Elegia e
protesto perante as dramáticas assimetrias em que nascem, vivem e morrem as crianças deste
planeta
O carrossel andante baloiça
Por entre os jardins suspensos desta
Babilónia
Sem que ninguém o sinta e oiça
Deitar dez berços de oiro no alto éden
Cem alcovas de seda no pomar de sumaúma
Mil estrelas cadentes e nenhuma
Que chegue acesa até amanhã
Milhões de pupilas negras no canteiro
Onde não medra o lírio nem cresce o
medronheiro
O carrossel dinossauro sem coração
Abre o porão
E caem braços infantis
De armas na mão
Escravos gerados no ventre do próprio
país
Estranhos jardins suspensos
Do tecto que habitamos
Onde risos de cerejas pendem dos ramos
E gemidos de sufoco rastejam o chão
Que Babilónia é esta
Que fizemos
Natal sem festa
Barco sem remos
Num mediterrâneo sem porto
Menino de ouro nado-morto
Quando virá o dia novo apolíneo
Em que os tenros braços da Criança
Um dia será - quem almeja sempre
alcança
Façam baixar à terra os andaimes
sobrepostos
Desta Babilónia disforme
Monstro anémico que procria e dorme
Um dia virá
E o que é suspenso e desigual
Será plano
E todo o ano
Será Dia da Criança
Dia todo de Natal
1.Jun.16 – Dia da Criança
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário