“Quanto
ao mais, só poderemos ver quando os parisienses acordarem amanhã de manhã” --- assim falava o repórter nos ecrãs da TV.
E
eu pergunto: “Mas quem é capaz de dormir esta noite”? Não apenas em Paris, mas em
todos os continentes, em todas as ilhas e lugarejos onde chega a informação!...
Aqui na Madeira, aqui na Ribeira Seca e aí onde você se encolhe diante do
televisor!
François
Hollande, há pouco, pedia calma aos franceses. Mas como? Um turbilhão de
emoções desconexas e conclusões inconclusas
confrontam-se no nosso psíquico. Uma
delas, a que mais me assalta neste momento, vem da memória da guerra subversiva dos tempos
coloniais, em que os que ali andávamos não
sabíamos onde rebentaria a mina
letal, se debaixo de um “unimog”, se nos
carreiros do capim, se à beira da caserna. Vejo, aterrorizado, que a estratégia
da guerrilha clandestina da selva passou para as grandes cidades, para os
estádios de futebol, para os oásis da cultura, as salas de espectáculo. Apetece
gritar: “Este mundo não é para humanos, é para monstros ferozes”. E onde param
os “turras”? … Talvez perto de nós, sentados à mesa do mesmo café, no mesmo
apartamento! Doravante, já não cantaremos “em cada esquina um amigo”, mas
tremeremos de pavor pensando desconfiados “em cada esquina um terrorista”. O Mundo que
os homens fizeram!
Transido
de espanto e desnorte, leio --- você também
--- a notícia de que são muitos os jovens, homens e mulheres, não tanto dos
bairros degradados mas da classe média, intelectual, que são recrutados em
França, na Inglaterra, em Espanha e até no nosso Portugal, prontos a lutar ao
lado das fanáticas tropas do Estado Islâmico. Mas porquê? Porquê? Quem explica
tão abominável desiderato, ainda por cima, sublimado em mística existencial?
Os analistas arrumam teses e hipóteses,
o passado colonialista dos europeus, a falta de articulação dos serviços de informação entre os países do Ocidente, a
desenfreada indústria armamentista, as
arremetidas bélicas dos EUA, enfim, tudo certo e muito mais. A mim, o que mais
me revolta e atormenta é ver uma Europa dividida, líderes cegos, de coração de
pedra, entretidos em jogos prefabricados atirando os povos entre o eixo
norte-sul, os “negrejeiros” exploradores (assim os classificava o nosso Eça) assolapados nos bancos, nos BCE’s, FMI’s, nas
multinacionais, nos paraísos fiscais, enfim, na “economia que mata”. E, mesmo entre nós, as tramas do poder, as
birras partidárias, os empates tacanhos
do Presidente. Esta gente onde é que tem a cabeça, onde pensam eles que estão
seguros?... Podem arregimentar-se por detrás das muralhas do regime ou do dinheiro,
enquanto o terrorismo entra-lhes furtivamente pelas traseiras do palácio, minam
a sala do tesouro e esperam a hora da sexta para lhes estourarem os crâneos. O
pior são as vítimas inocentes, duplamente estranguladas sem culpa nenhuma. Como os 153 mortos desta noite fatídica em Paris.
Por mais que nos queiram iludir com o “espantalho”
(até disfarçam a pílula chamando-lhe mito) da religião, seja muçulmana, seja judaica, hindu ou qualquer outra, o grande pomo da
discórdia universal está no cofre da finança, o vírus de todas as guerras, que torna, segundo o velho princípio, Homo lupus lupior, “o Homem é o pior
lobo de si mesmo”. Do seu mais próximo.
Quando --- talvez nunca! ---
descobriremos que sem justiça distributiva, não haverá paz nem sossego e nenhum de nós dormirá seguro no travesseiro a
que tem direito?
13.Nov.15
Martins Júnior
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