Nas encruzilhadas da História como no
circo da humana espécie, há ventos
oblíquos e há artífices tão estranhos e complexos que ficam para sempre
com a expressiva designação de “Sinal de
Contradição”. E, com sendo estranhos e
complexos, são eles e elas --- nimbados pela auréola espinhosa da contradição
--- que marcam o rumo novo de uma nova
era. Exemplo acabado é aquele em que o profético velho Simeão no Templo de
Jerusalém fez estalar o coração daquela jovem-mãe: “Esta criança está posta no
mundo para Sinal de Contradição, um rochedo inabalável, onde uns vão salvar-se
e outros vão despedaçar-se”.
Encurtando a minha mensagem de hoje,
quero referir-me à Grécia, tão exígua no tamanho, mas enorme na vanguarda do pensamento
e da arte, que se constituiu a matriz civilizacional desta imensa e tão
diferenciada Europa. Para uns, ela, a Grécia, não passa de um apêndice
espúrio a amputar, quanto antes,
do corpo “cristão e ocidental”. Para outros, ela prenuncia e luta por uma Nova
Ordem Europeia, uma outra interpretação do epifenómeno existencial, extensiva a
toda a condição humana presente e futura, em que o termo “União” corresponda à
sua riqueza semântica. Estes últimos são
os que a minoria cega do capital e das armas chama de românticos. Os primeiros
são os profissionais da forca, estranguladores sem pingo d’alma, em nada diversos dos degoladores islâmicos,
fanáticos discípulos da Lei de Talião:
olho por olho, dente por dente.
Não sou letrado nesta matéria. Por
isso mesmo recorro a Juan Ignacio Crespo ---
autor de Como acabar de una vez
por todas com los mercados --- o qual afirma peremptoriamente: “”A dívida
pública, na maior parte dos países, não se paga, renova-se” E logo sugere a metodologia adoptada nos finais do século XVIII quando
Alexander Hamilton, Secretário de
G.Washington, se esforçou em unir os diversos Estados numa Confederação, o
que só conseguiu quando o “Tesouro
Único” se encarregou das dívidas dos diferentes Estados. “Um exemplo que
seguramente se atingirá, mas que está tardando na Europa”, acrescenta.
Sejam quais forem os olhares ---
contraditórios sempre --- sobre a nobre e pobre Grécia, quero hoje
endereçar um clamoroso Voto de
Congratulação aos dois acérrimos combatentes contra o vil sistema do
capitalismo selvagem que manipula e mata a economia sustentável dos povos. São
eles Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis, sejam lá de que partido forem. Eles
incarnam o “alfa e o ómega” da alma helénica,
rediviva no século XXI. Em Varoufakis espelha-se a fibra heróica do
espírito de Esparta, austero e sem rodeios. Tsipras conjuga plenamente a serena posse do espírito de
Atenas, desinibido no traje e rico de olhar, onde a simpatia diplomática não
contamina nem dissimula o ímpeto bélico de devolver ao seu povo a dignidade perdida. Realizam, os dois, as linhas
paralelas da concepção dialéctica da governação: um, o mal amado, Varoufakis; o outro, Tsipras, diplomaticamente, o bem amado. Mas ambos,
confluentes no mesmo vértice para
defender, como o grande Ulisses, a honra da sua Penélope, o Povo Grego.
Viagens, expectativas frustradas, reuniões de arrasar, insónias,
incompreensões, manifestações, inimigos de dentro e de fora, enfim, uma luta
desigual entre David e Golias, até à exaustão, mesmo que o destino seja morrer
na praia. Mas, cuidem-se os armadores dos cruzeiros capitalistas, porque o
naufrágio, se houver, não ficará só
pelas ilhas gregas. Tsipras e Varoufakis sabem muito bem que Lagarde’s e Draghi’s,
Schaeuble´s e Juncker’s não passam de secos funcionários, marionetes
de feira, às ordens desse secreto
monstro chamado “Mercado”, antro de offshores, máfias e corrupções. E é,
em grande angular, contra o monstro que
a Grécia luta, indicando o caminho para que se unam no mesmo feixe os “ofendidos
e humilhados” do mundo inteiro.
Quão diversa e mísera é a
brigada de prematuros reumáticos que do
sangue e das lágrimas do Povo Português fazem o ridículo verniz com que apertam
a mão e dobram-se em arco aos
especuladores sem escrúpulo! Os governantes gregos lutam porfiadamente pelos
compromissos assumidos nas eleições. Os nossos, traidores das promessas que
fizeram quanto às pensões, abonos, subsídios de férias e natal, apresentam-se
de consciência relaxada e empertigada, palheiros de aviário armados em pavões,
entregando ao diabo corpos e almas que não lhes pertencem.
Dê no que der, será sempre monumental e homérica a luta de
Tsipras e Varoufakis. Estou com eles!
27.Jun.2015
Martins Júnior
Como é que consegue estar ao mesmo tempo com Tsipras e Varoufakis e com o PS?
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