Ecoam nos meus ouvidos as emoções sonoras
do 29 de Setembro de 2013, tão vívidas e tão imensas que começaram na Madeira e
abraçaram o Porto Santo. Foi o derrube do muro da vergonha que cercava o Povo
desta terra dominada pelo poder esmagador da maioria laranja ferreamente
vigiada pela alta torre dos 11 castelos disseminados por toda a Região --- as 11 Câmaras
Municipais. Foram sete --- número
perfeito! --- as fortalezas que fizeram capitular a muralha monolítica construída ao longo de quase quarenta anos. Parabéns
aos lutadores representados nos seus autarcas, aos quais repito o que então
disse e escrevi, ao ritmo da canção de Sérgio Godinho: “Hoje é o primeiro dia
do resto do vosso mandato”.
Congratulo-me
e disso dou testemunho aberto, enquanto cidadão de corpo inteiro e alma atenta
--- e com o redobrado dever de o
cumprir. Aqui, o cumprir tem toda a força semântica de alertar. E agir em
conformidade.
Tomo como ponto de
partida o que, hoje mesmo, ouvi de alguém,
após comentar o último “blog” sobre a
inteligente e estratégica concentração de vontades (leia-se, unificação de
votos) para castigar o “inimigo” comum. E desatou com este desabafo, vindo do
mais fundo da sua revolta:” Se os mesmos ganharem as eleições, renuncio à minha
nacionalidade e peço para ser chinês” .
E lá foi descrevendo as malfeitorias desta governação que, houvesse ou não
houvesse troika, executaria o mesmo
programa, com a mesma frieza com que Victor Gaspar prenunciava o “enorme”
sacrifício dos portugueses ou com a mesma indiferença com que Passos Coelho
proclamava “temos de empobrecer” e abria aos jovens a porta de saída do seu
país, empurrando-os “para a boa oportunidade de emigrar”. Mais desabafava, incontido,
o meu amigo: “Aqueles jovens, que a coligação amarra atrás de si nos comícios,
pensarão eles nos 500.000 emigrantes, a maior parte deles da sua idade, que foram
‘expulsos’ de Portugal por este governo?” Coincidência ou descuido, por parte
do jornalista de serviço, fomos
informados que eram sempre os mesmo que a coligação deslocava para toda a
campanha.
O certo é que estamos na
encruzilhada de dois mares: passar do
Cabo das Tormentas para o Cabo da Boa Esperança. E aqui não há lugar para a
dispersão das tripulações nem para derivas de bússola, que contentam o egocentrismo
das suas claques mas nunca chegam a terra, nunca alcançarão a meta do poder. Há
tempo de protestar e há tempo de reunir. Há tempo de sonhar e há tempo de cair
na real. Há tempo de partir pedra e há tempo de construir. Neste momento a hora é de reunir e não de
dispersar. De agir e não de delirar. De levantar a casa e não de espalhar
cascalho. Isto, se decididamente queremos apear quem cumpriu sadicamente a
acusação que assacara ao governo anterior: “Pôr-nos a pão e água”!
Carlos do Carmo deu-nos
ontem uma lição magistral, ao denunciar as agressivas pedradas de todos os quadrantes
políticos contra António Costa. “Não me lembro, em nenhuma campanha eleitoral,
de um ataque tão violento a um candidato, fazendo dele “um saco de pancadas”. No mesmo sentido, Rui Tavares do “Livre”.
Pela minha parte,
limito-me a constatar e lamentar o monopolismo congénito de certos partidos,
como se fossem a única “candidatura
patriótica”. Ou como se os trabalhadores e os explorados fossem um feudo, uma
sua exclusiva coutada política, fazendo deles desgraçados pintainhos debaixo das asas do único galo tutor e protector, só porque se metem, vistosamente, esses
partidos nas manif´s, retirando (a meu ver) a autenticidade e o protagonismo
dos promotores de base. Bastou o PS
assumir, no seu programa
eleitoral, posições iniludíveis
contra o corte das pensões ou dos salários, para virem logo certos partidos
empertigar-se: “Não toquem nisso. Advogado dos trabalhadores só um, o meu
partido e mais nenhum”. É caso, no mínimo, para inverter o humor do Ricardo
Araújo Pereira: ”Não é bonito, mas”… o que é preciso é fazer tudo para que o PS não chegue
lá, melhor ficar a coligação. E é com muita mágoa, creiam, que
redijo este parágrafo, mas factos são factos. E contra eles não há
argumentos. E quando acima do supremo interesse dos portugueses se antepõe o
supersticioso interesse do partido, nada feito!
De hoje até domingo, é a hora da solene convocatória
de subir ao alto da montanha, visualizar a paisagem global deste país e, sem
que ninguém perca a identidade da sua
formação partidária, dispensarmo-nos de provocar eclipses inúteis que deixarão
tudo na mesma “ austera,
apagada e vil tristeza.”, como já se lamentava Camões ( Lus.X,
145) e Fernando Pessoa deplorava o “Nevoeiro” da sua e nossa pátria.
Termino com o entusiasmo
com que comecei: Será que, em 4 de Outubro, repetirá o Povo madeirense,
repetirão os portugueses a retumbante vitória do 29 de Setembro de 2013? Mesmo que fosse contra toda a esperança, espero dar os parabéns
a um Povo “nobre” de clarividência, “nação
valente” que não perde de vista o alvo da sua luta.
29.Set.2015
Martins Júnior
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