Os
últimos acontecimentos ocorridos em Paris vieram demonstrar que o mundo vive em
cima de um vulcão que pode acordar quando e onde menos se espera. Nem adianta
adjectivar aquilo que substantivamente pertence ao reino da selva em plena
cidade. Entretanto, como tive oportunidade de dizê-lo anteontem, as erupções,
parecendo espontâneas, não nascem por geração espontânea. Há um vasto
conglomerado de micro-génesis que vai crescendo silenciosamente até alcançar os
paroxismos do macro-trágico. Apontei, a
título exemplar, a sôfrega ambição dos
mercados e o domínio, a qualquer preço, da “economia que mata”. Mas há outros
micro-climas de teor político-administrativo que também minam a sociedade e de
tal forma que daí explodem incontroláveis ataques de nervos, senão mesmo perigosos focos de desestabilização.
Falo
desses epifenómenos criados dentro da própria casa, crispações na política doméstica
de efeitos imprevisíveis. E falando destes, sem querer perder muito tempo,
refiro-me ao assunto de amanhã: a visita do Presidente da República à Madeira. Muitas têm sido as críticas, a nível nacional,
contra a veleidade irresponsável que o Primeiro Magistrado da nação vem exibir
na nossa ilha, a pretexto de um encontro de economistas ou inauguração de
empresas, como se o país nesta altura sem-governo fosse um episódio irrelevante
para quem assumiu compromissos constitucionais da maior repercussão na vida de
um Povo. Quando tinha e tem à sua frente evidências normativas para pôr o país a funcionar com a constituição de
um novo governo, o nosso Chefe anda à
cata de uma vereda, de um buraco supostamente alternativo ou, pior ainda,
dá-lhe para voar nas nuvens, lembrando-nos o imbecil e sádico Bush quando, no
ataque bombista às Torres Gémeas, meteu-se num helicóptero a sobrevoar a cidade
em chamas. Era inimaginável chegar ao século XXI e assistir ao ridículo de um
Presidente da República escarnecido na comunicação social, como que derretido
com as cagarras das Selvagens e o sorriso das vacas açorianas…
Por tudo isto, merecia que se
escrevesse na pista do aeroporto uma tarja de peso: “Nesta altura, Cavaco é ‘Persona
non grata’ na nossa ilha”. Além das justificadas insinuações do mais descarado
apadrinhamento da Direita, esta atitude de um homem que a si próprio
classificou como “totalmente insensível”, abre o caminho a um acervo de
proposições, as mais delirantes, como seja a Revisão da Constituição para haver
já, já, novas eleições… ou tantas quantas até que venham à tona de água os
malogrados náufragos, seus filhos
adoptivos. Pelas portas, esta ressaca de Pedro só podia ter vindo dos olhinhos
lânguidos de Paulo.
Como
cidadão, tenho o direito e o dever de exigir ao Presidente de todos os
portugueses que ocupe o seu lugar. E que não use a Madeira como pretexto para a fuga às suas actuais e insubstituíveis responsabilidades
na condução pacífica do país, evitando perturbações ou sobressaltos, a todos os
títulos, detestáveis. Tanto mais que o senhor, do alto dos seus quase dois
metros físicos e outros tantos de
desadaptação social e intelectual, proclamava que “já tinha todos os
cenários na mão e sabia bem o que iria fazer”.
Em
todo este confuso labirinto, só lhe acho um presumível mérito: o de vir à
Madeira descobrir a pólvora! Onde estará o paiol?--- perguntarão os meus amigos.
E eu decifro:. Basta percorrer os dois atalhos que nestes dias têm ficado patentes
aos olhos de toda a gente:
O
primeiro: o PR pode optar constitucionalmente por nomear um governo de iniciativa presidencial.
O segundo: leiam a capa do jornal “Económico” de quinta-feira passada, dia 11: “Cavaco
tem margem para um governo de iniciativa presidencial, mesmo que fique em
gestão até novas eleições”. Autor da
proposta: Alberto João Jardim.
Como se usa dizer, entre os dois casos qualquer semelhança é pura coincidência.
Sem mais comentários: Será que o “Sr. Silva” vem convidar o extinto inquilino da Quinta para vigia deste país, encarregando-o de formar o tal governo de iniciativa presidencial?
Sem mais comentários: Será que o “Sr. Silva” vem convidar o extinto inquilino da Quinta para vigia deste país, encarregando-o de formar o tal governo de iniciativa presidencial?
No
delírio em que esta gente vegeta, no estertor da agonia até Janeiro, nada me surpreende.
Esperemos para ver. Talvez Cavaco tenha descoberto a pólvora na ilha.
Pois o que Portugal mais preciso nesta hora é mesmo da pólvora, made in Madeira…
A
tanto chega o oportunismo rasteiro e
caduco de quem ainda sonha com os moinhos de vento de trinta e seis anos de
poder!
Basta
de invencibilidades.
15.Nov.15
Martins Júnior
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