No
intervalo entre o II e o III Actos da peça que iniciei no último Dia Ímpar,
surgiu um aparatoso anúncio publicitário: os bispos madeirenses vão até Roma,
na protocolar visita “ad limina”, isto é, aos túmulos de Pedro e Paulo. E achei
por bem aproveitar a notícia para aperceber-me da séria relevância (assim
deveria sê-lo) desta digressão periódica. O seu objectivo é prestar contas ao
Papa acerca da vida de cada diocese. Aí apresentam os bispos portugueses um
relatório (exaustivo, deveria sê-lo) sobre o estado da respectiva “Nação Diocesana”. Assim sendo, bem poderia
comparar-se esta viagem àquela que os Primeiros-Ministros fazem a Bruxelas para
dar conta da saúde financeira, do estado
social, da execução orçamental, enfim, da real situação do seu país.
Não
sabemos que levarão na bagagem os nossos prelados regionais. Não consta que
tivessem proposto à consideração dos órgãos representativos dos diocesanos o referido
Relatório. Seria de suma importância tomarmos conhecimento, senão do texto
integral, ao menos dos “itens” principais, a hierarquização dos problemas que à
Igreja local se põem ou, por que não, propor as adendas de certos temas de interesse
público para a cristandade regional.
Não
é difícil imaginar os arcos triunfais de cada dossier, sob as quais passarão as lusas mitras, como
também é perfeitamente alcançável o estilo rendilhado das iluminuras que ilustram as páginas untuosas,
coloridas, como os vitrais das catedrais góticas, com que descreverão os bispos
madeirenses a epopeia da Fé e do Império na sua diocese. Não faltarão os
encómios do Congresso dos 500 anos ( pelo que se viu, melhor seria titular de
Congresso dos 400 ou 300 anos, tal a premeditada orientação de ocultar a
história da diocese, no que de mais próximo
tem dos nossos dias. Hão-de descrever a religião-espectáculo, as grandes
procissões, a participação episcopal nos
arraiais de verão e, de inverno, nas Missas do Parto, com a avalanche de
cristãos a inundar os adros, as
avenidas, as praças públicas. Não faltarão as referências aos afectos e
edificantes relações dos bispos com o governo regional que lhes fez igrejas,
sacristias e casas paroquiais.
Quanto
ao mais, eles não levarão nada nem ninguém na bagagem que sirvam de testemunhas. Ó perfeito segredo dos deuses,
contando de antemão com “advogados” seus, nossos conterrâneos, bem colocados nas cúrias e congregações ou
dicastérios (tribunais) do Vaticano! Certamente, não virá a tona de água uns
resíduos sequer do Jornal da Madeira e da sua entrega ao poder político
regional. Pelo contrário, até dirão: “Foi o Espírito Santo que nos soprou a
inspiração para nos retirarmos a tempo, isto é, antes da visita “ad limina”. Perante o Papa da inclusão,
esquecerão os nossos bispos de relatar a mais sádica exclusão a que sujeitaram
uma paróquia, esquecer-se-ão de auto-incriminar-se por se recusarem hã mais de
40 anos administrar o Crisma nessa
igreja e –oh suprema amnésia ! ---
passará em branco e negará , talvez, o actual
bispo que não deixou a Imagem Peregrina entrar no adro dessa mesma igreja. Que
dir-lhes-á o Papa da inclusão e das
periferias quando (e se) lhe disserem que mantêm um padre suspenso há décadas
sem julgamento, nem sequer processo canónico formado?
Quanto
ao prelado reformado, lembrar-se-á o senhor que, de parceria com o governo, mandou a PSP em peso ocupar um templo católico, durante 18 dias e 18
noites? Certamente, tecerá como uma
novela “brasileira” o caso de um tal padre Frederico, pederasta relapso,
evadido da cadeia e comparado pelo próprio bispo a Jesus Crucificado e, por
tal, nunca foi suspenso da diocese?...
Perpassa-me
pela retina a reacção do Papa Francisco perante tamanha profanação, sobretudo porque
foi ele, Francisco Papa, que deu ordens terminantes para denunciar aos
tribunais judiciais os superiores hierárquicos que encobrissem casos destes.
Acabou de falecer, imprevistamente, o cardeal polaco Joseph Woselonwky, de 67
anos, cujo processo estava já pronto para julgamento.
Enfim,
espero que aos dois antístites madeirenses, não se lhes aplique, nesta viagem, aquele
rótulo com que o Papa Francisco criticou,
no ano transacto, certa hierarquia, a quem chamou “bispos de aeroporto”.
Vamos
aguardar que novas trarão os nossos residentes embaixadores pontifícios.
Integrar-se-ão, enfim, no caminho novo (porque antigo e autêntico) que traçou o
Papa Francisco ou posicionar-se-ão ao lado dos 17 cardeais da Oposição, de que
nos falou hoje Anselmo Borges, na sua crónica semanal do “Diário de Notícias”
de Lisboa?
De
Bruxelas sabe-se sempre qual o teor da apreciação que os órgãos decisores
europeus fazem dos relatórios nacionais. Veremos se algum lampejo surgirá da “Bruxelas
Romana” a iluminar ou a rasurar certas páginas do Relatório Diocesano. O nosso
bispo disse que iria oferecer aos túmulos de Pedro e Paulo as suas orações pelos
madeirenses. Esperamos mais, o que nunca
aconteceu, de há 8 anos a esta parte: ACÇÃO. Eis o lema de Francisco Papa,
Acção!
5.Set.2015
Martins Júnior
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