Não
faço ideia de qual a resposta que cada um de vós, amigos e amigas, terá
formulado à pergunta com que iniciei e concluí o último SENSO&CONSENSO: Nós, os jihadistas?... Hoje, no meio da
turbulência com que que os ajustes da bola fazem abarrotar as redes
comunicacionais, proponho que se faça um “ponto de ordem” e se retire a incógnita
então proposta e se lhe substitua pela expressão mais assertiva: Nós, os
jihadistas.
Comecemos pela evidência de constatar,
ao vivo, a génese de outros tantos cataclismos sociais que a História registou
ao longo dos séculos. Não se trata de consultar a Wikipédia dos povos bárbaros que
derrubaram a civilização greco-romana, ou estudar as Cruzadas, as lutas
encarniçadas entre mãe e filho para implantar a independência do “Portuscale”,
ou a Revolução Francesa, nem mesmo o
massacre nazi. Hoje coube-nos a sanção penal de ficarmos dentro dos horrores de
outrora, sentir o dilúvio de fogo a afogar pessoas e bens, a calamidade em
carne viva entrando pelas nossas portas adentro. Nós já não somos actores, mas
autores das páginas sangrentas que os vindouros hão-de relatar para a posteridade.
Refiro-me
aos cinco monstros que espalham em cima das nossas cabeças a destruição
apocalíptica do planeta em que vivemos. Mencionei-os anteriormente e reproduzo-os
em síntese: o dinheiro, a exclusão a
guerra, a ambição “heróica” e a inércia comum. “Compra-se tudo” ---
voltando à Velha Senhora” de Francis Durrematt. O dinheiro compra nações e
consciências, compra graúdos e miúdos, compra cadeias e códigos penais, compra
padres, bispos e papas, compra a opinião pública e a opinião publicada. E fabrica os guetos, as armas, incita
os heróis do nada e seca a força anímica de reagir.
É este o chão fértil que tem envenenado as
mentes e as lideranças e, por consequência, tem parido as fauces insaciáveis do
terrorismo internacional. Não posso abusar do vosso capital disponível de tempo
e espaço para levar-vos ao terreno e verificar esta indesmentível constatação.
Mais descobriríamos que, na medida em que se compra, em redobrada medida se paga. Não
estará a geração presente a sofrer na pele as consequências do colonialismo estripador
de gerações passadas? Absolutamente. Não significará tudo isto o furor dos
explorados dos diamantes, dos petróleos, dos marfins, dos escravos com que “as
ditosas pátrias” se locupletaram? E a barbárie da fé assassina em Allá não será o
efeito de um inexistente Deus bárbaro que fez da Cruz a arma do Império, desde
os longínquos continentes até às mais modestas aldeias?...
Se
é verdade a inadiável intervenção cirúrgica da força defensiva e obstrutiva,
também não é menos verdade a exigência de nos olharmos ao espelho da nossa
consciência colectiva e vermos de que lado da barricada estamos nós, o nosso
país, o nosso mundo. Não faremos nós parte indissociável dos monstros que
devoram a civilização, a paz, a alegria de viver?
Exemplificando:
Quando
permitimos que legisladores fortes imponham
normativos draconianos aos ombros dos mais fracos, não estaremos nós a semear os gérmenes da guerra?... Quando chutam
para a valeta do desemprego milhares,
milhões de braços famintos, sobretudo da juventude indefesa … quando os julgadores condenam inocentes e, a troco de dinheiro, deixam cá fora os
criminosos … quando os milionários banqueiros despudoradamente diante de nós
bebem o “sangue fresco” dos depositantes … quando um presidente mói no
torniquete da sua teimosia a paciência de um país inteiro … quando se fabricam
abrigos de gelo e abandono para quem se arrasta nas ruas e nos bairros de lata
--- que esperamos nós de volta senão a
violência dos oprimidos contra a desumanidade dos opressores?!... E quando, em
plena praça escolar, crianças, jovens e respectivas famílias se digladiam no triste espectáculo do “bullying”
impune… e quando, portas adentro, se adensa e fatalmente se consuma a mais
selvática violência doméstica --- em que
diferem de nós as cenas, ainda que desproporcionais, dos terroristas externos?...
Há
uma excepção, imponente na sua humilde súplica, altíssima na sua coragem --- a
de Francisco Papa, braços abertos nos Himalaias da História, bradando contra a “economia
que mata”, interpretando o grito bíblico “O clamor do Meu Povo chegou aos Meus ouvidos,
diz o Senhor do Universo”, todo o dia apelando à inclusão, ao culto dos
valores que libertam, à solução global para a angústia global. À sua volta, os
jihadistas têm nome, são os cardinalistas e a arma, em vez da mortífera Kalashnikov,
trazem-na sacrilegamente ao peito, uma cruz parricida e fratricida. A formar
fileiras com a célula cardinalícia, vêm os bispos que se recusam a visitar o
seu povo e os falsos guias espirituais que, sem pingo de escrúpulo, excluem da grande
mesa festiva associações centenares da própria comunidade. Tudo isto é
terrorismo requintado, jihadismo encoberto.
Ficar mudo e quedo é colaboracionismo criminoso. Reagir pacificamente, até aonde se consiga --- é preciso, é urgente! Antes que o mal cresça...
Assim como a pedra no meio do lago vai crescendo em ciclo ondulante até às margens, assim cada gesto nosso só se transcende em espiral de vitória, se ajudarmos a apagar o rasto dos jihadistas internos a que, por inércia ou oportunismo, ainda pertençamos.
Assim como a pedra no meio do lago vai crescendo em ciclo ondulante até às margens, assim cada gesto nosso só se transcende em espiral de vitória, se ajudarmos a apagar o rasto dos jihadistas internos a que, por inércia ou oportunismo, ainda pertençamos.
21.Nov.15
Martins Júnior
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