São de sol e azul os dias primeiros
deste Novembro em flor. E é nessa onda aberta que me apetece surfar. Não para falar do clima que a
tradição chama “verão de São Martinho”, mas para trazer à varanda da tarde três acenos
de primavera que nos chegam, de perto e de longe. No meio de nuvens negras como
aquelas que cada vez mais escurecem os nossos ecrãs domésticos, é bom e é saudável encher os pulmões de ar
fresco, sobretudo quando ele sopra de desertos longínquos…
O primeiro veio de Myanmar,
antiga Birmânia, onde uma mulher, prisioneira da ditadura durante 21 anos,
acaba de ganhar as primeiras eleições
livres do seu país e abriu o caminho
para ascender à cadeira de Primeiro Ministro.
É uma epopeia de luta e martírio a sua vida de 70 anos de idade. Defensora dos
Direitos Humanos, foi galardoada em 1991 com o Prémio Nobel da Paz, mas
impedida de o receber pessoalmente, o que só veio a concretizar-se em 2012, após a libertação da prisão
militar. Lição de vida e bandeira de
esperança para todos os resistentes como ela! Por muito que custe
subir a montanha é lá o lugar vitorioso do nosso Povo.
A
segunda aragem primaveril, lufada de ar puro sobre os antros da podridão, vem
de Roma. Pensarão os puritanos do embuste “sagrado” que se trata de um
escândalo indigno de apresentar-se à luz do dia. Mas não. Pelo contrário,
fez-se luz nos hipócritas aposentos do Tesouro do Vaticano, onde campeia a
corrupção, contra a qual tanto se tem batido o Papa Francisco, ao ponto de
ver-se rodeado de lobos rapaces, travestidos de cardeais. Os dois livros recém-publicados abrirão os
olhos ao povo crédulo que nem imagina que as “esmolas” que dão à Igreja não revertem para os pobres
mas correm sigilosamente para os cofres
particulares, neste caso para os grandes bancos e para acções em companhias petrolíferas.
O terceiro sopro de
Primavera chega-nos da enigmática Singapura, onde dois povos irmãos, mas
desavindos desde 1949, deram as mãos, quando os dois presidentes, Xi Jinping,
da China, e Ma Ying-jeou, de Taiwan, puseram fim a quase sete décadas de
hostilidades fratricidas. Exemplo de
conquista democrática dos valores que seguram a nação, os dois governantes
descobriram o conteúdo da velha máxima: “É a união que faz a força”.
Não obstante a aluvião das desventura que todos os dias nos atacam os olhos e a alma, é consolador e construtivo
para o corpo e para o espírito sentir passar pelo rosto a brisa suave de
notícias positivas. No mesmo feixe de optimismo saudável, junto a Aliança “Povo- MFE” (Movimento das Forças de Esquerda) que neste outono português
nos brinda com a nova atmosfera política de merecida Primavera.
9.Nov.15
Martins Júnior
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