Cá
vou eu, de malas aviadas, correndo asinha,
ansioso por chegar a Paris. Confesso que não estava nos meus
planos. Mas o coercivo acelerador das telefonias, dos telefones, televisões, telejornais e
tele-multidões, enfim, o vendaval da pressão pública e publicada arrastou-me. E
lá vou eu, olhando o grande teatro do estádio de França, onde nos querem
convencer do futuro de Portugal. Na Torre Eiffel começa o grande cordão verde-rubro
que abraça Versailles, Les Champs Elysées
e avança desabrido pelos vastos continentes onde vive um português. Digamos que
o cordão ibérico amarra todo o planeta. E um potente e tracejado trissílabo, “POR-TU-GAL”,
faz tremer o universo.
Quem
ousará negar o assombro que nos traz o futebol, mais precisamente a Euro copa? Não há quem lhe resista ou lhe seja sequer indiferente. Em Portugal e no estrangeiro. Vejo
uma enorme página do super-gaulês Le
Monde, .dedicada à nossa selecção e
onde se classifica o capitão como “Le sauveur du Portugal” (o salvador da
pátria portuguesa), enquanto “nuestro hermano” El País põe-lhe água na fervura e diz que “há mais ruído que
futebol… e que França já se bateu com um campeão, Portugal ainda não se bateu com nenhum”. Dos
jornais portugueses, é “A BOLA” que vai à frente quando, sobre Ronaldo, escreve
assim “UM DEUS PORTUGUÊS”. E os protagonistas do estádio não fazem por menos.
Foi impressionante ouvir Quaresma, após marcar o penalty: “Ao avançar para a
bola, senti Portugal todo aos ombros”. Talvez fosse anatomicamente mais “científico”
se dissesse que sentiu o pais inteiro nos pés.
Há
quem veja em tudo isto um testemunho eloquente de patriotismo, de genuína
portugalidade arvorada em todo o mundo. Entretanto, um espectador do programa
televisivo questionava: “Será que se Portugal ganhar o Euro Futebol, a Comissão Europeia ou o Ecofin dispensar-nos-ão das sanções com que nos
ameaçam a todas as horas?”. Ironia subtil esta pergunta, que nos remete para outra maior: Será este o patriotismo que faz falta
a Portugal? Não estaremos perante um momentâneo pico de alienação colectiva, o
qual, 24 horas volvidas, obrigar-nos-á à mesma lassidão, à mesma modorra de
sempre, sem força para reagir aos abusos do poderio do Banco Central Europeu, do FMI, dos
salteadores bancários?”...
É
belo, belíssimo ver os estádios, as praças, as esplanadas, as avenidas regurgitarem
de gente alvoroçada. E, sem querer esfriar o entusiasmo das multidões,
perguntaria: Teríamos o mesmo ânimo em massa para protestar contra os monstros
dos offshores, do desemprego, da
doença, da incultura?
Relevemos,
no entanto, a coesão uníssona dos portugueses no aplauso aos valentes
guerreiros do rectângulo. Não há divisões, nem Benfiquistas, nem Portistas, nem
Sportinguistas. Isso fica para depois de amanhã. Agora, o lema é: “Um por todos
e todos por um”! Isto também é patriotismo. Mas já não é patriotismo, senão
paranóia pegada, ouvir as ondas sonoras em cachão, “esclarecendo” e arrastando
o público na rádio e TV: “Qual Cabo
Bojador, qual Batalha de Aljubarrota, qual Revolução dos Cravos, em comparação
com o Portugal-França?”… Ridicule,
mais charmant, sublinhe-se. A prova por excesso vale tanto como a prova por
defeito, ditado antigo.
Moral
desta historiazinha inofensiva: Que a
transição dos empates iniciais da nossa Selecção para as vitórias finais sirva para alcançarmos
ganhos efectivos no grande estádio onde em cada dia se defronta Portugal na
Europa e no Mundo!
Com este desejo, vou-me deixar ficar por cá, à espera que Paris passe à minha porta...
09.Jul.16
Martins
Júnior
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