Com
o devido respeito cívico para com todos e com todos os partidos e coligações
concorrentes às eleições de 4 de Outubro, apraz-me reproduzir substancialmente
aqui, em fim de dia, os considerandos que o jornal online “Funchal-Notícias”
fez o favor de publicar hoje de manhã, em artigo que escrevi no dia 22,
sob o título “ Não há crise…de partidos”.
Eles
aí estão, nascidos como cogumelos, por geração espontânea, de quantas cores e
tamanhos tantos, não se distinguindo, a olho nu, os saudáveis dos venenosos. É
tal a sementeira que mais se parece àquelas aldeias, paupérrimas de recursos
mas ricas no índice de natalidade. São assim as crises: barrigas de aluguer do
mais vulgar de Lineu que se apresenta
como salvador de pátrias.
No
entanto, não escapará, por certo, ao observador atento um traço identitário
comum., qual seja, o de inscrever no mastro alto das respectivas bandeiras as
mesmas palavras de ordem de todos os adversários emergentes: o novo hospital,
os transportes marítimos, os dois meses de carência no reembolso das viagens
aéreas, as crianças e os velhinhos, os IMI’s, os manuais escolares, as pensões… e
por aí fora, tudo enfiado numa placa de zinco, como se fossem impressas na
mesma tipografia. E quando se esgotam os “spots”do mercado, entra-se pela nuvem
dos delírios, fazendo juras de alcançar
paraísos irreais, de todo inatingíveis. E, nas mais das vezes, contraditórios. Estou a lembrar-me daquele eleito para vogal
de Junta de Freguesia. (leiam-no nas entrelinhas) o qual, ao saber que só teria
direito ao pagamento de senha de presença quinzenal, respondeu: “Desisto, isso nem dá para a sola das botas”.
E agora --- “suave milagre” ! --- aparece como cabeça-de-lista de um partido
recém-chegado à Madeira, cujo programa solenemente decreta a “redução imediata do ordenado dos deputados”. É caso para exclamar: AhAh!
Mas
há uma outra marca distintiva em quase todos os jovens partidos (e dos velhos
dogmáticos também) tão impressiva e
descarada que até um cego a detecta: meter grãos de areia na roda
dianteira dos dois (aliás, de um) dos
corredores rivais que encabeçam o
pelotão. Descubram-me um desses 13 ou 14 partidos que não faça do PS a ementa
apetecida da sua cozinha picante! Achei uma piada extrema quando, da varanda do
Kremlin da sua arrogância, o fogoso líder, na ânsia de melhor servir o prato, ensandwichou o PS no meio da Coligação,
ao igualá-los da mesma feita, com a já
estafada equação: “PSD-PS-CDS, farinha
do mesmo saco”. Isto, após a declaração inequívoca de António Costa de
votar contra o eventual Programa e Orçamento da Coligação. É obra! Valha-lhe a
inflexão de discurso feita hoje mesmo: ”Estamos dispostos a fazer contactos com
o PS”.
De
não menos pontiaguda intuição subterrânea é a verdura daqueles que tendo
recebido o apoio do PS nas últimas autárquicas --- o terro de que nasceram e
cresceram --- agora agarram, sempre que podem, o primeiro calhau para atirar em rosto dos “ex-compagnons-de-route”,
inclusive contra um dos seus beneméritos
“padrinhos”, o CDS. Coisas da tenra idade que, cedo ou tarde, farão ricochete
irreversível! Mesmo na rampa escorregadia da política, nem sempre vale tudo.
Não
está em causa o legítimo direito de participação política. E, da minha parte,
não esqueço que, em 1976, fui convidado e alinhei num pequeno partido,
cuja nomenclatura está hoje extinta. Portanto, sei do que falo. E até no
parlamento regional nunca ninguém ouviu da minha boca expressões depreciativas
contra qualquer partido da oposição,
precisamente porque nunca perdi de vista o adversário comum, o PPD/PSD. Por isso,
o que mais decepciona é a ingenuidade (à falta de melhor designação) de
certos candidatos publicamente
conhecidos que, perdendo a visibilidade dos cenários no horizonte de pouco mais
de uma semana e sabendo que nunca elegerão um único deputado (serão precisos
15.000 votos) estão levando nos braços até ao pódio do poder uma direita
ultraliberal, infiel à palavra dada e
para a qual as pessoas valem menos que os números da “economia que
mata”. Lamentavelmente o confesso, mas
tenho a convicção de que, se a eleição fosse apenas entre a Coligação e o PS,
certos partidos, auto-proclamados puritanos defensores do Povo, votariam
PSD/CDS. Aliás, foi a puritana esquerda que em 2011, chumbando o PEC4, sentou
Coelho e Portas no cadeirão de São Bento e abriu o ciclo da abjurada austeridade.Com a direita
no poder, mais facilmente voltarão as manifestações, as cavalgadas na escadaria
da Assembleia da República, com os mesmos líderes partidários a vestir a
camisola do protesto, esquecendo-se de que o país precisa mais de bons
governantes do que de profissionais protestantes.
É
o velho princípio da terra queimada. Quem nada tem a ganhar, nada tem a perder
--- assim pensam. Mas, se assim acontecesse, ao fim da picada, todos
perderíamos. Todos!
E sai a pergunta final:
Será justo “14 contra 1”?
Martins Júnior
25.Set.2015
N.B. – Sem prejuízo da consideração e, nalguns casos, da velha
amizade que me liga aos elementos da JPP, estranhei a ligeireza de publicarem
no seu facebook gravuras de um encontro casual em campanha eleitoral na Ribeira Seca, não obstante a ressalva que, cordial e ironicamente, lhes
dirigi. na altura: “Olhem que eu não sou sportinguista”. Mais uma vez se
confirma: Em política, não vale tudo.
Sem comentários:
Enviar um comentário