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Nunca
foi tão “chique” citar o Papa, desde cristãos a ateus, políticos e plebeus, agnósticos, ecologistas,
evolucionistas, enfim, Papa Francisco inscreveu
a Igreja Vaticana na ordem do dia. Para bem e para mal dela. E se ainda traz aos ombros uns resquícios da
velha-guarda é porque muita gente simples, ignara mas crente, ficaria ferida
nos seus conceitos ancestrais que, mesmo
preconceituosos, são os elementos constitutivos da sua crença. Quanto aos “sábios-fariseus”
e aos opulentos porteiros do tempo do “bezerro
d’oiro”, este veterano ganha o verve da juventude, tão contundente na mensagem
quanto frágil na sonoridade da sua voz.
Mas
que nos trouxe de novo esta “vedeta” argentina?
Nada
que já não se soubesse. A denúncia da economia assassina; a terra, o mar e o ar esquartejados por facínoras
mascarados de industriais; o antro clerical de lobos vestidos de fina pele escarlate, da cabeça aos pés; o embuste
de crenças castradoras da genética ambição de voar sem peias nem medos. Todo
este arsenal ideológico-pragmático tem sido exposto, descrito, quase que
vociferado por dezenas, centenas, milhares de cientistas, biólogos, teólogos,
professores, simples padres da província e da cidade, gente como nós, vizinhos
de ao- pé- da-porta. Com uma diferença: é que o Papa tem autoridade herdada de
uma instituição milenar. Os outros, não. Quantas vozes amordaçadas e quanto
sangue derramado --- a matança dos inocentes --- ao longo da História!
Mas
em Francisco Papa transfigura-se a autoridade herdade com a autoridade
conquistada. Aí o seu valor. Os que o chamam de comunista deviam ler o catolicíssimo
escritor Léon Bloy que lançou o brado da revolta contra a ordem capitalista
vigente, com a publicaçã , em 1909, de “O Sangue do Pobre”.
Já
aqui observei que este Papa é uma bênção e um enorme risco. E é este o seu
drama. A bênção, ele a traz na veemência, fortiter
ac suaviter, ( como ensina o mestre Paulo de Tarso) por onde quer que pise
chão de terra. O risco é que ele é vértice e cúpula. Nenhum edifício se segura
pelo telhado nem nenhuma catedral se sustenta pela abóbada. Nos alicerces, nas
bases é que estão o ganho e o sustentáculo de qualquer sociedade. E aquilo que
o Pontífice “Máximo” apregoa deveria ser a soma e a síntese de tudo quanto dizem e fazem os cabouqueiros “mínimos” da sociedade. Se a
normal sucessão dos acontecimentos sociais constituísse a realidade do nosso quotidiano, ninguém esboçaria o mínimo espanto pelo que
diz Francisco. Esse espanto, o nosso espanto, mais não é mais que a evidência
da estrutural anormalidade que aproveita a poucos e subjuga a muitos.
É
por isso que a este homem lhe repugna o estatuto de vedeta, fútil alcunha que uma desorganização organizada da sociedade
gosta de atribuir-lhe. É a diferença abissal entre Populismo e Papulismo, como
inteligentemente escreveu Rúben Amon. Populista terá sido o homem-espectáculo,
até à inanição, João Paulo II, cujas
viagens pelo mundo ( afirmaram os jesuítas) não eram as de um mensageiro da
paz, mas um mero exercício de Papolatria,
o culto do Papa.
Francisco
não abençoa, abraça. Não declama, conversa. Não se ufana com o anel de ouro nem
com a tiara de três pisos cravejados de
lantejoulas cruzadas. Que beleza intraduzível aquela quando, ao descer as
escadas do avião, no Equador, uma rajada de vento levou-lhe o branco solideo e
deixou-lhe, despido e puro, o crâneo com que saíu do ventre da sua mão! Eis
Francisco no seu melhor retrato.
Quero
esclarecer que consideraria inócua e superavitária esta digressão, de tão
repetida por tudo quanto é sopro de comunicação. Ela aí está como introdução ao
próximo “Dia Ímpar”. Vem também, enquanto ponte de aproximação ao corajoso sul-americano
que está de volta ao seu depauperado, porque explorado, continente. Cada passo
seu, cada gesto e cada mensagem outra
coisa não significam que “aquilo que eu faço e digo são vocês que devem dizer e
fazer”. Se assim não for, caído o Papa, cai toda esta Primavera Global. Os
abutres do capital internacional e os
corvos da púrpura vaticana e diocesana estão
morrendo de fome pelo cadáver de Francisco. Ele sabe disso. É connosco que ele
conta!
7.Jul.2015
Martins Júnior
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