Que
resposta mais absurda para uma pergunta tão pertinente!
Qual
o professor e de qual colégio seria capaz de chegar agora ao fim do ano lectivo
e desfechar tamanho murro em cima de um aluno ou de uma aluno, pelo único crime
de terem sido reconhecidos, na opinião do próprio mestre, como exemplares
perfeitos durante o ano inteiro? Esse
não era um colégio: era um manicómio.
E,
no entanto, ele existe. Junto de nós. Aliás, todos nós andamos nesse colégio. Matricularam-nos,
sem o nosso inteiro consentimento, nesse internato de lunáticos.
Vou
ser breve na decifração desta charada pegada, porque não se fala de outra coisa
nos jornais, no audiovisual, nas redes sociais. Outros analistas, tecnicamente competentes e seguros, têm apontado para a
injustiça de que Portugal está a ser vítima. Faço-o conscientemente, para ser mais um a solidarizar-se com a causa
e para traduzir numa linguagem mais empírica e acessível a incongruência desse absurdo.
Refiro-me
a essa espada de Dâmocles com que do terraço mais alto de Bruxelas os agiotas
sem lei ameaçam os portugueses. É a ameaça das sanções que a Comissão
Europeia descarrega contra nós e contra este
governo porque o governo anterior excedeu, em duas décimas, a quota do deficit
orçamental.
A
nossa contra-argumentação já foi largamente expendida pelos governantes e pelos
observadores. Afinal, quem mais do que o governo anterior, às ordens da Troika,
sorveu até ao tutano o sangue, o suor e as lágrimas de Portugal?... Quem é que
mandou um vice-Primeiro Ministro bradar até à exaustão que só faltava uns dias
para nos vermos livres da Troika?... E que, após a saída dela, tudo correria na
mais pacífica normalidade?... Afinal, repito (e assim esclareço o título) quem chamou à
nossa ministra das Finanças “uma boa
aluna, uma aluna exemplar”? Quem? O Mestre da “economia que mata”, o sr.
Schauble , o todo-poderoso ministro germânico da guerra-fria financeira!... E é
agora, ele mesmo, assessorado pelos seus pares europeus, que vem desfechar um
murro cego e surdo em cima da “aluna perfeita”. Nela não. Em todos os
portugueses de hoje e de amanhã! Não há critérios de equidade, de mínima justiça, nesse tentacular colégio europeu.
Sempre
me apercebi de que o polvo de Bruxelas traz-nos no bojo como uma mãe
desnaturada sente prazer em amarrar no ventre um nado-morto ou um hipotético
nascituro, sempre moribundo e mal formado , sem esperança de ver-se livre e
saudável, respirando a luz do dia. Dizem
que nos ajudam, mas com uma cláusula imperativa: a de ficarmos sempre na
maldita condição de pedintes devedores.
O queixume que sentimos transforma-se em grito
de revolta. Não terá este Povo o direito
de “tomar uma refeição quente”, como recompensa de quatro longos anos de gélida
ementa “a pão e água”?... Está visto que
os talhantes de carne humana, espojados no divã do capital sem rosto, não nos
querem ver em paz dentro da nossa própria casa, dando as mãos, separadas que
estavam há quarenta anos. Preferiam um parlamento irremediavelmente dividido,
para reinarem a seu indomável instinto.
Que
desorganizada União é esta, traidora dos ideais de Monnet, Shuman e Adenauer, os pais fundadores do nobre projecto europeu!
De que servem cimeiras, tratados, Livro Verde e Livro Branco, convénios, turbilhões de fortunas, arrancadas
ao Povo, para envernizar palácios, faustosos
hemiciclos, viagens intercontinentais, “voos cegos a nada”?... Rasguem
esse campanudo rolo de papel que dá pelo
pomposo nome de “Estratégia Europa 20/20”, onde (cinicamente, digo eu) se apregoa o
tríplice “Crescimento: inteligente, sustentável,
inclusivo”. Que inteligência, que
sustentabilidade e que inclusão, quando comprometem legítimas expectativas, destroem a economia e o nosso prestígio
perante os investidores?!
Uma
situação explosiva esta, que nos leva a uma dupla tentação. A primeira, a
saída, na esteira do Brexit. A segunda, positiva e militante: participar nas
Eleições Europeias, aquelas em que a abstenção costuma ser rainha. Agora é que
vemos a força decisória da nossa atitude. Que saibam os avaros funcionários do
capitalismo sediados em Bruxelas e
saibam-no os juízes metalizados do
Ecofin: Em Portugal há um Povo firme,
vigilante, participativo!
13.Jul.16
Martins Júnior
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