estado Novo” na auto-proclamada “Madeira Nova”, incutindo
nos jovens e nos telespectadores a ideia de que
todo o mal foi antes de 74 e, daí até hoje, nada aconteceu de
atentatório à Liberdade e à Cidadania dos madeirenses.
O melhor de tudo, no
entanto, foi ouvir as versões unânimes
dos jovens presentes sobre o conceito de Liberdade, numa digressão enciclopédica que bem poderia
ser feita em qualquer cidade ou aldeia do mundo. Também
“mui terno e eloquente” foi o testemunho de certos semi-veteranos,
alguns encartados no sistema, ao exaltar aquela sala como produto da autonomia
regional, ou ao promover as mulheres, “porque antes de 74 não
podiam seguir a carreira de diplomatas e agora podem; ou, ainda, que antes não eram permitidas turmas
mistas nas escolas , mas agora sim”… E ainda toda a vela dada pelo
inquiridor-mór às baforadas da velha tecla, tresandando à pólvora da “Flama”
bombista: “nós estamos aqui a sustentar aqueles tipos lá de Lisboa para viverem
à grande”. Tudo isto passou aprovado sob o olhar complacente do censor e
entrevistador, sempre o mesmo e único que temos na casa-mãe dos ecrãs ilhéus.
Proteger o sistema regional --- foi o
desígnio oculto, mas não ocultado, do
moderador --- branquear o regime, sem
nada informar o público sobre a real situação repressiva, imposta no pós-Abril
da Madeira, pelo mesmo partido e pelo mesmo salazarismo disfarçado de
autonomismo.
Isto é mais que pirueta.
É embuste. É fraude É traição à gloriosa
data que nos devolveu a liberdade de expressão. E tanto mais censurável quanto
se esperava agora uma nova aragem na transição do cenário político decorrente
das eleições do recente 29 de Março. Enfim, mais do mesmo! Inclusive, cortar a
palavra a quem fora convidado a exercer o seu direito de opinião sobre a
Liberdade, não apenas antes de 74, mas também depois de 74.
Por
este caminho, os madeirenses vão ter de esperar
mais 40 anos para que
seja permitido aos jovens de hoje (já serão, então, pré-veteranos) debater a liberdade vivida (ou não) na
Madeira entre 1974 e 2015. Mas isto só
dependerá da vontade e do espírito crítico da população face aos seus órgãos de
comunicação social.
27.Abr.2015
Martins Júnior
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