segunda-feira, 3 de agosto de 2015

TODOS OS ANOS, MACHICO NA ALVORADA DE AGOSTO

Dias jocosos e felizes estes com que Machico  recebe o mês de Agosto  desde há 30 anos!
Na primeira semana do mês oitavo e apesar da mais desencontrada diversidade de programas lúdicos, folclóricos, metalizados, distribuídos por toda a ilha, Machico, Pórtico das Descobertas, torna-se nesta data a mais ampla encruzilhada onde todos os caminhos se cruzam e todos os corações se encontram. Nesta rosa aberta dos ventos estivais, Machico vai na proa, repetindo aquele refrão que comandou as Festas de um  Verão diferente,  em 1982.
Se alguma vez a verbalização semântica se abraça com a factualidade ou se, por outras palavras, a ficção se enlaça na realidade, é exactamente --- perdoem-me a ambição patriótica --- o meridiano que se pode resumir neste título:  O Dia Ímpar na Terra Ímpar. Por isso que dedico a crónica do dia 3 de Agosto a esse evento que, sendo igual, torna-o diferente de todos os outros: A SEMANA GASTRONÓMICA DE MACHICO.
Primeiro, porque foi pioneira nesta Região,   iniciada em Agosto de 1985. Todas as outras “semanas ou fins de semana gastronómicos” vieram a reboque. Segundo, pela imensa largueza espalmada desde o Cais do Desembarcadouro até à Praia de São Roque, um anfiteatro  plano, iodado pela brisa do baía de linha contínua  (infelizmente não tanto como outrora, devido às intersecções que lhe introduziram) mas mesmo assim a lembrar-me,, em miniatura, a monumental baía de Luanda. Enfim, espaços largos, sem becos nem pregas, que bem se os pode classificar de espaços da liberdade franca, onde os convívios familiares à roda das mesas, pais e filhos, levam-nos a imaginar que toda a zona ribeirinha de Machico se transformou no Congresso aberto da família madeirense e não só.  Num terceiro retoque, tão original quanto civilizador, o cuidado impecável da organização nas diversas tendas dos restaurantes e bares, nos preçários e nos horários,  de modo que não há lugar para cenas degradantes, fruto de excessos estranhos ao ambiente. Finalmente, a selecção musical de 2015, predominantemente extensiva a todos os gostos, sem a preocupação das “bombas” publicitárias de artistas pimba. Sirva de exemplo a abertura das festas com o sempre inigualável Júlio Pereira e seus cordofones, um espectáculo memorável, para mim intensamente emotivo, recordando-me da sua primeira vinda à Madeira, a convite da festa da Ribeira Seca, em 1982, o  momento inicial de  uma amizade que nesta semana se reencontrou aqui. Além de João Pedro Pais, a mensagem da mais fina inspiração, colada ao mais íntimo da alma humana, de Jorge Fernando, o criador do melhor que cantam os nossos consagrados fadistas.  A participação de grupos locais, oriundos de todo o concelho, faz desta iniciativa, aparentemente gastronómica, a corporização daquele sonho que se chama o consenso dos povos, na identidade das suas diferenças e na simbiose das suas coincidências.
Se a organização me permitisse, deixaria aqui uma sugestão: para coroar a síntese lúdico-cultural do grande evento: criar um espaço às artes onde os muitos criativos locais exporiam ao vivo a expressão do seu talento, à semelhança do que fez a Junta no Dia da Freguesia, 2 de Julho.
Um reparo final (sei que vou estragar a ambiência quase poética do escrito)  mas entendo dever fazê-lo, face ao estilo de reportagem, irritante porque  estafado, em que o repórter dos arraiais costuma  fazer aos comerciantes a mesma prosaica  pergunta: “como vai o negócio, melhor ou pior que no ano passado”? Embora feita também por eles, esta Semana não se deve aquilatar apenas  pela “caixa” das barraqueiros  presentes. Vai muito mais além: fica no pódio do melhor que a convivialidade humana é capaz de produzir.
Parabéns à Organização. E faço-o, com pleno conhecimento dos esforços expendidos,  tendo em conta  que  também me coube tal tarefa nos oito anos consecutivos à frente do Município, entre 1990-1997.

3.Ago.2015

Martins Júnior   

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