OS MÁRTIRES
O espólio do futuro
Aqui jaz
Perfura o terro ingrato e duro
E acharás
Aquele rio sem nascente nem foz
Por onde correm e cantam
Ossos artérias e olhos
De todos nós:
Olhos que sonharam
mas não viram
Artérias que transportaram
mas não trouxeram
Ossos que incarnaram
mas não viveram
O milagre do sol
Feito cravo vermelho
Na noite escura
Menino de alva
Em flor
Por sobre a nossa sepultura
OS HERDEIROS
Irresistível que o saibas
O quê e o como,
O porquê e para quê do nosso 25
Porque colonizaram os teus avós
Não deixes colonizar-te!
Porque lhes amordaçaram a voz
O sonho e a arte
De ser livres
Não deixes definhar-te
Nas algemas do silêncio
No tarrafal do medo
Que de ti quer tomar parte!
Porque lhes secaram as veias
E as searas ao pão da sua fome
Vem à ribalta
De cidades e aldeias
Que fique mais nobre e alta
A ponta do estandarte
Da beleza, do amor, da igualdade!
Contigo jovem
Ninguém parte
O fulgor da tua lança
Que é de todos e que é tua
Larga bandeira que flutua
Como este cravo vermelho
Na mão doce da criança!
OS AMANHÃS QUE ESPERAM
Encontrarás ainda
O espólio do futuro
Deixado em testamento?
Basta que o creias
À hora do teu achamento
Ele espera por ti
Ele tem o teu nome
E se não o vires aqui
Ascende mais acima ou mais além
Mergulha mais fundo ou mais aquém
E acharás o sol antigo
Sem nascente nem poente
Feito cravo incarnado
No teu peito de soldado
Enquanto a terra girasse
E no mundo homem houvera
Um Abril sempre renasce
Está sempre à tua espera!
25.Abril.2015
Martins Júnior
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