Corre-se por amor. Corre-se por dinheiro. Corre-se por
espectáculo. Corre-se por stress. E corre-se, ainda, sem saber qual seja a
meta.
Mas hoje quero levantar mais alto que o Pico Ruivo quem
durante dois e três dias correu por convicção pura, por homenagem à terra, por
imperativo genesíaco: o coração a pulsar, lado a lado, do coração da mãe natura. Este, sim, é que merece ostentar a coroa do desporto-rei, o
esplendor nascente da força, do talento, da sensibilidade inteira, tal como dos
atletas olímpicos de outrora brilhavam
os louros da coroa vitoriosa.
Que beleza sonora a saudação das árvores campestres à sua
passagem, a vetusta e sempre jovem Laurissilva de onde os pássaros solistas
ofereciam o concerto dos seus gorjeios! Que porfiado serviço à floresta,
desbravando carreiros, remarcando trilhos,
valorizando o chão das levadas que lhes pagavam com espelhos de água refrescando
o corpo e o espírito! Quanto vale esta atmosfera, comparando-a com os roncos lunáticos
das “bombas” que poluem ou com os esgares de manicómio a-céu-aberto de muitos
estádios de futebol?!
Depois, a alma que se põe na decisão desses redescobridores da ilha: são eles que pagam o
equipamento, são eles que contribuem com a “jóia” do próprio bolso, --- “uma
modalidade que se auto-sustenta, porque é paga em 60% pelos participantes” ---
informou hoje o organizador da prova. Tão diferente dos calculistas sugadores
dos dinheiros, públicos ou privados ---“quem dá mais?” ---prontos a ser vendidos como rezes no mercado (que
degradante retrocesso, embora camuflado, ao tráfego de humanos)! A este
propósito, acho oportuno citar o abalizado analista Dubech: “O desporto deixa
de ser desporto, torna-se batalha, espectáculo, comércio. O jogador deixa de
ser jogador, torna-se acrobata, mercenário, qualquer coisa parecida com um
gladiador hipócrita” (Où va le sport?)
No MIUT ninguém se compra e ninguém se vende. E ninguém rasteja
para rapar um cêntimo ao erário público. Pelo contrário: são os administradores
das nossas finanças que se apresentam (como bem fizeram as Câmaras Municipais
de Porto Moniz e Machico) a prestigiar e a apoiar, no possível, os encargos de
tão prestimosa iniciativa.
Foram 1.300 os heróis desta aventura, que estenderam mais
longe a toalha verde da ilha e humanizaram a nossa paisagem. Não posso deixar
de transmitir a minha sensação de voltar à gloriosa epopeia dos Jogos Olímpicos
daquela Grécia de há mais de 3.000 anos, quando vos vi sair, uns do Porto
Moniz, outros dos Estanquinhos, outros do Pico Areeiro e outros, ainda da Portela, sim, imaginei nesse percurso o
histórico facho olímpico que vós
passáveis de mão em mão.
E como o meu elogio é sempre escasso, cito para vós a
mensagem que Aristóteles, o grande
filósofo de então, dedicava aos vencedores. A todos quantos, sublinho eu, se
alistaram, porque, mesmo os que chegaram por último, esses também venceram a
prova:
“Considero-os os mais
belos dos humanos porque os seus corpos foram igualmente capazes de força e
velocidade”
Esperamo-vos, de novo!
13.ABR.2015
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário