segunda-feira, 27 de junho de 2016

Desde 27 de junho 1976 a 27 de junho 2016: PARTO A-FERROS DE UMA AUTONOMIA NA IDADE DA TERNURA


Como quem conta os nós de uma soca adulta  da nossa cana de açúcar, um a um, até chegar à raiz, assim podemos percorrer os quarenta anos da autonomia madeirense, começando pelo húmus que a  fez nascer. Chamemos-lhe  “idade da ternura”, aquela que estamos hoje a comemorar, sendo certo que o organismo democrático  nunca poderá  crescer  na almofada fofa do contentamento narcisista. Pelo contrário. Porque está cercado  de  vírus pantanosos, pré-organizados nos camuflados antros de interesses corporativistas, o crescimento democrático exige sempre vigilância, frescura, água renovada, seiva corrente.
Faz hoje quarenta anos das primeiras eleições para a Assembleia Regional da Madeira e, consequentemente, do seu governo próprio. Foi uma cabazada de votos para a formação partidária que até agora nos governa. Dos 41 deputados, 29 foram para o PSD, 8 para o PS, 2 para a UDP e 2 para o CDS.
Este é  o testemunho de quem viveu dentro do furacão de onde saiu um corpo desequilibrado, atacado de  macrocefalia logo à nascença,  a que pomposamente baptizaram de Autonomia. A geração de hoje nem faz ideia do despudor e da barbárie de que foram capazes os auto-proclamados donos da “Madeira Nova”.
Dois foram os paióis onde se fabricaram as armas de arremesso fulminante: a barbárie do bombismo  flamista e o despudor de uma Igreja ajoelhada ao trono do antigo regime. Ao mais isento observador ocorrerá, de certo, esta pergunta: Como é possível uma aliança tão contraditória entre o altar e a matança de inocentes? Resposta imediata: só num regime muçulmano do jhiadismo, a “Guerra Santa” de Maomé e seus sequazes, em defesa de um sanguinário Alá!
Ainda está por descrever esse rasto de sangue, destruição e morte que o movimento clandestino “Flama” deixou no berço daquilo que chamam Autonomia. Isto, apenas, bastará de paradigma: 1) pela calada da noite, criminosos assassinos colocavam nas mãos de jovens, ainda adolescentes, os explosivos traiçoeiros que espalharam o terror, rebentaram  viaturas e construções, em nada proporcionalmente diferentes dos atentados bombistas do Daesh. Aconteceu, até, o suicídio de um rapaz, de certeza inexperiente, que viu rebentar-lhe mortalmente nas mãos a bomba destinada aos defensores da verdadeira democracia conquistada no “25 de Abril”.  2)  Um outro, a cujo julgamento assisti na comarca de Santa Cruz, viria a enforcar-se (ou ser enforcado) na prisão para que não fosse desvendada a  máquina infernal da “Flama”. 3) O bombismo terminou logo após a subida de João Jardim ao poder regional – testemunho de um operacional da “Flama”. 4) A bandeira oficial da Madeira foi decalcada, copiada daquela que a “Flama” usava, como sua,  nas inscrições murais
espalhadas por toda a ilha como pré-aviso de ataques bombistas. Acrescento que, nesse período escaldante, Machico viu-se livre desses atentados em virtude da constante vigilância popular, dia e noite.

Ao lado da “Flama” militava a Igreja, ocupada pelo bispo Francisco Santana,  promotor na Madeira do já derrubado regime fascista. “Eu trato  por tu os ministros do “Estado Novo” salazarista – confidenciou-me pessoalmente, ainda antes de ser bispo. 1) Chegado ao Funchal, demite da direcção do “Jornal da Madeira” o ilustre Pe Dr. Abel Augusto da Silva e entrega-o a um rapaz factualmente conotado  com o regime salazarista, a União Nacional, dirigida na Madeira pelo tio deste, Dr. Agostinho Cardoso. O dito rapaz usou o Jornal da diocese como trampolim  para chegar a presidente do governo regional, cargo que ocupou durante mais de 38 anos.  2)  Em vésperas de eleições de 76, o bispo desmultiplicou-se, sem tréguas, numa campanha religiosa manifestamente tendenciosa: publicou uma Nota Pastoral, lida em todas as igrejas,  alertando os cristãos contra o socialismo, que manhosamente qualificava  de “marxista”; promoveu o grande espectáculo da missa do “Corpo de Deus” no estádio dos Barreiros e, no domingo anterior às eleições, faz uma extensa homilia de teor marcadamente separatista, misturando a “barca de Pedro” e Portugal a afundar-se, não hesitando ele, lisboeta, a  regionalizar-se madeirense: ”Queridos ouvintes, que me escutais em Portugal e no estrangeiro, podeis ver como nós, Madeirenses,  sabemos conviver, sempre que nos deixam ser genuinamente Madeirenses”. (O negrito dos caracteres é  tal e qual o mesmo do Jornal da Madeira).   3) A anteceder as eleições de 76, o citado bispo levou o jovem, novo director do Jornal, a todas as paróquias, apresentando-o como o melhor para governar a Madeira. O Padre Tavares Figueira, conhecedor profundo deste período, retratou a situação, com humor mas com inteiro rigor científico, numa entrevista de circulação nacional: “O PPD nasceu numa sacristia e o  pai foi o bispo Francisco Santana”.
Muito mais poderia acrescentar sobre uma matéria que os jornalistas locais esconderam  e continuam a esconder em sub-reptícias reportagens que não passam de “larachas da Autonomia”.
Sirvam estas palavras,, que comprovo sem qualquer receio, para interpretar a entrada da chamada Autonomia na “idade da ternura”, desde o 27 de Junho de 1976 até  27 de Junho de 2016. Saibam os homens e mulheres de hoje com que mãos se fez o parto desta Autonomia: o altar transformado em quartel de guerra e, escondida sob as toalhas,  a pólvora clandestina que iludiu e matou.
Terei oportunidade, a seu tempo, de trazer a público o que ainda não foi descoberto.
Duas notas finais:
Foi eleito nas listas do Partido Socialista aquele que, pouco depois, guinou para o PSD como presidente da Assembleia Regional, Dr. Miguel Mendonça.
Recordo Paulo Martins,  hoje,  dia do seu aniversário natalício, eleito como eu nas listas da UDP e em cuja companhia escrevemos páginas concretas em prol da verdadeira autonomia dos madeirenses.
     
         27,Jun.16

         Martins Júnior

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