Hoje
entronizo o sol no meu acampamento. Quero-o, livre e dominador, cada hora das
vinte e quatro do alto da torre-de-menagem. Eu sei que sombras letais povoam,
como aves agoirentas, os pulmões do planeta. Eu vejo os monstros do Apocalipse
atravessar os meridianos que nos comprimem, vejo-os esmagar vítimas inocentes,
aqui, acolá, mais além.
Mas
hoje tenho de abrir as portas e janelas da minha tenda e deixar entrar toda a
luz que dança à minha porta.
Porque
hoje é o dia de respirar o verde, o Dia do Ambiente, entender a melopeia serena
do ribeiro que corre, mergulhar na água agridoce que inunda a terra e os
corpos. Imagino-me mais um entre os pássaros volitantes, mais um entre os
peixes multicolores, meus braços feitos barbatanas iguais a esse reino
oceânico, na sua nudez azul que me chega
de graça ao portal do meu terreiro. E, tal como o “Guardador de Rebanhos”, estiro-me ao longo
da relva e sinto-me irmão de todos os seres que contemplam o mesmo sol.
Porque
hoje, o 5 de Junho estende a cândida alcatifa
que as mãos e as vozes das Crianças prepararam desde o seu Dia, 1 de Junho, em defesa
das Crianças inocentes Vítimas da
Agressão que todo o mundo assinalou ontem, 4 de Junho. O protesto de ontem
quero vê-lo, hoje, mudado em palmas e
cânticos.
Porque
hoje, nesta capitania primeira, viveu-se em pleno o nascer do sol para a história desta ilha, no Mercado
Quinhentista. Mais uma vez, a escola, mais uma vez as crianças e os seus
mestres, ensinando sempre a respirar as brisas de outrora.
Porque
hoje guardo as novas vidas de jovens, homens e mulheres, que nasceram dos que há quase cinquenta anos venceram as minas
e as injustiças para que foram arremessados. Guardo comigo as emoções do
convívio de ontem, sábado, em terras continentais. O sol das plainas orientais
voltou a deitar filhos e netos em solo pátrio.
Porque
hoje, Crianças de alma pura tiveram o
seu Dia Novo da Comunhão Infantil, a Primeira, juntamente com os colegas que se lhes
associaram, realizando a Comunhão da
Adolescência, no ambiente franco e aberto do templo da sua Ribeira - Seca, de
nome, mas alagada de sol e alegria.
Deixem
entrar a luz e só ela na minha tenda, onde acampo e luto todos os dias para que
a noite se faça manhã.
Hoje
ficarei vigilante, de pé, esperando a aurora boreal que me sustenta e me
conduz!
05.Jun.16
Martins Júnior
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