Com que hei-de compor
este ramalhete da nossa habitual conversação, logo hoje, onde, por ordem
inversa, se cruzam princípio e fim daquele espaço temporal a que chamamos
semana? Fim de semana e princípio de outra, hora de contrastes, de luz e
sombra, de concertos alucinantes e recolhimentos dominicais, de bombásticos
arraiais marianos e, por via deles, mortes inauditas, apoteoses futebolísticas e dramas em carne
viva de migrantes sem rumo certo.
Decido-me pela saúde
física, mental e cultural, síntese que define o bem estar psicossomático, que é
como quem diz, o equilíbrio de corpo e espírito: a permuta de esforços entre um e outro produz a festa comunitária. E é
desta que vos trago as tonalidades sonoras e humanas que caracterizam as nossas
festas na Ribeira Seca. Desta vez, os corações dominaram toda a estética da
decoração, tanto a interior como a exterior, simbolizando que cada coração,
grande ou pequeno, homem ou mulher, criança ou ancião, todos desaguam no mesmo
oceano do Amor. Neste caso, do Amor de Mãe, o da Senhora do Amparo.
Em breves gravuras
reproduz-se a simbiose de gerações, desde as crianças, os adolescentes, os
jovens e os adultos que, no palco aberto, fizeram desfilar páginas vivas da
história deste recanto, modesto vale dissolvido no grande abraço que é toda a
envolvência da paisagem de Machico, freguesia e cidade,
Reviu-se, em verso, canto
e dança pelas crianças de hoje, a justa
reivindicação da década de 80 do século transacto, em que os alunos de então reclamavam
“uma escola a tempo inteiro, um serviço de cantina e um parque infantil”. E
conseguiram.
A mensagem dos adolescentes
não podia ser mais explícita quanto à finalidade última das festas do Povo:
Cantar na Ribeira Seca
É tradição bem antiga
Faz a terra mais bonita
Faz a gente mais amiga.
Aos jovens coube a missão
de despertar a sua geração para a “conquista do nosso lugar”… “Porque o mundo
também está na tua mão/ O futuro é nosso/ E é nossa a nação”--- enquanto
transportavam o lume novo da fogueira erguida no centro do palco, como no centro
da vida.
Homenagem ao Emigrante
madeirense que “de longe vem/ Ver de novo a terra-mãe”, “As vindimas” e “As
estradas são do Povo”, “porque se o Povo é que paga tudo, é nossa a inauguração”
e não dos “troca-tintas”.
Comunico-vos este júbilo
indesmentível nos olhos dos intérpretes e
dos espectadores, alguns deles autores de todas as letras da músicas,
também estas originais. Sempre se cantou que “Nas festas/ que o Povo organiza/
Há mais alegria e verdade”. E viu-se! Não foram precisos orçamentos
milionários, nem artistas de topo nem muito menos estrondosos petardos --- nem
um --- para que o Povo se ajuntasse e, unido, se divertisse. Foi uma Festa do
Povo, com o Povo e para o Povo.
Momento alto, cativante
pela sua candura e brilhantismo, foi a
estreia da Tuna Infantil, fruto da resposta pronta e persistente de filhos e
pais, para alcançarem tão estimado quanto pedagógico objectivo.
Dá prazer todo o investimento continuado de dias e semanas a
fio, quando “vimos, ouvimos e lemos”, em caracteres existenciais, que a
aprendizagem e o crescimento sócio-cultural marcam o rumo das festas do Povo.
13.Set.2015
Martins Júnior
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