Os teóricos da exaltação nacionalista
e os românticos da revolução elegante, que tanto empenho põem em chamar o Papa
Francisco para os seus clubes privatísticos, ficaram a saber que o homem atira
ao caixote do lixo todas as parangonas
de quantos querem alcandorá-lo em “vedeta” planetária. Seja qual for a
bandeira política do país visitado, ele não se coíbe de, por palavras e gestos,
defender os seus ideais contra quem quer que seja. Ontem e anteontem, na
América Latina, húmus onde as ditaduras da minoria proliferam ao lado da luta
hereditária das maiorias escravizadas, Francisco não teve meias-medidas nem
escolheu palavras ambíguas. Na Bolívia, foi directo, do alto da sua
magistratura pontifícia: “Vós, os explorados, os excluídos, não
subestimeis a vossa condição. Vós sois
os semeadores da mudança”! Muitos não tardarão a traduzir as palavras do Pastor
noutras paragens e noutras ideologias, como o histórico grito de
Lenine:”Operários de todo o mundo, uni-vos”.
A Francisco Papa pouco ou
nada lhe comovem os plágios ou
apropriações da sua mensagem universal. O seu rumo inflexível é a
justiça distributiva e a fraternidade entre as nações. Rejeita terminantemente
que classifiquem de “papulismo” (populismo do Papa) porque isso só aproveita
aos usurpadores da sua palavra. Nele, a diplomacia submete-se à verdade dos
factos, mesmo quando é “obrigado” ao protocolo fugaz das relações internacionais. Utiliza-o apenas
como tribuna solene para promulgar, mais alto e mais enérgico, o seu Código de
Conduta para a humanidade. Ninguém pense “lamber” a sotaina papal em proveito
de interesses de grupo e lobis calculistas. Sirva de exemplo a relação tensa
com o regime argentino, chefiado por Cristina Kirchner, já como Sumo Pontífice, tê-la escolhido como
primeiro representante governamental a
ser recebida no Vaticano.
Este Papa não quer
palavras, quer acção. Outro caminho não tem traçado e cumprido senão este. A verdade factual
acima dos devaneios românticos! Ele próprio o reafirmou com toda a transparência
e vigor: “Isto que vos digo é muito diferente de uma teoria abstracta ou de uma
indignação elegante”!
Não foi preciso ir muito
longe para constatar quanto tem sido “chique” citar o Papa Francisco, em
registos tão diversos quanto divergentes. Vi-o claramente naquela excelente
iniciativa, em boa hora promovida pelo Pe. José Luís Rodrigues, no Teatro Baltazar Dias, sobre a mensagem
ecológica da última encíclica “Laudato Si” pata todo o mundo.
Intervenções suculentas, tanto do promotor, como dos seus convidados,
Dr. Raimundo Quintal, Dr. Marques Freitas e Prof. Dr. Nélson Viríssimo. No final, confirmou-se
o que trago atrás dito: a auto-promoção dos três convidados e respectivas
associações: o presidente da Câmara Municipal do Funchal, o vigário geral da
Diocese e o presidente do Governo Regional, os quais, à uma, vieram ali só para
pôr à janela as colchas da casa-sucursal dos seus interesses. Nenhum deles se
reconheceu visado ou criticado na
encíclica, nenhum “confessou” os atentados ambientais dos seus pelouros. Então
o presidente do GR foi de um superior trapezismo de circo quando foi buscar, a
talho de foice “snob”, umas arengas sobre o trigo no Brasil, rematando que o
seu governo corre de camisola amarela na defesa ecológica da ilha. Os três
mosqueteiros que fecharam o colóquio estragaram, a meu ver, a seriedade e a
elevação das doutas intervenções ali produzidas. Mais uma vez, ali vieram
montar na encíclica “Laudato Si” como no cavalo do Sancho Pansa de Cervantes.
O pior, porém, foi a
cobertura que o DN/ local deitou à luz no dia seguinte Três quartos da reportagem foram para as
palavras serôdias do novel presidente madeirense. Quanto aos oradores
convidados, apenas umas linhas furtivas para Raimundo Quintal. De Marques
Freitas e Nélson Viríssimo que cuidadosamente prepararam as suas brilhantes
exposições, nem um fonema, nem uma sílaba. Jornal da Madeira não faria melhor.
Com “independentes” destes, não precisamos de jornais subsídio-dependentes.
Assim
levam o Papa Francisco no faustoso andor que ele próprio varreu do Vaticano:
são os jornais, os áudio-visuais, os governos, os maxi e mini-imperadores que, a todo o custo e na
mais desavergonhada hipocrisia, arvoram a bandeira da “supervedeta” Francisco para
servirem os seus interesses políticos, nos antípodas da transparência
revolucionária de Jorge Bergollio.
Resta-nos
a certeza que Francisco nunca será nas mãos dos poderosos o bobo que fazem de
bispos e cardiais. Ele nunca aceitará a lisonjeira quanto ofensiva alcunha de
“papulista”. E a quantos tentarem o sacrílego assalto à sua personalidade e às
suas palavras ele ribombará com o vigor da sua autenticidade: “Isto que vos
digo é diferente de uma teoria abstracta ou de uma indignação elegante”!
11.Jul.2015
Martins Júnior
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