Como
nos ensina a oralidade popular, se “o mal ou o bem à face vem”, ficámos sem saber, ao
menos pelo semblante cavernoso de Cavaco, se o “Sr. Silva” sempre descobriu aqui a “pólvora”
para formar o arsenal do próximo governo de “iniciativa presidencial”.
Aguardemos se cumpre ou não a incógnita
que deixei na minha última exposição. Agora, o que fica de pé é o passeio
alegre de uma múmia ambulante que aqui veio deliciar-se com a criação dos
peixinhos em cativeiro, medir o tamanho da banana madeirense, cheirar a farinha
de batata doce (todos o ouvimos na comunicação social) e tilintar os garfos em jantares pagos por nós. Tudo
isto, enquanto o país inteiro está parado --- espera aí, sentado --- com
orçamentos congelados, planos na gaveta, iniciativas e obras na barriga de aluguer,
empresas em sinal intermitente e, sobretudo, a economia, o Povo sem poder
seguir viagem.
Perante
a magnitude dos problemas em equação e o clamor de todo o país, , quer à
esquerda quer à direita, o nosso “conselheiro Acácio” atira à frente, como um buldózer,
o maxilar inferior e abre caminho para emitir uns monossílabos entaramelados,
tais como “eu sei, eu sei muito bem”…ou “eu estive, em 1987, cinco meses num
governo de gestão”. É preciso haver um madeirense bobo para envergonhar a nossa
ilha e suportar “bobagens” destas. Aplicar em tempos do século XXI receitas do
século passado! Preciso é também ser um acabado exemplar do bota-de-elástico salazarento
a quem nem faltava o mesmo tique de falsete enfatuado. Deve ser a sina da
Madeira: servir de “albergue espanhol” a presidentes fora-de-prazo, já desde os
tempos do ditador Fulgêncio Baptista, de Américo Tomás e Marcelo Caetano…
Quero
com isto dizer que Cavaco, primeiro tinha de dar conta da sua responsabilidade,
a de dar posse a um novo governo de Portugal, seja ele qual for, e depois teria
todo o tempo do Natal e Ano Novo para espraiar-se na ilha e andar a
cumprimentar com o chapéu alheio, em almoçaradas e inaugurações quantas
quisesse. Assim, é usar e abusar da nossa condição de ilhéus perante todos os
portugueses.
Mas
quero com isto dizer mais. De entre todos os governantes e Presidentes da
República, Cavaco foi o que mais maltratou a Região. Recordo, para quem
desconheça, que foi ele, enquanto Primeiro Ministro, que obrigou a Madeira a pagar “já” a dívida a
Lisboa, através do leonino e famigerado “Protocolo de Reequilíbrio Financeiro”. Aí
encontrou no presidente do governo regional de então um aliado tão insensível e implacável como
ele, ao ponto de forçar as Câmaras, todas PSD, a assinar “de cruz” o referido Protocolo, em
virtude do qual ficaram as míseras tesourarias dos municípios madeirenses obrigadas
a pagar as obras inauguradas pelo governo regional. Uma única houve que se
recusou, a do Ponta do Sol. Posso dar o meu testemunho pessoal do quanto foi
penoso para o concelho de Machico ter direito a receber 33.000 contos mensais por via da Lei das Finanças Locais e, feita retenção na fonte já em Lisboa, recebia apenas 1/3, ou seja
11.000 contos que nem chegavam para pagar salários! Tudo isto me caiu em cima das costas nos dois
mandatos à frente da Câmara Municipal de Machico, totalizando a soma de 1
milhão e 800 mil contos, isto é, em
moeda actual 9 milhões de euros. Não
foi Vasco Gonçalves nem Mário Soares nem Guterres. Foi o Senhor Cavaco Silva,
conluiado com o antigo inquilino da Quinta Vigia. Foi também nessa altura que,
perante os meus protestos contra aquilo que consubstanciava uma grave
intromissão na autonomia administrativa e financeira dos municípios, sim, foi
então que o quase vitalício ocupante da Quinta esbracejou e aos quatro ventos proclamou
como dogma: “Cavaco Silva é um bom madeirense, o Pe. Martins é um reles cubano”!
Enfim,
cenas herói-cómicas de uma ópera bufa que é preciso recordar e descrever
como “persona não grata” quem deveria ter chegado cá e pedir perdão pela
extorsão que fez aos municípios madeirenses.
Não
é, pois, gratuita ou partidária a atitude adversa que nutro pelo visitante na
hora do “canto do cisne”. Vem de longe, com justificados motivos, pelo mal que
nos fez. E vem de perto, pela mais cega
incongruência do seu argumentário. Na Madeira, botou palavra e exigiu de todos os
países europeus uma resposta à altura sobre os trágicos acontecimentos
ocorridos em Paris. E definiu, de dedo em riste: “uma resposta rápida”!
E,
para Portugal, que é nosso e não é seu, que pasmada resposta anda a remexer?...
Mexa-se e dê a “resposta rápida” que o Povo urge.
Da
minha parte, com os dois “dias ímpares” , apenas pretendo observar que o “bom madeirense Cavaco” está enganado se pensa ver em cada conterrâneo nosso o carinhoso
sorriso das cagarras que visitou nas Selvagens.
17,Nov.15
Martins Júnior
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