sexta-feira, 31 de julho de 2015

QUANDO O “ASSASSINO” CHORA NO FUNERAL DA VÍTIMA

Centrado na paisagem do calendário, falei ontem  da estranha coincidência entre as férias relaxantes do Povo e  as manobras calculadas dos estrategas da sociedade. E decidi hoje voltar à mesma janela, porque cheguei à conclusão de que nunca, como agora em 2015, foram as férias tão fantasistas,  falaciosas e fatalistas. Usei a mesma consoante inicial para aproximá-las daquela trilogia tão sobejamente conhecida quanto deprimente para a classificação mental de uma população: Futebol, Fátima e Fado, as drogas com que se anestesiam  as multidões, sobretudo nestas férias. Férias fantasistas com os chutos que nos traz todos os dias a comunicação social, seja o futebol, o mercado de compra e venda de jogadores, o golfe, o rali e tudo o mais. Férias falaciosas em que, a pretexto da fé, os peregrinos multiplicam os percursos do turismo religioso para Fátima, na preparação do solene  13 de Outubro. E férias fatalistas com o nosso Fado choradinho, resignado, curtido de portas adentro. Este último “F” está a cargo dos actuais governantes. Querem saber como?
Pois bem, já mostrei anteriormente quanto detesto aquela encenação hierática, imponente e fria com que das suas majestosas cátedras os donos das nações accionam  guerras  e lançam incendiárias bombas sobre vítimas inocentes. Hoje,  mais veemente é a minha indignação perante uma outra maquiavélica  manobra  dos que durante quatro anos secaram as veias do Povo  com a mais sádica  impiedade  e agora vêm oferecer o ombro aos miseráveis que criaram. Parafraseando a velha canção “Encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora”,  vêm agora os carrascos passar a mão ao pelo, verter lágrimas de dinossauro: “Nós sabemos quanto os portugueses sofreram, é verdade que lhes impusemos duros sacrifícios, mas eles compreenderam, aceitaram de bom grado os cortes, as emigrações (“ocasião de novas descobertas no estrangeiro”) o desemprego (“um pretexto para novas oportunidades”), enfim, ninguém mais do que nós sofre as dificuldades dos nossos compatriotas…mas agora tudo vai mudar… os portugueses sabem que valeu a pena”… Enoja-me este discurso prenhe de hipocrisia democrata-cristã, seja em Coelhos ou Portas, mas sobretudo no feminíssimo exemplar de super-ministras, Assunção Cristas, que deitou da boca  para o chão e repetiu até à náusea estas postas de fígado mal cheiroso, na última entrevista à RTP1. Ninguém duvide: será este o segundo “round” da táctica da coligação: anestesiar os incautos, os ingénuos, os indecisos. Fazem que já não se lembram do pão e do leite que roubaram à boca das crianças… esquecem-se  da casa que muitos tiveram de entregar ao banco… das famílias da classe média que obrigaram a estender a mão à caridade pública… dos corações cortados de dor naqueles que nos aeroportos tiveram de separar-se dos filhos , enfim, das bastonadas nas costas de quem gritava o seu drama frente à Assembleia da República… E agora vêm fazer que enxugam as lágrimas do Povo --- pedindo-lhe  mais força para fazer o mesmo depois do 4 de Outubro. Ao vê-los só me ocorre aquela cena dos filmes da Máfia em que o assassino, fato preto e grandes óculos escuros,  se posiciona  logo atrás da vítima a quem matou.  
Tenham um pingo de vergonha, já que o não têm de dignidade!
Toda a razão tinha Francisco Moita Flores, correlegionário do PSD, em atribuir recentemente a Passos Coelho o (des)qualificativo atributo de “cínico”.
Da minha parte, entendo que é meu dever alertar os cidadãos --- também o sou --- para que não deixem embotar a sua sensibilidade e reajam energicamente quando essas múmias de naftalina (serventuários  e beneficiários  dos imperadores do dinheiro, sem dó)  depois de terem subscrito “o Povo aguenta, lá isso aguenta, aguenta mais”,  oferecem agora lenços e lençóis de enxugar o pranto. Afastemos definitivamente  essa raça de “padres da Inquisição” que rezavam preces e cantavam ofícios em redor dos condenados  que eles próprios mandaram para a fogueira!

Provemos que ainda temos Memória!

31.Jul.2015/1.Ago.2015
Martins Júnior   

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