Centrado na paisagem do
calendário, falei ontem da estranha
coincidência entre as férias relaxantes do Povo e as manobras calculadas dos estrategas da
sociedade. E decidi hoje voltar à mesma janela, porque cheguei à conclusão de que
nunca, como agora em 2015, foram as férias tão fantasistas, falaciosas e fatalistas. Usei a mesma
consoante inicial para aproximá-las daquela trilogia tão sobejamente conhecida
quanto deprimente para a classificação mental de uma população: Futebol, Fátima
e Fado, as drogas com que se anestesiam
as multidões, sobretudo nestas férias. Férias fantasistas com os chutos
que nos traz todos os dias a comunicação social, seja o futebol, o mercado de
compra e venda de jogadores, o golfe, o rali e tudo o mais. Férias falaciosas
em que, a pretexto da fé, os peregrinos multiplicam os percursos do turismo
religioso para Fátima, na preparação do solene
13 de Outubro. E férias fatalistas com o nosso Fado choradinho,
resignado, curtido de portas adentro. Este último “F” está a cargo dos actuais
governantes. Querem saber como?
Pois bem, já mostrei
anteriormente quanto detesto aquela encenação hierática, imponente e fria com
que das suas majestosas cátedras os donos das nações accionam guerras
e lançam incendiárias bombas sobre vítimas inocentes. Hoje, mais veemente é a minha indignação perante uma
outra maquiavélica manobra dos que durante quatro anos secaram as veias
do Povo com a mais sádica impiedade
e agora vêm oferecer o ombro aos miseráveis que criaram. Parafraseando a
velha canção “Encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora”, vêm agora os carrascos passar a mão ao pelo,
verter lágrimas de dinossauro: “Nós sabemos quanto os portugueses sofreram, é
verdade que lhes impusemos duros sacrifícios, mas eles compreenderam, aceitaram
de bom grado os cortes, as emigrações (“ocasião de novas descobertas no
estrangeiro”) o desemprego (“um pretexto para novas oportunidades”), enfim,
ninguém mais do que nós sofre as dificuldades dos nossos compatriotas…mas agora
tudo vai mudar… os portugueses sabem que valeu a pena”… Enoja-me este discurso
prenhe de hipocrisia democrata-cristã, seja em Coelhos ou Portas, mas sobretudo
no feminíssimo exemplar de super-ministras, Assunção Cristas, que deitou da
boca para o chão e repetiu até à náusea
estas postas de fígado mal cheiroso, na última entrevista à RTP1. Ninguém
duvide: será este o segundo “round” da táctica da coligação: anestesiar os
incautos, os ingénuos, os indecisos. Fazem que já não se lembram do pão e do
leite que roubaram à boca das crianças… esquecem-se da casa que muitos tiveram de entregar ao
banco… das famílias da classe média que obrigaram a estender a mão à caridade
pública… dos corações cortados de dor naqueles que nos aeroportos tiveram de
separar-se dos filhos , enfim, das bastonadas nas costas de quem gritava o seu
drama frente à Assembleia da República… E agora vêm fazer que enxugam as
lágrimas do Povo --- pedindo-lhe mais
força para fazer o mesmo depois do 4 de Outubro. Ao vê-los só me ocorre aquela
cena dos filmes da Máfia em que o assassino, fato preto e grandes óculos
escuros, se posiciona logo atrás da vítima a quem matou.
Tenham um pingo de
vergonha, já que o não têm de dignidade!
Toda a razão tinha
Francisco Moita Flores, correlegionário do PSD, em atribuir recentemente a Passos Coelho o (des)qualificativo atributo de “cínico”.
Da minha parte, entendo
que é meu dever alertar os cidadãos --- também o sou --- para que não deixem
embotar a sua sensibilidade e reajam energicamente quando essas múmias de
naftalina (serventuários e beneficiários
dos imperadores do dinheiro, sem dó) depois de terem subscrito “o Povo aguenta, lá
isso aguenta, aguenta mais”, oferecem agora
lenços e lençóis de enxugar o pranto. Afastemos definitivamente essa raça de “padres da Inquisição” que
rezavam preces e cantavam ofícios em redor dos condenados que eles próprios mandaram para a fogueira!
Provemos que ainda temos Memória!
31.Jul.2015/1.Ago.2015
Martins Júnior
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