Porque sinto bater à porta
Da minha rua
Uma criança esvaída no chão
Sem ter ninguém que lhe valha
Nem sequer a mão
De uma mortalha…
E da minha rua vejo
Todas as veredas, todos os charcos
Vejo sepulturas dentro dos barcos
Que chegam ao meu país
Com crianças no porão…
Deixa o torpor do colchão,
Gritam,
Empresta-me a tua mão!
+++
Não fico em casa, não!
Oiço falir as braçadas
De quem lança ao mar as redes
Sempre vazias, sempre trituradas
Nas garras dos tubarões…
Vem, vê se largas
Salões sermões e serões
E vem aqui tornar mais doce
O pão
Que sai das ondas amargas…
+++
Bem longe e bem perto trovejam
Legisladores sem lei
Zombis nocturnos, inda há pouco os encontrei,
Tabeliões, talibãs
Estirados em divãs
Feitos da pele e do osso
De quem não tem onde cair morto…
Deixa a paz do mísero conforto
Traz a tua mão
Com a ponta do teu dedo
Esgana os zombis do medo
Os passos para o caixão
As portas da escuridão
E nasça o dia original
Em que se cante de novo
O hino de Portugal
+++
Se fico em casa
Vem a selva de fogo e arrasa
A enxerga onde me deito.
Quero rasgar a encosta
Desbravar
O caminho desfeito
+++
Na minha, na tua, na nossa mão
Vejo abrir
Meu país em construção
3.Out.2015
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário