sexta-feira, 17 de junho de 2016

O “MILAGRE” QUE PASSOU DUAS VEZES PELA MADEIRA – E PROMETE PASSAR DE NOVO

       Afeiçoei-me, nos meados de Junho, ao brilho deste vocábulo, tão estranho e tão quotidiano ao convívio dos mortais – o “milagre”. Hoje tentarei alcançar o terceiro degrau desta escada que iniciei desde a semana passada.
Seduzidos pelo título, alguns crentes pensarão logo no andor da Senhora de Fátima que cá esteve em 2010 e reapareceu em 2015. Ou que voltará no centenário da aparição de 1917. Mas não. Basta um pouco de discernimento prático para não deixarmos eclipsar  a “cabecinha pensadora” que temos em cima dos ombros. Com efeito, se interpretarmos o conceito de “milagre” como um bem apetecido, uma dádiva consoladora, o andor da Peregrina em 2010 só nos trouxe, por trágica coincidência,  destruições e mortes barbaramente  arrastadas no 20 de Fevereiro e cujas feridas ainda continuam abertas na paisagem e nas pessoas.
É, pois, a um outro fenómeno que me refiro. Este, tão insignificante, tão silencioso na passagem, tão “deprimente”  no aspecto que quase nem demos por ele. Passou por cá, pisou o chão da ilha, desceu ruelas do passado. Paralítico, enfezado, disforme do comum dos humanos, a cabeça insegura, caída sobre o ombro direito, à procura de apoio. Um comovente exemplar dessa doença degenerativa incurável que dá pelo nome de “esclerose lateral amiotrófica”.
E, no entanto, ele é um portentoso “milagre” do voluntarismo, aliado dos heróis. Melhor desvendar já o enigma, o “milagre”. Trata-se de Stephen Hawking, o génio da matemática, da física, da mecânica quântica, da termodinâmica, fundador do Centro de Cosmologia Teórica da Universidade de Cambridge, onde ocupou a cátedra de Isaac Newton ( a quem o nosso Álvares de Nóbrega cognominou de “Ave Real”) famoso astrónomo do século XVII. Impossível descrever a “Enciclopédia do Saber” que é Stephen Hawking, desde as incursões cosmológicas, aos prémios internacionais, até à participação na cinematografia, destacando-se a monumental obra God Created the Integers, a confirmação dos buracos negros interplanetários e da teoria do BigBang, que revolucionou as teorias creacionistas do Universo, na esteira de Albert Einstein e das ondas gravitacionais que cada vez mais ganham actualidade.
Fico-me por aqui no breve desenho da sua genial personalidade. Ele passou por cá. Em Santana. No Funchal fez a descida nos carreiros do Monte. Ele “viu-nos” e nós nem demos por ele. Foi a segunda vez. Aconteceu em 9 de Junho pp., em notícia de DN. E prometeu visitar a ilha por uma terceira vez. Fosse um jogador de bola ou um cantor pimba e teria toda a comunicação social a seus pés…
Entretanto, perguntareis vós: “Mas onde é que está o “milagre”?
O “milagre” já comecei a descrevê-lo nos primeiros parágrafos. E completo agora: “Aos 21 anos foi-lhe diagnosticada a doença cruel, fez uma traqueostomia e desde então usa um sintetizador de voz para comunicar. Foi perdendo o movimento de braços e pernas, assim como o resto da musculatura, incluindo a força para manter a cabeça erguida” ... Porém, um privilégio ímpar coroou tamanha fatalidade: não foram atingidas as funções cerebrais. E foi daqui, desse minúsculo globo, o cérebro,  tão misterioso quanto todo o Universo, que Stephen Hawking iniciou a gigantesca escalada dos Himalaias do Saber, alcançando cumes que outros, organicamente perfeitos, nunca conseguiram. A incomensurável potência da Vontade, impressa no cérebro humano! Que “milagre” maior queremos nós?... Muitos milhares, milhões, biliões ter-se-iam deixado ficar inertes, entravados, desesperadamente amortalhados numa enxerga ao abandono. Ele, não! Soergueu-se das próprias cinzas. Ele é um laboratório vivo da ciência em benefício de futuros pacientes. Ele empunhou, destemido, o “milagre” nos ombros quebradiços!
Falta um pouco mais. Stephen Hawking professa um ateísmo científico, fundamentado nas suas descobertas. E afirma: “O universo é governado pelas leis da ciência. As leis podem ter sido criadas por um Criador, mas um Criador não intervém para quebrar essas leis… Há uma diferença fundamental entre a religião, que se baseia na autoridade, e a ciência, que se baseia na observação e na razão. A ciência vai ganhar porque ela funciona”. Palavras pesadas para as nossas convicções e a ponderar seriamente...  Apesar disso, porém , (surpresa das surpresas!) em 9 de Janeiro de 1986, o Papa João Paulo II nomeou Stephen Hawking para  Membro da Academia Pontifícia das Ciências.
Eis o “Milagre” que o Criador colocou na mão do Homem!
Nós somos também esse “milagre” em gestação. Cada um de nós.  Basta querer e agir. Apetecer-me-ia terminar com o poema que fez parte do nosso (do meu)  ideário desde os tempos da juventude, o “If”  - “Se” - escrito em 1895  por Rudyard Kipling, Nobel da Literatura, de que recorto o seguinte excerto:
…………………..
“Se puderes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço, há muito vacilante,
Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,
Só exista a Vontade a comandar “avante”…
……..Alegra-te, meu filho, Então serás um Homem”!
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17.Jun.16
Martins Júnior!

  

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