Uma
notícia-relâmpago brilhou sobre o fundo-a-negro dos nossos televisores.
Primeiro, surgiu inteira, depois a-meias, para finalmente desaparecer num
ápice. Uma singularidade que muito me surpreendeu, tendo em conta a monótona e
incómoda repetição de certas banalidades noticiosas.
E
lá vai o anúncio: “Portugal é o segundo
país do mundo com maior percentagem de acolhimento de imigrantes e respectiva
integração no meio, logo a seguir à Grécia, que ocupa o primeiro lugar”. No
noticiário seguinte, figurou apenas a primeira parte da boa nova: “Portugal é o segundo país no muindo”… No terceiro noticiário,
esfumou-se de vez.
Gostaria
de propor aos meus acompanhantes do “dia ímpar” a sua interpretação do texto, tal
como hoje aconteceu nos exames a Português sobre outras questões de literatura.
Sem mais delongas, a minha interpretação segue, também em três tempos. O
primeiro serviria para o governo coligado embandeirar em “V”, mais uma estrondosa
vitória contra os detractores do regime: “Nós é que somos os humanistas, os
xenófilos, os benfeitores dos desgraçados. Chega-te à frente, Paulinho, ou o
teu sucessor, o do Machete, e botem foguetes”. Mas, logo logo, vem o segundo tempo: “A seguir à
Grécia?...Cruzes, abrenuncio! Compararmo-nos à piolhosa Grécia, isso é que não.
Risca lá isso, da Grécia, risca tudo. Ponto final”.
O
meu terceiro tempo interpretativo prende-se com o trágico espectáculo das
migrações forçadas, quer pela guerra, quer pela fome. Actualmente, são cerca de
50 milhões os refugiados no mundo que habitamos. Mais que na II Guerra Mundial.
Razão tem o timoneiro da Barca Apostólica para alertar os Estados face à
iminência de uma III Guerra a nível planetário. Com este triste sudário de
foragidos, não estaremos já na soturna consumação de um genocídio silencioso?... E quem acode
às vítimas inocentes, gente como nós, com o mesmo pulsar de coração e o mesmo
direito â vida? Quem?... Os poderosos, os detentores da riqueza mundial?...Os
anjos malditos “refugiados” nos paraísos fiscais? Prevêem os economistas que em breve 50% da riqueza
mundial estarão nas mãos de 1% da população!
Então
quem acode quem? Paradoxalmente, os
países mais pobres, os mais sangrados pelos FMI’s, pelos BCE’s e quejandos:
Grécia, Portugal, Itália. Espanha. No caso português, nada mais justo que assim
se faça: é preciso pagar o preço de uma colonização de cinco séculos. Mas a
Grécia, massacrada pela Alemanha nazi, agora mirrada pelas ameaças das
“tróikas” ? É ela, mãe da filosofia humanista que inundou a Europa, ela a pobre
Grécia, é quem mais estende os frágeis
braços para valer aos que menos abrigo têm…
Tema
gritante que vem provar diante dos nossos olhos a insensibilidade das economias
capitalistas, cujo apetite devorador consiste em beber rios de dinheiro, mesmo
que isso lhes saiba ao sangue, ao suor e
às lágrimas de gente como nós! E é este também o grito lancinante da Itália
perante a CE. E deverá ser esta a revolta de quem sente, contra o deboche exterminador
dos tais 1% que têm de ser abatidos, como bem profetizou Isaías, para que os
montes se abaixem e os abismos se elevam e haja a planura igualitária onde haja
lugar para todos.
Em
rodapé de página, não desconheço o maranhão de problemas em que está envolvido
esta avalanche migratória. Mas ficar calado é crime maior, de lesa-humanidade.
Uma coisa é certa: tudo isto vai ser pago! O férreo Império Romano caiu às mãos
dos “bábaros”. Atenção!
15.Jun.2015
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário