Antes
que me embrenhe em temas e problemas que todos os dias nos caem diante dos
olhos – e há-os tantos nestas últimas horas – vou cumprir o acordado desde o
dia 9 .p., ou seja, mostrar o reverso da medalha no tocante àquilo a que
costumamos designar por “milagre”. Nesse texto, procurei analisar as inexploradas potencialidades do
Homem, detectando nalguns casos fenómenos abissais, merecedores daquela
designação. No cérebro e na mão dos humanos mortais está o segredo de “ver o
invisível” e, com o próprio esforço, transformar em realidades concretas o que
julgávamos antes sonhos impossíveis, milagrosos.
Mas
há o tal reverso da medalha. A par das estrondosas evidências que a ciência nos tem revelado,
subsiste em certas mentalidades e com a mesma dimensão a apetência doentia pelo
sensacional, quase até ao absurdo, enfim, a obsessão pelo “milagre”. Fabrica-se-o,
por tudo e por nada, incentiva-se-o, sobretudo em épocas de crise ou em
situações amotinadas de conflitos de interesses, alguns deles tão ridículos
quanto inimagináveis.
Longe
de mim usar esta página para ampliar as risadas que certas atitudes provocam ao
público minimamente esclarecido. Pelo contrário, como já o declarei noutras
ocasiões, respeito as fés de cada qual, seja o europeu, o asiático, o hindu, o
muçulmano ou o empoladamente agnóstico.
Mas tal reverência gratuita não me impede de verificar e frontalmente exprimir
que, na maior parte dos sedentos de milagres, o que neles está em causa é uma
demissão da fé na força energética do Universo, obra do Criador. E, daí, a
devota submissão ao culto do menor esforço.
E
porque não pretendo convencer ninguém, apenas mostrar a realidade, citarei dois
casos - frescos da hora – ridiculamente demonstrativos da irracionalidade deste
“reverso da medalha” e da ofensa feita a pessoas e coisas que se requerem sagradas.
Da
imprensa espanhola de hoje, recortei a gravura supra-transcrita. Imaginem a
legenda. Pois eu digo-vos. “Um jovem
votante na sala da sua casa em Almonte onde montou um altar à Virgem”. No corpo do texto, o repórter descreve a fé
ardente daquele eleitor em Nossa Senhora para dar vitória ao seu partido.
Deprimente, ridículo, direis. Mas existe. E com honras de 1ª página num
periódico diário de grande tiragem nacional. Escuso-me de acrescentar comentários
que quem me lê, certamente, já os fez
contra tamanha blasfémia de palmatória! Será que entre nós haverá cenas tão
desajeitadas quanto insultuosas à Fé?
Então
agarrem-se à cadeira que lá vai esta, transcrita da 1ª página, com direito a
foto (que tenho vergonha de reproduzir) num dos diários portugueses. ”Vim pagar uma promessa”. Uma senhora,
com dois netinhos a seu lado, ostentava um vistoso “círio de altura”. E acrescentava a notícia: “Vim rezar pela nossa selecção”. O título não escondia nada e
identificava: “Dona Dolores em Fátima”.
Para
cúmulo, dois dias depois, nem o melhor do mundo marcou nem a selecção ganhou aos caloiros da Islândia. Também
sem comentários. Alguém ao meu lado sorria: “O melhor será a portuguesa Nossa
Senhora de Fátima jogar contra a francesa Nossa Senhora de Lourdes”…
A
tanto chega a deturpação da Fé, o esfarrapar do “milagre”!
Para
provar que, neste capítulo das crenças, há quem não tenha a coragem de dar um
passo em frente, adiciono a surpresa que tomou conta de mim, na Senhora da
Aparecida, Brasil, em 1972, quando no salão expositor de “promessas” vi uma
enorme cruz de madeira, 5 metros de comprido, e um cartão junto: “Eu,…. carreguei aos ombros esta cruz desde…, porque a prometi
à Aparecida do Norte se o Brasil ganhasse a copa do mundo”. Nem queria acreditar no que via. E há séculos
que andamos nisto…
Ridendo castigo mores –
vem
de longe o sábio aforismo. Oxalá que o evidente sarcasmo de certas atitudes, em
Portugal, em Espanha, no Brasil, por esse mundo fora, nos areje o cérebro e o
faça caminhar à conquista da Verdade Plena!
15.Jun.16
Martins Júnior
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