Dias
jocosos e felizes estes com que Machico recebe o mês de Agosto desde há 30 anos!
Na
primeira semana do mês oitavo e apesar da mais desencontrada diversidade de
programas lúdicos, folclóricos, metalizados, distribuídos por toda a ilha,
Machico, Pórtico das Descobertas, torna-se nesta data a mais ampla encruzilhada
onde todos os caminhos se cruzam e todos os corações se encontram. Nesta rosa
aberta dos ventos estivais, Machico vai na proa, repetindo aquele refrão que
comandou as Festas de um Verão
diferente, em 1982.
Se
alguma vez a verbalização semântica se abraça com a factualidade ou se, por
outras palavras, a ficção se enlaça na realidade, é exactamente --- perdoem-me
a ambição patriótica --- o meridiano que se pode resumir neste título: O Dia Ímpar na Terra Ímpar. Por isso que
dedico a crónica do dia 3 de Agosto a esse evento que, sendo igual, torna-o
diferente de todos os outros: A SEMANA GASTRONÓMICA DE MACHICO.
Primeiro,
porque foi pioneira nesta Região, iniciada
em Agosto de 1985. Todas as outras “semanas ou fins de semana gastronómicos”
vieram a reboque. Segundo, pela imensa largueza espalmada desde o Cais do
Desembarcadouro até à Praia de São Roque, um anfiteatro plano, iodado pela brisa do baía de linha
contínua (infelizmente não tanto como
outrora, devido às intersecções que lhe introduziram) mas mesmo assim a lembrar-me,,
em miniatura, a monumental baía de Luanda. Enfim, espaços largos, sem becos nem
pregas, que bem se os pode classificar de espaços da liberdade franca, onde os
convívios familiares à roda das mesas, pais e filhos, levam-nos a imaginar que
toda a zona ribeirinha de Machico se transformou no Congresso aberto da família
madeirense e não só. Num terceiro
retoque, tão original quanto civilizador, o cuidado impecável da organização
nas diversas tendas dos restaurantes e bares, nos preçários e nos horários, de modo que não há lugar para cenas
degradantes, fruto de excessos estranhos ao ambiente. Finalmente, a selecção
musical de 2015, predominantemente extensiva a todos os gostos, sem a
preocupação das “bombas” publicitárias de artistas pimba. Sirva de exemplo a
abertura das festas com o sempre inigualável Júlio Pereira e seus cordofones,
um espectáculo memorável, para mim intensamente emotivo, recordando-me da sua
primeira vinda à Madeira, a convite da festa da Ribeira Seca, em 1982, o momento inicial de uma amizade que nesta semana se reencontrou
aqui. Além de João Pedro Pais, a mensagem da mais fina inspiração, colada ao
mais íntimo da alma humana, de Jorge Fernando, o criador do melhor que cantam
os nossos consagrados fadistas. A
participação de grupos locais, oriundos de todo o concelho, faz desta iniciativa,
aparentemente gastronómica, a corporização daquele sonho que se chama o consenso
dos povos, na identidade das suas diferenças e na simbiose das suas
coincidências.
Se
a organização me permitisse, deixaria aqui uma sugestão: para coroar a síntese
lúdico-cultural do grande evento: criar um espaço às artes onde os muitos
criativos locais exporiam ao vivo a expressão do seu talento, à semelhança do
que fez a Junta no Dia da Freguesia, 2 de Julho.
Um
reparo final (sei que vou estragar a ambiência quase poética do escrito) mas entendo dever fazê-lo, face ao estilo de reportagem,
irritante porque estafado, em que o repórter
dos arraiais costuma fazer aos comerciantes
a mesma prosaica pergunta: “como vai o
negócio, melhor ou pior que no ano passado”? Embora feita também por eles, esta
Semana não se deve aquilatar apenas pela
“caixa” das barraqueiros presentes. Vai
muito mais além: fica no pódio do melhor que a convivialidade humana é capaz de
produzir.
Parabéns
à Organização. E faço-o, com pleno conhecimento dos esforços expendidos, tendo em conta
que também me coube tal tarefa
nos oito anos consecutivos à frente do Município, entre 1990-1997.
3.Ago.2015
Martins
Júnior
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