sexta-feira, 13 de novembro de 2015

QUEM PODE DORMIR ESTA NOITE?



“Quanto ao mais, só poderemos ver quando os parisienses acordarem amanhã de manhã”  --- assim falava o repórter nos ecrãs da TV.
E eu pergunto: “Mas quem é capaz de dormir esta noite”? Não apenas em Paris, mas em todos os continentes, em todas as ilhas e lugarejos onde chega a informação!... Aqui na Madeira, aqui na Ribeira Seca e aí onde você se encolhe diante do televisor!
François Hollande, há pouco,  pedia  calma aos franceses. Mas como? Um turbilhão de emoções desconexas  e conclusões inconclusas confrontam-se no nosso psíquico.  Uma delas, a que mais me assalta neste momento, vem da  memória da guerra subversiva dos tempos coloniais, em que os que ali andávamos não  sabíamos  onde rebentaria a mina letal, se debaixo de um “unimog”,  se nos carreiros do capim, se à beira da caserna. Vejo, aterrorizado, que a estratégia da guerrilha clandestina da selva passou para as grandes cidades, para os estádios de futebol, para os oásis da cultura, as salas de espectáculo. Apetece gritar: “Este mundo não é para humanos, é para monstros ferozes”. E onde param os “turras”? … Talvez perto de nós, sentados à mesa do mesmo café, no mesmo apartamento! Doravante, já não cantaremos “em cada esquina um amigo”, mas tremeremos de pavor pensando desconfiados  “em cada esquina um terrorista”. O Mundo que os homens fizeram!
Transido de espanto  e desnorte, leio --- você também --- a notícia de que são muitos os jovens, homens e mulheres, não tanto dos bairros degradados mas da classe média, intelectual, que são recrutados em França, na Inglaterra, em Espanha e até no nosso Portugal, prontos a lutar ao lado das fanáticas tropas do Estado Islâmico. Mas porquê? Porquê? Quem explica tão abominável desiderato, ainda por cima, sublimado em mística existencial?
         Os analistas arrumam teses e hipóteses, o passado colonialista dos europeus, a falta de articulação dos serviços de  informação entre os países do Ocidente, a desenfreada  indústria armamentista, as arremetidas bélicas dos EUA, enfim, tudo certo e muito mais. A mim, o que mais me revolta e atormenta é ver uma Europa dividida, líderes cegos, de coração de pedra, entretidos em jogos prefabricados atirando os povos entre o eixo norte-sul, os “negrejeiros” exploradores (assim os classificava o nosso Eça)  assolapados nos bancos, nos BCE’s, FMI’s, nas multinacionais,  nos paraísos fiscais,  enfim, na “economia que mata”.  E, mesmo entre nós, as tramas do poder, as birras partidárias, os empates  tacanhos do Presidente. Esta gente onde é que tem a cabeça, onde pensam eles que estão seguros?... Podem arregimentar-se por detrás das muralhas do regime ou do dinheiro, enquanto o terrorismo entra-lhes furtivamente pelas traseiras do palácio, minam a sala do tesouro e esperam a hora da sexta para lhes estourarem os crâneos. O pior são as vítimas inocentes, duplamente estranguladas sem culpa nenhuma.  Como os 153  mortos desta noite fatídica em Paris.
         Por mais que nos queiram iludir com o “espantalho”  (até  disfarçam a pílula chamando-lhe  mito)  da religião, seja muçulmana, seja judaica, hindu  ou qualquer outra, o grande pomo da discórdia universal está no cofre da finança, o vírus de todas as guerras,  que torna, segundo o velho princípio, Homo lupus lupior, “o Homem é o pior lobo de si mesmo”. Do seu mais próximo.
         Quando --- talvez nunca! --- descobriremos que sem justiça distributiva, não haverá paz nem sossego e  nenhum de nós dormirá seguro no travesseiro a que tem direito?

13.Nov.15
Martins Júnior

   

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