domingo, 13 de setembro de 2015

QUANDO A FESTA DÁ SAÚDE E FAZ CRESCER…


Com que hei-de compor este ramalhete da nossa habitual conversação, logo hoje, onde, por ordem inversa, se cruzam princípio e fim daquele espaço temporal a que chamamos semana? Fim de semana e princípio de outra, hora de contrastes, de luz e sombra, de concertos alucinantes e recolhimentos dominicais, de bombásticos arraiais marianos e, por via deles, mortes inauditas,  apoteoses futebolísticas e dramas em carne viva de migrantes sem rumo certo.
Decido-me pela saúde física, mental e cultural, síntese que define o bem estar psicossomático, que é como quem diz, o equilíbrio de corpo e espírito: a permuta de esforços entre  um e outro produz a festa comunitária. E é desta que vos trago as tonalidades sonoras e humanas que caracterizam as nossas festas na Ribeira Seca. Desta vez, os corações dominaram toda a estética da decoração, tanto a interior como a exterior, simbolizando que cada coração, grande ou pequeno, homem ou mulher, criança ou ancião, todos desaguam no mesmo oceano do Amor. Neste caso, do Amor de Mãe, o da Senhora do Amparo.
Em breves gravuras reproduz-se a simbiose de gerações, desde as crianças, os adolescentes, os jovens e os adultos que, no palco aberto, fizeram desfilar páginas vivas da história deste recanto, modesto vale dissolvido no grande abraço que é toda a envolvência da paisagem de Machico, freguesia e cidade,

Reviu-se, em verso, canto e dança pelas crianças de hoje,  a justa reivindicação da década de 80 do século transacto, em que os alunos de então reclamavam “uma escola a tempo inteiro, um serviço de cantina e um parque infantil”. E conseguiram.
A mensagem dos adolescentes não podia ser mais explícita quanto à finalidade última das festas do Povo:

Cantar na Ribeira Seca
É  tradição bem antiga
Faz a terra mais bonita
Faz a gente mais amiga.



Aos jovens coube a missão de despertar a sua geração para a “conquista do nosso lugar”… “Porque o mundo também está na tua mão/ O futuro é nosso/ E é nossa a nação”--- enquanto transportavam o lume novo da fogueira erguida no centro do palco, como no centro da vida.

Homenagem ao Emigrante madeirense que “de longe vem/ Ver de novo a terra-mãe”, “As vindimas” e “As estradas são do Povo”, “porque se o Povo é que paga tudo, é nossa a inauguração” e não dos “troca-tintas”.
Comunico-vos este júbilo indesmentível nos olhos dos intérpretes e  dos espectadores, alguns deles autores de todas as letras da músicas, também estas originais. Sempre se cantou que “Nas festas/ que o Povo organiza/ Há mais alegria e verdade”. E viu-se! Não foram precisos orçamentos milionários, nem artistas de topo nem muito menos estrondosos petardos --- nem um --- para que o Povo se ajuntasse e, unido, se divertisse. Foi uma Festa do Povo, com o Povo e para o Povo.

Momento alto, cativante pela sua candura e brilhantismo, foi  a estreia da Tuna Infantil, fruto da resposta pronta e persistente de filhos e pais, para alcançarem tão estimado quanto pedagógico objectivo.
         Dá prazer todo o investimento continuado de dias e semanas a fio, quando “vimos, ouvimos e lemos”, em caracteres existenciais,   que a aprendizagem e o crescimento sócio-cultural marcam o rumo das festas do Povo.

13.Set.2015

Martins Júnior

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