“Alvíssaras!
Arraial, Arraial Por El-Rei de Portugal”.
É
o eco que irrompe das velas enfunadas dessoutra
“Nau Catrineta” que aportou a Machico e reboou por todo o extenso vale. Em
três dias, seiscentos anos perpassaram no Ancoradouro das Terras de Tristão
Vaz.
Para
quem viveu, há 38 anos, a evocação miniatural mas ambiciosa, da chegada dos
marinheiros do Senhor Infante às penedias da enseada de São Roque não pode deixar de emocionar-se com a
portentosa gesta que a Escola de Machico levou a cabo, neste XI “Mercado Quinhentista”.
Recordo com saudade esse, também memorável porque inédito, “Espectáculo de Luz
e Som” em que os cronistas da época –
Zurara, Gaspar Frutuoso, João de Barros, Damião de Góis – apareceram ditando o
relato das suas crónicas sobre o Achamento da Ilha. A representação cénica de
excertos do “Infante de Sagres”, de Jaime Cortesão, no Largo de São Roque, coroou a noite branca na baía de Machico. A obra
então publicada – “Aquele Espesso Negrume” - reproduz
um apontamento fotográfico do evento. Ainda soa aos meus ouvidos a “voz” de
Zargo ao gritar a palavra de ordem “Oh São Lourenço, chega”! Era a nau que
temia aproximar-se da ponta que “mais tarde tomou o seu nome”.
Os
organizadores do “Mercado Quinhentista” desculpar-me-ão este retorno a um passado recente, mas saibam,
por isso, quanto louvo e enalteço a iniciativa actual, pelo que contém de
beleza, de verdade histórica, de pedagogia ao vivo, enfim, da mais ampla
integração geracional. É, sem sombra de dúvida, o maior ex-libris de uma cidade
que abarca cultura, nobreza e povo, senhores e oficiais dos mesteres, a terra e
o mar, numa palavra a aventura da ciência, aliada à força braçal do homem.
Ao
contemplar o magnífico desfile, primoroso e abrangente, transpu-lo para os dias
de hoje e, com mais acuidade, incutiu no meu consciente uma clara convicção
adaptada ao dilema que domina todo o país. E concluí: Só uma Escola Pública
seria capaz de levar a bom termo tamanha iniciativa. Precisamente porque é Pública,
ela torna-se igualitária, aberta, interclassista e universalista, aglutinadora
de gerações e dos vários contextos civilizacionais da população circundante. Duvido
se uma escola privada, de índole elitista e naturalmente selecctiva, teria
vocação para abarcar o vasto mundo integrativo, não só do concelho de Machico,
mas de outros cenários mais distantes, entre os quais Portugal Continental e o
Arquipélago dos Açores, convidados presentes na gloriosa efeméride.
As
maiores congratulações para professores e alunos, grupos e associações locais.
E se algum desejo me for permitido exibir, seja este apenas: Que nunca o “Mercado
Quinhentista” saia da vossa mão. Quero dizer, que seja sempre o filão sócio-cultural
nascido da sua fonte originária – a Escola.
Quem quiser que venha. Mas venha por bem, para associar-se e ajudar, nunca para
oficializar, regionalizar ou municipalizar.
Sob pena de perder a sua força anímica, a seiva telúrica que lhe deu o ser.
Bem
hajam!
07.Jun.16
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário